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A Neve
A montanha era alta e se achava coberta de gelo. Lá em cima, no ponto mais alto, uma pequena ponta de pedra teimava em se manter à mostra, e nela um pequenino floco de neve que acabara de descer do céu se agarrara firmemente, apreciando dali o panorama aberto à sua frente. E quanto mais ele olhava aquela imensidão de chão estendido diante de si, à sua direita e à sua esquerda, mais pensava consigo mesmo:
- As pessoas lá embaixo devem imaginar que por estar aqui em cima, sou convencido e presunçoso. E eles têm razão quando supõem que eu seja desse jeito, porque como posso permanecer onde estou sem sentir vergonha desse privilégio de parecer um rei, com o restante da neve abaixo de mim, me admirando nessas alturas. Mal sabe esse povo que o Sol, se quiser, pode me derreter com um simples olhar, como fez com muitos de meus companheiros que aqui chegaram sem saber das coisas, e eu não quero que o mesmo aconteça comigo. Pensando bem, acho que se eu descer para um nível mais seguro conseguirei escapar do calor solar, porque estarei mais distante de sua fonte.
Dizendo isso o pequenino floco de neve atirou-se montanha abaixo, e quanto mais ele rolava, maior se tornava, transformando-se pouco a pouco em imensa bola de neve que com a força de seu deslocamento provocou uma avalanche que só não avançou mais porque o vale existente ao pé da elevação deteve sua corrida desenfreada. E com isso o floco de neve ficou lá no fundo, cercado por milhões e milhões de outros flocos iguais a ele, o que lhe deu a tranquilidade que buscava: a de se considerar finalmente livre da ação destruidora do Sol.
Mas quando o verão chegou a neve acumulada derreteu-se pouco a pouco por força do calor da nova estação, e o pequeno floco de neve foi o último a sucumbir diante da luz clara e forte que vinha lá das alturas.
Moral da história: Ninguém consegue escapar do seu destino.
Baseado em uma fábula de Leonardo da Vinci
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