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A fada que tinha ideias - Capítulo 03 - O Aniversário da Vermelhinha



  Todas as amigas da mãe de Clara Lua levaram suas filhas ao aniversário de Vermelhinha.
  Na hora de acender as velas do bolo, quando todos iam começar a cantar parabéns, ouviu-se uma  barulheira na porta, A Fada-Mãe, foi abrir.
  Entrou a Senhora Relâmpaga, mãe do relampagozinho que Clara Luz tinha metido na massa dos bolinhos.
  - Só quero saber o que fizeram do meu filho! - berrou ela, com as mãos na cintura. - Fui informada de que foi aqui, nesta casa, que ele entrou.
  As fadas, mortas de medo, começaram a chamar as fadinhas para perto. A Senhora Relâmpaga era conhecida pelo seu mau gênio.
  - Mas minha senhora, de que filho a senhora está falando? Eu não sei de nada! - disse a Fada-mãe.
  - Não se faça de boba! - respondeu a Senhora Relâmpaga. - Pensa que pode ir transformando o filho dos outros em cometa e que depois fica tudo por isso mesmo? Está muito enganada. Ou me devolvem o meu filho já, ou queimo tudo nesta casa!
  E, para mostrar do que era capaz, deu uma relampejada e queimou diversos móveis.
  Foi uma correria. As fadas mais medrosas começaram a se esconder, embaixo da mesa, atrás do sofá.
  - Cometa? - perguntou a Fada-Mãe, cada vez mais espantada. - Juro à Senhora que nunca transformei filho de ninguém em cometa!
  - Transformou sim, mamãe, não se lembra? - perguntou Clara Luz, muito lampeira. - Foi ontem mesmo, de noite, que você transformou o filho dela em cometa.
  - Eu?
  - É, sim. Esqueci de lhe contar, mas ele está dentro da massa dos bolinhos. Por isso é que a massa cresceu tanto.
  Ouvindo isso, a Senhora Relâmpaga quase incendiou a casa toda:
  - Vou dar queixa à Rainha das Fadas! Essa menina vai receber um castigo que ela vai ver só!
  A Fada-Mãe ficou com falta de ar e as amigas mais corajosas vieram abaná-la. As fadinhas começaram a chorar.
  Só Vermelhinha e Clara Luz não choraram.  Elas já estavam perdendo a paciência com a Senhora Relâmpaga.
  - Sabe de uma coisa? - gritou Clara Luz. - Não tenho medo nenhum  das suas queixas. Pode ir dar queixa. E que modos são esses de entrar na casa dos outros? Não tem educação?
  A Senhora Relâmpaga, que estava habituada a berrar sozinha, ficou tão espantada que parou de relampejar.
  - É isso mesmo - gritou Vermelhinha. - A senhora devia estar muito contente de ter um filho cometa e em vez disso ainda vem reclamar! Na minha família sempre quisemos que nascesse um cometa e nunca  nasceu nenhum.
  - É? - perguntou a Senhora Relâmpaga, admirada.
  - Claro que é. Ter um filho cometa é o mesmo que ter um filho príncipe, ou até rei.
  A Senhora Relâmpaga começou a ficar orgulhosa.
  Mas depois enxugou uma lágrima:
  - O caso é que fico com muita saudades dele -  explicou ela. Desde que virou cometa, não apareceu mais.
  Clara Luz e Vermelhinha olharam uma para a outra:
  - Coitada! Nesse ponto ela tem razão.
  - É mesmo! Que adianta ter um filho príncipe e nunca ver esse filho?
  Clara Luz não se atrapalhou:
  - Pode deixar, Dona Relâmpaga. Assim que mamãe melhorar, vou pedir para ela tirar  o seu filho de dentro do cometa.
  A Senhora Relâmpaga ficou satisfeitíssima:
  - Pensei que isso não fosse possível!
  - É possível, sim. Dá um pouco de trabalho, mas é possível. Mamãe é formidável em mágicas. Faz cada uma que só a senhora vendo!
