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O LOBO E OS PASTORES





          Certo dia o lobo amanheceu com o remorso pesando-lhe na alma e no coração, e em razão disso pôs-se a fazer uma retrospectiva sobre sua vida de animal predador, sim, mas que mata apenas por necessidade, para comer. E lá ia ele caminhando sem rumo pelo campo à fora, refletindo sobre sua tão comentada crueldade, até que ao fim de algum tempo não mais duvidou de que, realmente, ele e os de sua espécie eram temidos e odiados por todos, principalmente cães, aldeões e caçadores, que os tinham como inimigo comum e daí lhes moviam uma guerra sem tréguas.

          Somos execrados - pensava ele - e por isso nossa cabeça é colocada a prêmio por qualquer fidalgo que se julgue importante. Como se isso não bastasse, desde a mais tenra idade todas as crianças são induzidas a nos temerem como se fôssemos criaturas bárbaras, e tudo por quê? Porque caçamos para sobreviver, já que ninguém nos alimenta. E se isso é criminoso, abominável, imperdoável, melhor seria pastar os brotos tenros do capim que cresce nas campinas, mesmo que assim fazendo corramos o risco de morrer de fome, já que tal destino é mil vezes melhor do que vivermos curvados sob o peso do ódio universal.

          E dessa forma o dia se foi sem que o lobo o percebesse porque continuava mergulhado em seus pensamentos, até que ao cair da noite ele avistou à sua frente, em plena pradaria, alguns pastores ocupados em jantar um cordeirinho assado cujo aroma apetitoso chegava a uma razoável distância.

          - Por Júpiter - exclamou o lobo -, eu aqui me condenando como réu de sangue desses carneiros, e lá estão os pastores e seus cães, que têm como tarefa a sua guarda e proteção, fazendo a mesma coisa que faço, sem que ninguém os condene por isso. E se é assim, por qual motivo terei eu, chamado por eles de lobo selvagem, que sentir vergonha e remorso do meu procedimento ?

          E concluiu:

          - Não, não e não! Jamais darei motivo para zombarem de mim! Continuarei caçando meus cordeirinhos como sempre fiz, pois tanto eles, como seus pais, mães e parentes, são presas que os meus dentes apreciam.

          Moral da história: Cada um come o que lhe cai bem no estômago, pouco lhe importando a opinião do próximo.

Baseado em uma fábula de La Fontaine


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