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A FLORESTA DE CHOCOLATE







- Vovó, isto que você está fazendo é o meu bolo de chocolate? – perguntou o menino de cinco anos, que entrou correndo na cozinha.
- É, meu querido! Seu gostoso bolo de chocolate. – respondeu a senhora.
- Você me deixa lamber a tigela? – perguntou ele já sentido a água crescer em sua boca.
- Só se não sujar a cara nem a roupa porque sua mãe fica brava comigo. – respondeu a vovó colocando o bolo no forno. Entregou a tigela para o menino, sentou-se em frente dele e disse:
- Enquanto você lambe o resto de massa de bolo, que ficou na tigela, eu vou contar a história da floresta de chocolate.
- Que legal! Oba! Existe floresta de chocolate, vovó?
- Não. Só nesta história que vou lhe contar. – e a vovó começou a sua narrativa.
- Num tempo que já vai longe demais, havia um reino governado por um rei muito triste. O seu palácio era pintado com tinta cinza, o manto real era de seda cinza, o céu, que ficava acima do palácio real, era coberto de nuvens cinzentas. O rei tinha fechado o seu reino e o seu coração para a alegria não entrar. Ele não deixava as crianças brincarem. Elas não podiam cantar, nem dançar, nem correr, tinham de ficar caladas andando nas pontas dos pés para não incomodar o rei.
O rei proibiu que fabricassem doces, balas, bolos e todas as guloseimas que as crianças adoram. Ele dizia que as crianças fazem algazarra quando comem doces e ele não suportava isso. Ficava na janela do palácio, horas e horas, olhando as crianças sentadas no chão da praça conversando bem baixinho para não perturbar o seu sossego.  Depois se recolhia no quarto real com os olhos vermelhos como se tivesse chorado.
  Era neste reino que morava a menina Lisandra com sua cadelinha Lilica. Toda manhã a menina levava a cadelinha para passear pelas ruas do reino e quando estavam chegando perto do castelo do rei, ela dizia:
- Lilica, não pode latir correndo atrás dos passarinhos, ouviu!
A cadelinha balançava a cabeça, dando sinal de que entendera a recomendação. Que lugar silencioso! Parecia um imenso deserto. Um dia, já cansada disso, Lisandra foi conversar com a fada Lilás que era sua amiga. Ela queria saber o motivo da tristeza do rei. A fada Lilás contou a história. O rei estava casado há muito tempo e não tinha filhos. O seu sonho era ter seus filhos correndo pelo castelo, muita risada, muita brincadeira, mas esta alegria a vida não lhe deu, e, assim sendo, ele resolveu decretar a lei do silêncio para as crianças. Então era isto.
Foi de Lisandra a ideia. Já que não podiam brincar no reino que tal brincar em outro lugar bem longe.  De repente as crianças desapareceram. Durante as manhãs e as tardes de verão não se via mais elas andando silenciosamente pelas ruas. O rei ficou intrigado. Chamou seu primeiro-ministro e perguntou:
- Onde estão as crianças?
- Majestade, ninguém sabe. Elas, simplesmente, sumiram. – respondeu o primeiro-ministro temeroso, pensando nos seus cinco filhos que também sumiam e voltavam só a noitinha, sérios e compenetrados, sem dizer onde estiveram.
- Então mande apurar. Eu quero saber o que está acontecendo. – ordenou o rei.
E assim foi feito. O primeiro-ministro foi à presença do rei com a resposta:
- Majestade, as crianças, todas incluindo os meus filhos, depois das aulas e de cumpridas as tarefas, elas vão, sorrateiras, para a floresta.
O rei ouviu calado. Levantou-se do trono, e disse ao primeiro-ministro:
- Amanhã eu quero ir até a floresta. Preciso ver o que está acontecendo.
Assim foi feito. Quando o rei chegou ficou admirado. Dentro da floresta verdadeira havia uma outra toda de chocolate. As árvores, as frutas, as flores, os pássaros, os bichos, os rios, córregos e riachos, tudo era de chocolate. As pedras eram feitas de torrão de açúcar mascavo com gotas de chocolate, assim como os morros e as montanhas.  Foi a fada Lilás quem fez a mágica. O rei ficou parado vendo a alegria das crianças. Elas corriam, riam alto e comiam os frutos de chocolate. Para beber era só se agachar, e com um canudinho, sugar o chocolate quentinho do rio. Depois foram brincar de roda. Cantaram uma canção que fez cair lágrimas dos olhos do rei.
“Onde eu moro tem um rei
Que impôs a solidão
Proibindo as brincadeiras
Ele é um bicho-papão.”

Neste momento elas ouviram uma voz forte, era o primeiro-ministro:
- Sua majestade, o Rei. – e bateu com a ponta do bastão furando o chão de chocolate da floresta. As crianças ficaram em silêncio. O rei se aproximou, ainda tinha uma lágrima no canto do olho, e disse:
- Continuem, continuem... é muito bonita a canção.
Lisandra, com todo o respeito, chegou perto do rei e com o seu lencinho de seda na mão pediu:
- Senhor rei, posso secar esta lágrima que está no canto do seu olho?
- Pode sim, menina.
E Lisandra secou a lágrima real. Depois, tomando o rei pela mão, o levou para conhecer a floresta de chocolate. O rei subiu e desceu morros, bebeu chocolate do rio, subiu na goiabeira e saboreou uma gostosa goiaba de chocolate branco. Correu atrás de uma borboleta de jujuba com os olhinhos de chocolate. Descobriu, no meio do capim açucarado, um leão de chocolate com a juba de creme de amêndoas; uma cobra listrada de chocolate marrom e branco; um coelho branquinho, de açúcar, com olhos de amendoim com cobertura de chocolate. A guarda do rei estava preocupada. Ele mudou. Já não estava triste. Pela primeira vez eles viram um sorriso no rosto do monarca. Quando cansou de tanta brincadeira, o rei pediu silêncio, ele ia falar.
- Crianças, a partir deste momento, eu devolvo a vocês o direito de brincar, sorrir e cantar muito. Quero muita alegria, quero fazer parte do mundo infantil, embora eu seja um rei um tanto velho.
As crianças bateram palmas, e fizeram uma roda em torno do rei cantando uma nova canção.

“Chegou a hora da folia
Nosso rei restaurou a alegria
Xô tristeza, vá embora,
Neste reino só felicidade mora.”

E, a partir daquele momento, o rei abriu as portas do palácio para as crianças do seu reino que lhe deram a felicidade que ele desejava.

- Sabe vovó, eu queria morar num lugar assim.
- Por quê? Não está feliz aqui com o papai, a mamãe e a vovó?
- Estou sim, era só pra comer toda a floresta de chocolate. – disse o menino rindo muito.
- Ah! Seu malandrinho. Vamos lavar esta cara toda lambuzada antes que sua mãe chegue.


Maria Hilda de Jesus Alão

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