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NO MUNDO DAS ROSAS







Carlinhos vivia em um roseiral.
Seu pai cuidava das rosas como ninguém. Aprendera o ofício com seu avô. Era coisa de pai para filho.
Carlinhos também amava as rosas, mas queria ser advogado.
Todos os dias, caminhava pelo roseiral à procura de novidades, algo especial. Lá, eram cultivadas rosas de todas as cores e tamanhos: Brancas, vermelhas, amarelas, cor-de-rosa, lilás...
Um certo dia, brincando entre os canteiros, Carlinhos observou uma rosa diferente das outras. Era apenas um botão, mas já se notava sua beleza. Era uma rosa negra, da cor da noite e com um perfume diferente, maravilhoso.
Chamou-a Flor da Noite e adotou-a como sua rosa. Assim, Carlinhos a visitava todos os dias, regava sua raiz e a adubava. Conversava com ela como com seus amigos. Contava-lhe de suas brincadeiras e até das broncas que levava de sua mãe quando fazia alguma arte. E Flor da Noite respondia com seu perfume toda a atenção que Carlinhos lhe oferecia.
Sua rosa cresceu, desabrochou e suas pétalas eram de uma beleza sem medida, aveludadas, macias e negras como a noite.
Um dia, ao amanhecer, Carlinhos viu a movimentação das caminhonetes do roseiral e lembrou-se: - É o dia da poda!
Correu desesperado ao encontro de sua rosa, mas não a encontrou. O roseiral havia desaparecido e restavam apenas os galhos podados. Todos iguais.
Sua Flor da Noite havia ido embora, talvez enfeitar a casa de alguma garota, ou que sabe alguma Igreja, aos pés da Virgem Maria.
Carlinhos chorou... Mas, entendeu que na natureza tudo tem o seu tempo certo.
Nunca havia notado como era triste o roseiral sem as rosas; mas, hoje havia perdido a “sua rosa”.

Carlinhos cresceu... O roseiral, por várias vezes, encheu-se de rosas coloridas e por várias, outras vezes fora podado, para que nascessem outras rosas.
Como a natureza é esperta! Quanto mais podadas as rosas, mais bonitas elas renascem.
Porém, nunca mais houvera outra rosa tão bonita quanto a sua Flor da Noite, talvez porque conquistou o seu coração.

Carlinhos não seguiu a profissão do pai e logo deixou o roseiral para construir sua vida em uma cidade grande, com mais oportunidades.
Em seu pequeno apartamento, não havia lugar para roseiras, quando muito as cultivava em um vaso com água e logo murchavam, pois não tinha tempo para cuidar delas.
Desistiu de comprá-las, até que conheceu Elisa. Linda moça, de pele negra como a noite, sorriso franco, olhar sincero e um perfume conhecido, mas que Carlinhos não conseguia identificar.
Aproximou-se dela, levou um papo, conseguiu agradar. Ficaram... Ficaram... E se apaixonaram. O perfume de Elisa era irresistível.
Amanheceu um dia especial. Era aniversário de Elisa e Carlinhos não tinha tido tempo de comprar-lhe um presente, mas não podia decepcioná-la.
Foi até o escritório. Trabalhou o dia todo, não teve tempo nem de almoçar. O que fazer?
Ao final do dia, a única loja que encontrou aberta foi uma floricultura perto de sua casa. E pensou: - “Engraçado, há muito tempo não presenteio ninguém com rosas”. E decidiu. Entrou na loja e comprou um lindo buquê. Quando já ia saindo, viu em um cantinho uma linda rosa negra como a sua Flor da Noite. Sabia que não era a mesma rosa, talvez neta, bisneta, tataraneta de sua rosa de infância, mas era tão bela quanto ela. Bela e de pétalas aveludadas e macias. Por um breve momento voltou ao roseiral e a sua infância. Não teve dúvidas. Pegou-a com carinho e seu perfume espalhou-se por toda a loja e neste instante reconheceu: Era o perfume de Elisa. Elisa era a sua rosa, a sua Flor da Noite!
Levou-a com ele no mesmo buquê e entregou para Elisa pedindo-a em casamento.
Casaram-se e no jardim de sua casa o galho brotou e sua Flor da Noite reviveu milagrosamente, perfumando seu grande amor.

Podam-se os galhos, retiram-se as rosas, mas a natureza, quando preservada, recria, da forma mais bela todas as rosas que foram podadas. Com isso, agradece o carinho que temos para com ela.
Cuide da natureza e encontre a felicidade!
Vera Ribeiro Guedes

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