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CARTA DE UMA FINADA.









Hernandes Pereira (1980)


    Meu véi eu arrisuvi
Mandar uma carta daqui
Antes qui tu si abufelo
Cum alguma doida aí.

  Véi, aqui quando eu alembro
Daqueles carinho teu
Precisa Deus dá um anjo
Prá dá umas massage neu.

Eu já falei cum são Pedo
Qui é o chefe dos difunto
Qué prá mandar buscar tu
Prá no céu nós morar junto.

Num vá brincar carnaval
Qui é contra Deus eterno
Mode eu num ficar no  céu
Oiando tu nos inferno.

 Num vá oiar pressas dona
Das roupa curta e istreita
Qui home é bicho danisco
Vendo o qui é bom num injeita.

Meu  véi casse um jeito e suba
Venha morar cá mais eu
Que dei minha alma a Deus
Mas meu coipo ainda é teu.

 Se de você ta nas festa
Cum essas dona sem calma
É mior ficar incasa
Resando prá minha alma.

 Quando vejo tu agarrando
Outa dona alguma vez
Dá vontade deu pular
No cangote de vocês.

 Se tu já drumiu cum  ôta
Pode ficar puraí
Qui aqui ninguém é cachorro
Pra querer subejo  aqui.

Meu bem aqui eu to doida
Qui já chegue a tua hora
Mas parece qui a morte
Num sabe adonde tu mora.

Num coma cum ôta aonde
Antes tu mais me cumeu
Nem druma cum ôta na cama
Qui tu drumia mais eu.

 Adonde eu to tudo é santo
Inté eu sou santa, será?
Mas pra você meu amor
Eu sô a merma qui eu era

 Toda noite eu ti ispero
Num sei pru que tu demora
Ou tu ta fora de tempo
Ou eu vim antes da hora.

 Eu me alembro das cumida
De nós na nossa casinha
Tu cumia toda carne,
Mas eu só era galinha

 Tu cumia carne gorda
Chega melava o bigode
Porco, piru e carneiro
Mas eu só era de bode.

 Milho, feijão e arroz
Tudo tinha em nossa roça,
Mas o queu gostava mais
Era da tua mandioca.

Lembro as festa qui nós ia
Distança de mais de légua
Teu transporte era um cavalo
Mas eu sempre era égua.

 Se tu for pescar de anzol
Nas noite de lua clara
Num leve outa muié
PRA SEGURAR TUA VARA.

 Num pricisa trazer rôpa
Nem pra eu e nem pra tu
Qui aqui ninguém si veste
Num dá fé qui anda nu.

 Se você casar cum ôta
Vai si arrepender dispois
Queu jogo um trovão daqui
INRIBA DE VOCES DOIS.

 Meu bem aquela coceira
Qui eu tinha na bochecha
Abriu de novo a ferida
Qui só o teu beijo fecha.

 Morra aí e suba pra cá
Qui nosso amor ta impaz
Mas se eu ti ver cum ôta
Se acaba o nosso cartaz
Vá si lascar nos inferno
QUI EU NUM TI QUERO MAIS.





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