Zé Minguá era um lavrador pobre de doer, mas honesto de fazer gosto.
Diziam até que ele era pobre porque era honesto. Trabalhava de sol a sol,
como um burro, e nada tinha de seu.
Quem mandava e desmandava naquelas bandas era o Coronel Praxedes, dono
de um mundão de terras. Homem rico, ruim e desonesto que ele só. Diziam até
que ele era rico porque era ruim e desonesto.
O pobre do Zé Minguá, procurando melhorar só um tiquinho de vida, foi
ao Coronel Praxedes pedir uma terrinha para trabalhar e dali poder tirar um
sustento melhorzinho para a família Minguá, já minguada a mais não poder.
– Está feito, Zé Minguá – concordou o Coronel Praxedes, com o olhinho
brilhando com o pensamento de mais lucros fáceis nas costas dos esforços dos
outros. – Vou lhe arranjar um bom lugar pra plantar...
Acontece que, entre tantas propriedades, o Coronel tinha também umas
terras péssimas, onde nem mato crescia. Com o trabalho do Zé Minguá, a
propriedade poderia ficar fértil e, depois, era só botar o Zé pra fora.
Zé Minguá atirou-se com entusiasmo ao trabalho. Arou, destocou,
cavoucou a terra e, aos poucos, aquilo tudo ficou uma fazenda de dar inveja
em quem passasse.
Um dia, o lavrador estava abrindo uma cova, quando encontrou um velho
baú cheio de moedas de ouro do tempo do Império! Uma fortuna capaz de tirar
os dois pés de qualquer um da lama.
Mas, e a honestidade do Zé Minguá? Era a sua perdição! Pois foi falar
da descoberta para o Coronel Praxedes, convencido de que, se aquele ouro
estava nas terras do
Coronel, ao Coronel pertencia.
– Um baú de ouro na minha propriedade? – assombrou-se o Coronel. – Ah,
onde tem um, deve ter muitos! Nesse caso, nosso negócio está desfeito, Zé
Minguá. Aquela terra volta para as minhas mãos!
Despachou o Zé Minguá, montou seu melhor cavalo e galopou para ver o tesouro.
Mas vai ver que aquelas moedas de ouro eram do tempo do Império das
Fadas, pois o baú era encantado. Só se enchia de moedas de ouro para os bons
e honestos.
Quando o Coronel chegou e abriu o baú, lá de dentro o que saiu foi um
enxame de vespas!
Daquelas pretas, de ferroada doída!
– Isso é troça do desgraçado do Zé Minguá! – praguejou o Coronel. –
Pois ele vai ver só o que é meter-se com o Coronel Praxedes!
Enfiou o baú num saco e galopou para a casinha do Zé Minguá. Lá
chegando, gritou para dentro:
– Vim agradecer o ouro, compadre Zé. Trouxe um presentão pra você e
pra sua família. Feche a porta e deixe aberta só uma frestinha da janela para
receber o que eu trouxe...
Muito humilde, o Zé fez o que lhe era mandado. Mais que depressa, o
Coronel sacudiu pela janela o saco com o baú e com as vespas.
– Aí está, Zé! O baú que você achou nas minhas terras. Não foi você
que encontrou?
Pois tem todo o direito de ficar com ele. Ah, ah, ah!
Mas eu não disse que o baú tinha parte com as fadas? Pois logo que o
baú entrou pela janela da casinha do Zé Minguá, as vespas viraram novamente
moedas de ouro, e foi uma chuva dourada que se espalhou pela humilde salinha
daquela casa!
O Coronel, lá de fora, ouviu o tilintar das moedas, não ouviu nenhum
zumbido nem os gritos de dor das ferroadas com os quais esperava regalar sua
maldade. Ficou aflito e pediu:
– Compadre Zé Minguá, por favor abra a porta só um tantinho. Quero ver
uma coisa...
Vai ver que as fadas resolveram também, naquela hora, dar mais um
presente para o Zé: ele ficou um pouquinho menos trouxa, entendeu tudo o que
estava acontecendo e gritou para fora:
– Não entre não, Coronel! Isso aqui está um inferno de vespas! Ai, ai,
ai! Fuja daqui enquanto pode!
O Zé, a mulher e os filhos puseram-se a gritar, como se estivessem
sendo ferroados por todas as vespas do mundo, enquanto riam e pulavam de
alegria com aquela riqueza toda!
Bem feito para o Coronel, não é?
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