  - Enquanto espera, aceita um refresco de orvalho? - ofereceu vermelhinha.
  Dona Relâmpaga aceitou e gostou muito.  Quando a Fada-Mãe melhorou, Vermelhinha, Clara Luz e Dona Relâmpaga estavam conversando, muito amigas.
  - Não é possível! Será verdade o que estou vendo? - exclamou a Fada-Mãe, que esperava ter muito trabalho ainda, para acalmar Dona Relâmpaga.
  - É verdade sim, mamãe. Dona Relâmpaga já entendeu tudo. Agora você vai ter que tirar o filho dela de dentro do cometa.
  - É um favorzinho que lhe peço - disse Dona Relâmpaga. - A senhora compreende, sei que é uma honra ter um cometa na família, mas sinto muita falta dele.
  - Perfeitamente, Dona Relâmpaga. Eu não sabia de nada disso. Foi tudo ideia da minha filha.
  Foi então que começou a maior correria que já houve no céu. Tirar o relampagozinho de dentro do cometa não era nada. O difícil era pegar o cometa.
  Todas as fadas e fadinhas convidadas tomaram parte no pega-pega. Espalharam-se por todos os cantos do céu, para cercar o cometa:
  - Lá vai ele!
  - Sumiu!
  - Apareceu! Olha lá!
  Foi uma verdadeira caçada. O cometa voava pelo céu, com uma quantidade de fadas atrás.
  De repente, ele começou a ir para os lados do palácio da Rainha. A gritaria das fadas foi tão grande que ele, felizmente, mudou de rumo. Todas respiraram,  aliviadas.
  Dona Relâmpaga, que também era muito veloz, corria quase tanto quanto o cometa. Mas ele, como tinha um relampagozinho-criança dentro, conseguia correr sempre um pouco mais. Dona Relâmpaga já tinha certa idade e era um pouco gorda.
  Afinal quem conseguiu agarrar o cometa, pela cauda, foi Clara Luz. Ele ia com tanta velocidade que ainda arrastou a fadinha por uns dois quilômetros. Mas acabou parando.
  - Ufa! - suspirou Clara Luz, arrastando o cometa, de volta para casa. - Se eu soubesse que esse relampagozinho ia dar esse trabalhão nunca o teria convidado para entrar no meu bolo!
  Foi uma sensação a chegada de Clara Luz. As fadas todas se reuniram no jardim, para ver o relampagozinho sair do cometa. Dona Relâmpaga começou a chorar de alegria:
  - Estou tão comovida como no dia em que ele nasceu - disse ela para Vermelhinha.
  A Fada-Mãe moveu a varinha de condão, disse umas palavras mágicas, e o relampagozinho pulou para fora do cometa, com uma cara muito estonteada, como quem acaba de acordar:
  - Ué! Que foi que aconteceu?
  Foi preciso explicar tudo a ele. Não se lembrava de nada, nem da hora em que entrara no bolo.
  As fadinhas estavam encantadas com o relampagozinho. Puseram logo nele o apelido de Relampinho. E até briga saiu, para decidir quem o poria no colo  primeiro.
  Relampinho, assim que o estonteamento passou, saiu numa correria louca, como sempre. As fadinhas saíram todas atrás, brincando de pegar.
  As fadas grandes foram para a sala, com Dona Relâmpaga.
  O resto da festa foi ótimo.
  Na hora de ir embora, Vermelhinha agradeceu muito à Fada-Mãe:
  - Nunca me diverti tanto no meu aniversário! Agora, sempre que fizer anos, vou convida e pelos menos um relâmpago.
  - Eu também - disse Clara Luz. -- A festa fica muito mais animada.
  Dona Relâmpaga despediu-se também, com muitos agradecimentos:
  - A senhora queira desculpar ter queimado os móveis - disse ela à Fada-Mãe. - É que estava louca de saudades e eu, quando estou com saudades, queimo tudo ao meu redor.


Fernanda Lopes de Almeida



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