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A história dos homenzinhos de patins







  Era uma vez um planeta onde se nascia, vivia e morria sobre patins. Também se viajava, namorava e trabalhava sobre patins. O seu uso era obrigatório porque caminhar era um processo muito lento e tomava muito tempo. Alguns habitantes nem sequer tiravam os seus pés rolantes para dormir.

   Nunca ninguém chegava atrasado ao emprego ou às aulas. Só se falava o estritamente necessário, porque até as sílabas eram contabilizadas. Todas as atividades susceptíveis de nos fazer perder segundos preciosos eram proibidas: falar da chuva e do bom tempo, comprar bombons, arrastar-se, de manhã, por casa, em peúgas, dançar o tango, ou ter bebês. Um bebê exige tempo e isso faz com que nos tornemos menos eficazes.

   Mas porque corriam as pessoas assim?

   Porque no planeta ao lado viviam uns seres cinzentos e tristes, que tinham decidido fazer das pessoas cavalos de corrida. Para isso, tinham-nas transformado em seres que apenas viviam para a velocidade e para o stress. Esses seres faziam apostas e lançavam na lixeira intersideral as pessoas que perdessem a corrida. As pessoas não passavam de escravas…

   O corpo humano não consegue viver a 500 quilômetros à hora e, assim, as pessoas passaram a sofrer de várias doenças, a mais catastrófica das quais era a das fraturas do crânio. Sempre que uma criança caía, o seu cérebro começava a encolher até ficar do tamanho de uma ervilha. Como estas fraturas eram cada vez mais frequentes, as pessoas ficavam cada vez menos inteligentes. Por isso, ninguém tivera ainda a ideia de inventar um capacete para proteger a cabeça.

   Mas os seres cinzentos e tristes estavam a ficar sem escravos e decidiram, então, inventar eles mesmos o capacete e tornar o seu uso obrigatório. Como as pessoas tinham o cérebro protegido, podiam utilizá-lo para pensar. Por exemplo, para pensar por que razão haviam de andar tão depressa.

   Então, pouco a pouco, começaram a reduzir o ritmo da sua vida e a dar-se conta que correr não serve de nada. Que isso apenas as escravizava mais em relação ao povo dos seres tristes e cinzentos. Passaram, então, a brincar, a conversar, a jogar, a fazer amigos, sem medo de que isso lhes fizesse mal. E nem viam o tempo passar…

   Todos se inscreviam em cursos de dança, assistiam ao pôr do sol, davam longos passeios pela floresta. A transformação ainda demorou algum tempo. Mas as dores de barriga e de cabeça desapareceram. E começaram de novo a nascer bebês…

Sophie Carquain
Petites histoires pour devenir grand (2)
Paris, Albin Michel, 2005
(Tradução e adaptação)

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