A formiguinha e a neve

Era uma vez uma formiguinha que gostava muito de fofoca, gostava muito de conversar. No tempo frio, no tempo de geada, — e toda formiga também gosta muito de carregar, gosta muito de roubar, não é? — ela ia no moinho roubar fubá. Quando ela já vinha embora, já com frio, a geada prendeu o pezinho dela com o bolinho de fubá dela na cabeça.

  O sol veio, derreteu a geada, ela foi em casa, guardou o fubazinho dela e em vez de mexer o anguzinho dela, não, foi tirar pergunta.
 
Foi na casa do sol:

— Ô sol, você é tão forte que você derreteu a geada que estava presa no meu pezinho!

  O sol respondeu pra ela:

— Eu sou tão forte que a nuvem me tapa!

Ela foi na casa da nuvem:

— Ô nuvem, como você é tão forte que você tapa o sol e o sol derreteu a geada que prendeu o meu pezinho?

Aí a nuvem falou:

— Eu sou tão forte que o vento me toca.

Ela foi na casa do vento:

— Ô vento, como você é tão forte que sopra a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava prendendo o meu pezinho?

Aí o vento falou:

— Eu sou tão forte que a casa me tapa.

Ela foi na casa:

— Ô casa, como você é tão forte que você tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava prendendo o meu pezinho?

  A casa falou:

— Eu sou tão forte que o rato me fura.

Ela foi na casa do rato:

— Ô rato, como você é tão forte que você fura a casa, a casa tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava presa no meu pezinho?

  O rato falou:

— Eu sou tão forte que o cachorro me pega.

Ela foi na casa do cachorro:

— Ô cachorro, como você é tão forte que você pega o rato, o rato fura a parede, a parede tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava presa no meu pezinho?

  O cachorro falou:

— Eu sou tão forte que a onça me pega.

Ela foi na casa da onça:

— Ô onça, como você é tão forte que você pega o cachorro, o cachorro pega o gato, o gato pega o rato, o rato fura a parede, a parede tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava presa no meu pezinho?

Ela disse:

— Eu sou tão forte que o caçador me mata.

Ela começou a ficar brava:

— Ô caçador, como você é tão forte que você pega a onça, a onça pega o cachorro, o cachorro pega o gato, o gato pega o rato, o rato fura a parede, a parede tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol, o sol derreteu a geada que estava presa no meu pezinho?

  O caçador falou:

— Eu sou tão forte que a morte me mata.

Ela falou para a morte:

— Ô morte!!!!!!!!!!! (gritando já), como você é tão forte que você mata o caçador, o caçador mata a onça, a onça pega o cachorro, o cachorro pega o gato, o gato pega o rato, o rato fura a parede, a parede tapa o vento, o vento toca a nuvem, a nuvem tapa o sol e o sol derreteu a geada que estava presa no meu pezinho?

  A morte respondeu:

— Eu sou tão forte que te mato.

Plat! Passou o pé nela, matou ela e pronto.

Ela não comeu o anguzinho dela, não é? Ficou só tirando pergunta. Se ela fosse comer o anguzinho dela, quietinha, ela tinha enchido a barriga dela e não tinha morrido.

(Conto acumulativo)