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A Velha Misteriosa





  Ana Maria Machado
 
  No meio de muitos edifícios grandes, havia uma casa velha, com um
 jardinzinho, umas árvores, uma grade toda enfeitada, uma porção de
 mato crescendo pelo quintal.
  E as crianças do bairro da nossa história gostavam de se reunir numa
 esquina quase em frente a essa casa, onde morava uma velhinha. Toda
 tarde, a turma ficava ali, conversando. Falavam de televisão, de futebol, 
do colégio, de muitas coisas.
  E falavam muito da Velha Misteriosa, que morava naquela casa.
  - Ela está sempre carregando umas sacolas.
  -  Um dia, eu fui buscar a bola que caiu lá no quintal e olhei pela janela. A
 velha fica mexendo num caldeirão.
  - Ela usa roupas compridas, esquisitas.
  -- A empregada do 501 disse que ela pega crianças.
  - Será que ela é uma bruxa?
  Nessa hora, ouviu-se uma gargalhada. Era o Tião que vinha chegando. Ele
 sempre achava graça em tudo, o Tião Risonho. E continuou rindo: [...]
  - Nunca vi velha que não fosse boazinha. A bisavó do Rodrigo faz cada
 boneco de pano legal! Dona Ritinha conta cada história linda! Vovó 
Clementina sabe cada música que ninguém imagina! Até hoje, quando
 vi velha pegar criança, era para botar no colo e fazer carinho.
  E todo mundo ficou espantado quando ele disse:
  - Vou até lá conhecer essa velha, seus medrosos.
  -Não vá não, Tião! Olha o caldeirão!
  Mas ele foi mesmo, que era valente.
  Abriu o portão, entrou. Tocou a campainha. A velha veio abrir.
  - Bom dia, menino. Quem é você? Que é que você quer?
  - Sou Sebastião de Almeida, mas pode me chamar de Tião Risonho. Vim
 conhecer a senhora.
  - Pois conheça. Meu nome é Deolinda, mas pode me chamar de Tia Dolinha.
 Vá entrando, que estou ocupada.
  E Tião Risonho foi entrando e vendo a casa por dentro. Que casa bonita!
 [...] Tinha um corredor cheio de portas. E, no fim do corredor, a porta da 
cozinha estava aberta.
  Por essa porta, Tião viu a velha lá dentro, mexendo numa panela bem
 grande. Então ele foi lá  ver.
  O que ele viu você nem imagina. Uma porção de prateleiras cheias de 
vidros [...]. Dentro dos vidros, doces de vários tipos. [...]
  - Puxa, Tia Dolinha, a senhora é gulosa! Nunca vi tanto doce numa 
cozinha só. Nem tanta fruta. [...]
  - Eu, hein! Eu não como tudo isso, não. Quero ficar elegante [...]
  Tião achou graça. E ficou olhando a velha, que tinha acabado de mexer o
 que ela estava  cozinhando. Tirou tudo o que estava dentro do panelão, 
botou numas latas e falou:
  -- Você quer lamber essa colher de pau e esse tacho de goiabada?
  Não precisou perguntar de novo. Claro que ele quis.
  [...] Tião comia e se lambuzava. Tia Dolinha falava:
  - Sabe, eu faço doces para ganhar um dinheirinho e poder comprar as 
coisas de que preciso. Fazer doce é meu trabalho. E que trabalheira! 
Acordo cedinho e saio com umas sacolas imensas, compro frutas, ovos,
 açúcar. Passo o dia inteiro junto deste fogão. De tarde tenho que levar
 os doces às casas que encomendaram. As sacolas são tão pesadas, fico
 tão cansada! Mas, para mim, o pior é que vou acabar engordando. Tenho
 que provar esses doces todos.
  Tião Risonho, que estava adorando a goiabada, sorriu:
  - Então a senhora está precisando de um provador.
  Tia Dolinha viu a cara risonha de Tião [...]
  - Está bem, você fica sendo meu provador.
  - Sozinho eu não posso, que estou no colégio e não tenho muito tempo. 
 
Mas nós somos uma turma grande. Cada um vem um pouquinho.
  - Então está combinado [...]
  Hoje em dia, a turma só se reúne na casa dela. Brincam de mocinho no 
quintal, jogam futebol, sobem em árvores, tocam piano. E ajudam muito.
 [...] Ajudam a carregar sacolas, a entregar encomendas, a tirar mato do 
quintal, a fazer compras. [...]
  Ninguém mais acha que ela é uma velha misteriosa. [...]
  E todo mundo se reúne em volta de Tia Dolinha, para ouvir velhas 
canções ou histórias bem compridas com fada, gênios, princesas encantadas, 
gigantes e dragões. Histórias de antigamente, que ninguém sabe contar tão
 bem como os velhos.
  Experimente só. Peça a um deles para contar uma.
 
 (Em: *A Velha Misteriosa*. Rio de Janeiro, Salamandra, 1994.)

14 comentários:

  1. Respostas
    1. Eu adorei é muito bom ameiii vou ler mais😍

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  2. Obrigada!!!!
    Sou apaixonada por Ana Maria Machado...
    Obrigada pela visita.
    Bjs

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  3. Minha professora leu este livro hj mas não contou o final ass:Marina e minha professora se chama Marcia 3 ano B no João Clímaco da Silva Kruse Tatuapé

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    1. Oi, Tony...
      Vai ver ela queria que você(s) inventassem o final. Ou quem sabe, procurar a história para saber como termina. Isso acontece muito quando queremos que as pessoas se interessem pela história e procurem saber como termina. É um incentivo à leitura. Bjs.

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  4. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa tenho que fazer reconto disso e.e

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  5. Que nostalgia. Gratidao!

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  6. Ameiiiii esse texto vamos fazer uma pessa de teatro dele

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