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A Arte de Contar Histórias



A Arte de Contar Histórias
“Os livros não são capazes de mudar o mundo,  quem muda o mundo são as pessoas,  os livros só mudam pessoas”.  (Mário Quintana)

A literatura infantil divide-se em dois momentos: a escrita e a lendária. A lendária nasceu da necessidade que tinham as mães de se comunicar com seus filhos, de contar coisas que os rodeavam, sendo estas apenas contadas, não sendo registradas por escrito. Os primeiros livros infantis surgiram no século XVI. O início da literatura infantil pode ser marcado com Perrault, entre os anos de 1628 e 1703, com os livros "Mãe Gansa", "O Barba Azul", "Cinderela", "A Gata Borralheira", "O Gato de Botas" e outros. Depois disso, apareceram os seguintes escritores: Andersen, Collodi, Irmãos Grimm, Lewis Carrol, Bush. No Brasil, a literatura infantil pode ser marcada com o livro de Andersen "O Patinho Feio", no século XX. Após surgiu Monteiro Lobato, com seu primeiro livro "Narizinho Arrebitado" e, mais adiante, muitos outros que até hoje cativam milhares de crianças, despertando o gosto e o prazer de ler. Ao trazer a literatura infantil para a sala de aula, o professor estabelece uma relação dialógica com o aluno, o livro, sua cultura e a própria realidade. Além de contar ou ler a história, ele cria condições em que a criança trabalhe com a história a partir de seu ponto de vista, trocando opiniões sobre ela, assumindo posições frente aos fatos narrados, defendendo atitudes e personagens, criando novas situações através das quais as próprias crianças vão construindo uma nova história. Uma história que retratará alguma vivência da criança, ou seja, sua própria história. De acordo com Abramovich (1995, p.17), ler histórias para crianças, sempre, sempre ... É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a idéia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento ... É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras idéias para solucionar questões (como as personagens fizeram ...). É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos - dum jeito ou de outro - através dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada história (cada uma a seu modo) ... É a cada vez ir se identificando com outra personagem (cada qual no momento que corresponde àquele que está sendo vivido pela criança) ... e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a resolução delas ...
Portanto, a conquista do pequeno leitor se dá através da relação prazerosa com o livro infantil, onde sonho, fantasia e imaginação se misturam numa realidade única, e o levam a vivenciar as emoções em parceria com os personagens da história, introduzindo assim situações da realidade. É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve - com toda a amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar ... Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário! (Abramovich, 1995, p. 17).
Contar histórias é um meio muito eficiente de transmitir uma ideia, de levar novos conhecimentos e ensinamentos. É um meio de resgatar a memória. Todo bom contador de histórias deve ser também um bom ouvinte de si mesmo, do mundo e de outras pessoas. O contador deve ser sensível para ouvir e falar. Contar simplesmente porque gosta de contar.
O narrador deve estar ciente de que o importante é a história.
As crianças gostam de ouvir seus avôs, pais, etc. contando histórias bíblicas, de fadas, da vida deles mesmos e de quando eram crianças. É preciso fazer uma seleção do que contar, levando-se em conta o interesse do ouvinte, a sua faixa etária e a lição que quer trazer ao ouvinte. Alguns pontos precisam ser considerados em cada faixa etária:
3 a 4 anos  idade do fascínio: Os textos devem ser curtos e atraentes, pode-se usar gravuras de preferência grandes. Histórias que tenham bichos, brinquedos e objetos e usem expressões repetitivas.
5 a 6 anos – idade realista: Histórias da vida real, falando do lar etc. Os textos devem ser curtos e ter muita ação, o enredo deve ser simples. Até os 6 anos a criança gosta de ouvir a mesma história várias vezes.
7 a 9 anos – idade fantástica: Gosta de histórias de personagens que
possuem poder, histórias de aventuras, humorísticas e vinculadas à realidade.
10 a 12 anos – idade heróica: Narrativas de viagens, explorações, relatos históricos e preocupação com os outros e fábulas.
Como trabalhar uma história?
Selecionar – Procurar dentro daquilo que se quer ensinar ou de acordo com o contexto da aula que será dada; pesquisar até encontrar algo que toque o contador de maneira especial. Se for uma história que já veio no material, leia várias vezes buscando encontrar nela algo especial que toque o contador, porque é só assim que ela será transmitida autenticamente ao público.
Recriar - Caso seja recontada oralmente, não se deve pegar uma história e contá-la como vem escrita, é preciso passá-la para a linguagem oral. Saiba contar a história e não apenas decorá-la
