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HISTÓRIA DA FORTUNA






Era uma vez um casal que tinha mais ou menos doze filhos. O homem, sem meios para sustentar a família, saía de casa de manhã para a mata e voltava à tarde, sem nada. A mulher tocava-lhe o couro com vontade, até as almas dizerem amém. O pobre homem, um dia, muito contrariado, saiu sem destino. Chegando em uma mata desconhecida, começou a gritar em voz alta, chamando dona Felicidade. Não apareceu ninguém. Chamou dona Riqueza, ninguém respondeu. Chamou dona Ventura, muito pior. Aí ele se lembrou de dona Fortuna e começou em voz mais alta:

— Oh! dona Fortuna! Dona Fortuna!

Uma voz lhe respondeu:

— O que é que você quer?

— Eu quero que a senhora venha falar comigo, pois desejo fazer-lhe um pedido.

— De repente, ele viu uma mulher em sua frente. Era dona Fortuna, que lhe perguntou o que queria.

Respondeu o pobre homem:

— Eu queria que a senhora me desse qualquer coisa para eu levar para casa, porque toda vez que eu chego em casa sem nada, recebo uma surra danada de minha mulher.

Dona Fortuna deu-lhe uma linda toalha, dizendo-lhe:

— Quando quiseres muita comida, é só dizer: "Toalha, dona Fortuna manda e ordena", e ela lhe dará todas as espécies de comeduras.

Então, muito satisfeito, agradeceu e foi-se embora. Mas, já sendo noite, ele dormiu na casa de sua sogra. Chegando lá, foi mostrando a toalha e fazendo logo uma experiência, obtendo ótimo resultado. Estando muito cansado, foi logo dormir. A velha, muito invejosa, pegou uma outra toalha, semelhante à primeira, deixando-a em lugar desta. de manhã ele acordou muito alegre. Despedindo-se da sogra foi para casa.

Chegando, tratou logo de fazer a demonstração perante a família, dizendo para a toalha: "Dona Fortuna manda e ordena". A toalha, não sabendo fazer milagre, não atendeu à sua ordem. Sendo assim, ele ficou desmoralizado perante a mulher, que imediatamente lhe deu muitas bofetadas, botando-o fora de casa. Ele, muito triste, saiu novamente à procura de dona Fortuna. Andou o dia inteiro, e nada arranjou. Já de tardezinha chegou ao mesmo lugar do dia anterior e novamente começou a gritar. Quando já estava cansado, quase rouco de gritar pelo nome de dona Fortuna, esta novamente lhe apareceu, dando-lhe desta vez uma bolsa de prata, dizendo-lhe:

— Toma cuidado para não perdê-la porque, do contrário, não te darei mais nada. Quando quiseres dinheiro, é só dizer: "Bolsa, dona Fortuna manda e ordena" e ela dar-te-á muito dinheiro.

Muito contente agradeceu à dona Fortuna e foi novamente dormir em casa da sogra. esta, quando avistou o genro, foi logo perguntando:

— O que trazes de novo, meu querido genro?

Ele, feito um bobo, foi logo mostrando a bolsa e dizendo: "Bolsa, dona Fortuna manda e ordena". E a bolsa jorrou dinheiro em profusão.

A velha ficou com os olhos grandes. Preparou imediatamente a cama do genro e mandou-o dormir. Quando ele estava dormindo, tirou-lhe a bolsa e botou outra no lugar. Ele, de manhã, acordou muito cedo, tomou café e disse para a velha:

— Desta vez eu não apanho da mulher.

E saiu correndo para a casa. Chegando, foi dizendo:

— Agora estamos ricos, trago aqui uma bolsa que é uma maravilha. Querem ver?

— Se não surtir efeito, quebro-te a cara.

— Não! Desta vez nós estamos ricos.

E tirando a bolsa do saco, foi dizendo: "Bolsa, dona Fortuna manda e ordena". Nada.

A mulher não perdeu tempo, tocou-lhe a mão no frontispício e lá vai fumaça... Neste dia ele apanhou tanto da mulher, que ficou doente. No dia seguinte, ele saiu novamente, porém sem destino. Andou o dia inteiro pela mata e nada encontrou para levar. À tardinha, foi sair no mesmo lugar dos dias anteriores. Novamente começou a gritar, chamando dona Fortuna. Oh! dona Fortuna! Dona Fortuna! Venha cá por caridade. Tenha pena de mim, dona Fortuna. Venha me socorrer pelo amor de Deus.

Dona Fortuna apareceu muito aborrecida, dizendo:

— Vou te dar o último presente. Toma este pedaço de pau. Quando tu quiseres bater em alguém, é só dizer: "Pau, dona Fortuna manda e ordena" e ele obedece, imediatamente. E não voltes mais aqui, estás ouvindo?

— Sim, senhora, eu agora sei o que vou fazer.

Despediu-se de dona Fortuna e partiu para a casa da sogra. Quando foi chegando no terreiro da casa, foi logo gritando:

— Minha sogra, agora eu trago uma grande novidade. É uma coisa de assombrar. É um sucesso. A senhora vai ficar pasmada.

— O que, meu filho? Diga logo para sua sogrinha. Diga, meu genrinho, diga.

Então ele perguntou à velha:

— Cadê a minha toalha?

— Ah! meu filho, eu não sei não. Que toalha que tu queres?

— Vamos, me dê a minha toalha antes que eu me aborreça.

E a velha, querendo tapear, começou a chorar. O genro pegou o pedaço de pau e disse: Pau, dona Fortuna manda e ordena". O pedaço de pau caiu no lombo da velha e toma pancada. A velha gritava feito uma danada.

— Acuda-me, meu filhinho, que eu te dou tua toalha e tua bolsa.

— Não! A senhora vai me pagar o novo e o velho. Bate nela, pau.

E o pau está quebrando a velha de pancada. Quando ele viu que a velha não podia mais, gritou:

— Pau, dona Fortuna manda e ordena.

A velha, toda amarrotada, imediatamente lhe entregou a toalha e a bolsa. Ele foi correndo para casa. Quando foi chegando, a mulher logo gritou:

— Se não trouxe nada, vai apanhar até a gata miar, está ouvindo, seu cara de pamonha?

Ele, calmamente, lhe disse:

— Não faças isso comigo não, minha velha.

— Vamos, o que trouxeste para casa?

— Ah! Eu trouxe aqui uma novidade para ti. É uma coisa de espantar. É uma coisa nunca vista.

— Vamos. Mostra-me logo o que é.

Então ele tirou o pedaço de pau e disse para a mulher:

— É esse pedaço de pau, tão bonitinho, que tu estás vendo.

— Então isto é coisa que se traga para casa, seu cara de mamão? Deixa eu ver este pedaço de pau, para botar no fogo.

— Toma, minha santinha.

Quando ela ia botar o pedaço de pau no fogo, ele gritou:

— Pau, dona Fortuna manda e ordena.

Fechou o tempo. A mulher gritava feito louca. Ele dava gargalhadas, quanto mais a mulher gritava, mais ele ria. Quando viu que a mulher não podia mais, disse:

— Pau, dona Fortuna manda e ordena.

E disse para a mulher:

— Fica sabendo que um dia é da caça e outro do caçador.

E continuaram a viver.

Entrou na perna do pinto, saiu na perna do pato, senhor rei mandou dizer que tu contasses quatro.


(Norte, Zé do. Brasil sertanejo. Rio de Janeiro, Artes Gráficas, 1948, p.45-48)

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