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A menina infeliz








Era uma vez uma menina que não era feliz. Seus pais viviam em constantes brigas. Brigavam por qualquer coisa.
Ariane ainda era muito pequena – tinha só quatro anos – e não compreendia porque seus pais brigavam tanto.
Ela amava seus pais, mas às vezes preferia que eles nunca estivessem juntos em casa para que não brigassem. Ela ficava amedrontada e queria sair correndo quando seus pais estavam brigando. Ah, como aquelas discussões, xingamentos e empurrões a faziam odiá-los! Mas eram seus pais e ela não sabia o que fazer.
Certo dia, Ariane não aguentou mais aquela situação e, enquanto seus pais brigavam na cozinha, saiu para a rua sem que ninguém visse.
Ficou perambulando sem destino, com os olhos cheios de lágrimas. Chorava porque não era feliz, porque amava seus pais, mas eles odiavam um ao outro.
Não sabia pra onde ir. Queria ir para algum lugar onde não pudesse ser encontrada. Então continuou andando sem rumo.
Estava anoitecendo quando saiu de casa, agora já era noite. De repente, começou a sentir muito medo da escuridão. Algumas pessoas passavam por ela e olhavam-na de uma forma estranha.
Quando passou por um homem gordo, barbudo e de roupas sujas ela ficou com mais medo ainda. Ele fez sinal para ela chamando-a e voltou em sua direção.
Ela começou a correr de medo daquele homem. Enquanto corria chorava.
Correu muito, sem a menor noção de onde estava indo; pois nunca saíra de casa sem a companhia da mãe ou do pai.
Depois de algum tempo, estava muito cansada e não tinha mais fôlego quando avistou um menino de rua pouco maior que ela. Criou coragem e foi falar com ele.
-- Onde você mora? – perguntou.
-- Por aí -- respondeu o menino.
-- Você não tem casa?
-- Não!
-- E seus pais?
-- Tão por aí!
E durante mais alguns instantes ficaram conversando. Até que finalmente ela perguntou:
-- Posso ficar com você?
-- Se você quiser!
E assim vagaram mais algum tempo pelas ruas, até que chegaram numa casa abandonada. Ali entraram para dormir.
Havia outras crianças dormindo naquele lugar sujo, cheirando a xixi; mas ninguém se importou com a presença dela. Deitou ao lado do garoto que estava com ela e pouco depois adormeceu, pois estava muito cansada.
No dia seguinte acordou cedo, com fome e saudades de casa, de seus pais e de sua cama. Mas lembrou-se também que pela primeira vez, em muito tempo, não fora atormentada pelas brigas dos pais.
Seu amigo chamava-se Joãozinho. Ele chamou-a para ir a uma padaria ali perto pedir um pedaço de pão. E assim foram...
Sentia-se triste, e a fome era grande. Queria estar em casa para tomar o gostoso café que a mãe lhe preparava todos os dias. Mas nem mesmo sabia voltar para casa. Tinha vontade de chorar, mas não queria fazer isso na frente do amigo. Por isso conteve o choro.
Chegaram à padaria e de imediato foi reconhecida por um amigo de seu pai. A notícia de seu desaparecimento já havia se espalhado por toda a cidade.
Então ela ficou sabendo que seus pais estavam desesperados à sua procura e até já tinham ido à polícia. Seu pai passara quase toda à noite rodando pelas ruas do bairro tentando encontrá-la.
Foi levado juntamente com Joãozinho para sua casa.
Ao se reencontrar com seus pais, foi uma tremenda festa. O pai a abraçou e a cobriu de beijos; a mãe chorando muito quis saber porque a filha havia fugido de casa.
-- Porque vocês estão sempre brigando – explicou a menina.
Joãozinho foi adotado pelo casal e a partir daquele dia não houve mais discussões naquela família.

Edmar Guedes Correa

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