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NALI E A VERDADE








Saindo do Marrocos para o Egito a família precisava atravessar o deserto do Saara para visitar parentes que não via há muito tempo. A caravana era composta de pai, mãe e dois filhos sendo uma menina e um menino. Os dois irmãos, Yossef e Nali, eram muito amigos. Não passava um dia sem que Nali desse a Yossef um brinquedo de madeira que ela mesma fazia com seu talento de escultora.

Sendo mais velha, ela tomava conta do irmão enquanto o pai tratava dos animais da caravana e a mãe preparava a alimentação. Cuidava para que ele bebesse água, pois o calor no deserto chega a cinquenta e cinco graus durante o dia, não esquecia o turbante apropriado para proteger a cabeça do forte sol. Em outras palavras, Nali era a segunda mãe de seu irmão.

A família estava viajando já havia alguns dias e, quase perto do Egito, fizeram uma parada para descansar à sombra das tamareiras de um oásis. Depois do descanso, Nali e seu irmão começaram a explorar o local. Colhiam tâmaras maduras, riam e falavam muito. A menina dizia ao irmão que não via a hora de chegarem ao Egito para poder brincar com os primos.

Foi durante esta conversa que ela avistou uma velha senhora, sentada num banquinho de madeira, muito triste. Nali se aproximou e perguntou:

- Quem é a senhora? Por que está neste deserto sozinha?
- Eu sou a Verdade, menina. Mudei-me para cá porque os homens deixaram de me amar. Eles dizem que eu incomodo demais, que sou antipática, que ninguém gosta de ouvir a minha voz. Eles preferem a outra que é linda, bem falante de voz melodiosa, envolvente e convincente, mas que carrega em si o veneno de mil cascavéis. – respondeu a senhora tristemente.

Nali ficou pensativa e disse:

- Os homens podem não querer a senhora, mas as crianças a querem e muito. Eu e meu irmão não gostamos da senhora Mentira. Nossos pais também não. Eles nos ensinam que a verdade deve vir sempre em primeiro plano. Por isso eu acho que a senhora deve voltar e insistir, lutar para vencer a Mentira, a sua força é devastadora.

A Verdade sorriu, levantou-se do banquinho. Já não era uma velha. Era uma jovem forte de longas asas brancas e espada na mão, pronta para enfrentar a inimiga que se apossou da alma humana.

É por isso que quando a Verdade bate as asas e empunha a espada, o resultado da batalha é catastrófico para os mentirosos.

   
Maria Hilda de Jesus Alão

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