Ensaiar- Não se deve repetir nem exagerar nos gestos e movimentos. A voz deve ser aquecida para garantir um tom adequado; O olhar deve ser dirigido para todos os lados e para todos os ouvintes; Evitar os vícios de linguagem, tais como: aí, então, né, daí e outros.
Estrutura – deve seguir estas 4 fases:
1.      Introdução - Deve ser rápida, interessante apresentando os personagens sem divagação. Ex: há muito tempo, era uma vez…
2.Desenvolvimento - São contados os fatos essenciais com bastante ação.
3. Clímax - ponto de maior emoção da história.
4. Conclusão ou Desfecho - Aqui você deve ter maior atenção, pois na conclusão é que transmitimos a lição, o ensinamento para quem ouve.
Fatores que podem Interferir na Contação
Ambiente - A preparação do ambiente é muito importante. O contador deve se prevenir contra ruídos e interrupções, encontrar uma posição agradável.
Improvisação - Caso o contador improvise uma história, ele poderá não se sair bem.
Elementos necessários para se contar uma história
Emoção – O contador deve gostar do que faz e do que vai contar; deve antes navegar na história para depois transmiti-la.
Expressão – é muito importante, o olhar deve transmitir o que está sendo falado, daí a importância de olhar para todos os ouvintes. Você pode se expressar durante a história com música, barulhos de objetos, com o corpo, tudo que deixe a história mais atrativa, mas sem exageros.
Voz – é um elemento dramático e essencial; é o instrumento de trabalho do contador. Por isso deve observar o seguinte:
1. Altura – muito bem calculada para caracterizar os personagens.
2. Volume – é a variação entre forte e fraco, mostrando as emoções dos personagens.
3. Ritmo – é a variação de velocidade.
4. Pausa – é o silêncio no meio da fala, para dar o clima de suspense.
Como envolver as crianças no relato
      Repetir frases;
      Emitir sons referentes a história (vento, bater à porta, etc.).
      Suscitar antecipações, perguntando: O que é que acham que vai acontecer a seguir?
      Sugirir  o reconto em grupo, sobretudo com os alunos mais velhos.
Dicas para um Contador de Histórias
Escolha do repertório - Pesquise, estude, encontre uma história que te encante , pois torna-se mais prazeroso na hora de recriar a história. O trabalho de pesquisa é o que toma mais tempo e dedicação do contador de histórias. É preciso atentar para a qualidade dos textos, das imagens, o gosto pessoal, o do público, e o espaço...
Seleção de gestos e vozes - Esta seleção não pode ser deixada para o momento de contar, temos que ensaiar com antecedência os gestos, movimentos e vozes que vamos usar. Se podemos fazer muitas vozes, muito bem, mas é preferível contar com uma só voz para todos os personagens do que confundir as vozes.
Naturalidade - A falta de espontaneidade e naturalidade diminui o efeito realista e sincero do conto. É preciso passar tranquilidade.
O olhar - É fundamental olhar nos olhos das pessoas, como se estivesse contando para aquele ouvinte: o olhar estabelece a comunicação instantaneamente. Os olhos podem expressar mais que palavras.
Os recursos - O contador de histórias também vai se descobrindo dentro do enredo e como condutor dessa viagem, deve surpreender os ouvintes com a utilização de alguns recursos. 
Fala, vestimentas, livros, fantoches, dedoches,  músicas, instrumentos, álbum seriado, caixa de histórias, teatro de sombras.
Linguagem - Não fuja das palavras consideradas difíceis do vocabulário, as crianças precisam ampliar seu repertório de palavras, absorver novos significados. Dentro do contexto, a palavra toma forma conhecida.
A conclusão - Nem sempre as histórias necessitam ter caráter pedagógico com ensinamentos morais, éticos, sociais, explícitos no final.
Também não é recomendável que o contador induza ou explique a conclusão ou a moral dessa história. O entendimento, a interpretação, é individual. Gostoso também é poder sonhar e se divertir com as histórias sem o comprometimento.
A marca - Para fechar com "chave de ouro" esse momento mágico, o contador pode se transformar num ser mágico, num artista, num cantor, num ENCANTADOR, promovendo oficinas, brincadeiras... algo que ilustre a história e marque sua passagem na memória de seus ouvintes para sempre.
O Valor Educacional das Histórias
Raciocínio  - Imaginação  - Senso crítico  - Disciplina  - Criatividade - Caráter

Referências Bibliográficas
BRIGIDO, Saskia – Pedagogia do Encanto: Os contos de fadas como instrumento de facilitação das aprendizagens. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2008.
SERRA, Elizabeth D’Engelo – Ética, estética e afeto na literatura para crianças e  jovens – Editora global, 1994.
ABRAMOVICH, Fanny – Literatura Infantil: Gostosuras e bobices.  São Paulo. Scipione, 1997.
DOHME, Vania D’Angelo – Técnicas de contar histórias: Um guia para desenvolver as suas habilidades e obter sucesso na apresentação de uma história. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
DOHME, Vania D’Angelo – Técnicas de contar histórias 2: Um guia para adultos usarem as histórias como um meio de comunicação e transmissão de valores. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

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