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O casamento da Cuca







A grande fofoca lá na mata
Era a encucação da Cuca,
Que para casar andava maluca.
Não tirava isso do pensamento,
Mas o seu par, o Tutu Marambá,
Nunca falava em casamento.

Noivos há duzentos anos,
A Cuca vivia fazendo planos.
Tinha até enxoval completo,
Com as iniciais do seu predileto.
Mas sempre o Tutu Marambá
Pulava fora na hora H.

Ele dizia que para casar
Primeiro precisava arrumar
Um emprego mais maneiro,
Pois um Tutu Marambá
Vive só de assustar
E isso nunca deu dinheiro.

A fofoca corria solta,
Passava de boca em boca,
Da paca para o tatu,
Do tatu para a cotia:
A Cuca decerto acabaria
Ficando para titia.

Cansada do disse-me-disse
A Cuca decidiu se casar
Sem que o Tutu Marambá
A sua mão pedisse.
Mandou convite pra toda mata
Marcando o local e a data.

Deixou claro no convite
Que a festa seria chique:
"Por favor, só traje a rigor".
Todo mundo caprichou
E a festa do casamento
Foi realmente um primor.

Tão elegante o Curupira
De sapatos de verniz
E terno de casimira!
Só perdia para a Iara
Que prendeu os cabelos
Com uma linda tiara.

O boi-da-cara-preta
Resolveu tirar da gaveta
Seu capote de gola.
Já a mula-sem-cabeça
Preferiu vestir um fraque,
Mas não pôde pôr cartola.

Usando véu e grinalda,
A Cuca estava no céu
Em seu vestido de cauda.
Sorria fazendo escarcéu,
Posando para as fotos
Com sua bocona pintada.

Seria o fim do falatório
Se um fato não pusesse
Em risco o belo casório.
Os noivos lá no altar,
E vejam o ocorrido:
As alianças tinham sumido!

A Cuca se pôs a gritar,
Fez tanto e tal alarido,
Que o povo chegou a pensar
Que o noivo tinha fugido:
"Coitadinha da Cuca,
Já ficou sem o marido!"

Mas o padrinho sagui,
Que tinha jeito pra Sherlock,
Suspeitou de traquinagem
E foi logo dando um toque:
"Isso é coisa do Saci,
que adora molecagem."

Tudo deu certo no fim,
Como no velho ditado.
A Cuca agora está feliz
E o Marambá apaixonado.
Ele só não perdeu a mania
De andar pelo telhado.


Claudio Fragata

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