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OS PÉS DE DINHEIRO





Certa vez um homem ganhou, de um parente abastado, trinta moedas de ouro. Como era muito pobre, um tanto tolo e nunca vira tanta moeda junta, ele saiu pela cidade mostrando aos moradores o seu pequeno tesouro. Dizia:

- Eu sou rico, muito rico. Vejam quantas moedas de ouro!
O assunto ficou conhecido e comentado pelas pessoas daquele lugar. Uns falavam com inveja, outros com pena do homem porque ele corria o risco de ser roubado. Um dia apareceu um cavaleiro bem vestido, montado num cavalo branco. Ele apeou da montaria, pediu um pouco de água para si e o animal. Foi atendido com gentileza. Uns minutos de conversa e o cavaleiro lançou a pergunta:

- Por acaso o senhor conhece o homem rico que ganhou trinta moedas de ouro?

- Ora, o senhor está diante dele.  E que mal lhe pergunte: o senhor quem é e vem de onde? – respondeu questionando o homem.

- Eu sou emissário de um deus que o senhor não conhece. Viajo por muitas terras para anunciar a grande novidade: a floresta de dinheiro. – disse o cavaleiro.

- Floresta de dinheiro? Nunca ouvi falar disso. Acho que é coisa impossível. E como nasce uma floresta de dinheiro?

- Fácil. Cada homem planta uma moeda de ouro, num espaço de mais ou menos um metro de distância uma das outras, e todos os dias ele rega as covas até que brotem os pés de dinheiro. – ensinou o cavaleiro.

- Isso é muito bom. Eu vou plantar as minhas trinta moedas de ouro. Serão trinta pés carregadinhos de dinheiro. – arrematou o homem.

E assim ele fez. Plantou e marcou cada buraco onde enterrara uma moeda. Quando a noite chegou, o cavaleiro veio de mansinho, desenterrou as moedas pondo no lugar delas umas sementes branquinhas e partiu a todo galope. O dono das moedas, conforme a recomendação do cavaleiro, regava as covas onde elas estavam imaginando que se as árvores dessem duas floradas no ano quantos milhões ele colheria dos seus trinta pés de dinheiro.

Um belo dia, pela manhã, ele foi olhar a plantação de dinheiro. Qual não foi a sua surpresa ao ver que trinta brotinhos já estavam saindo da terra. Esmerou-se no cultivo. As plantas cresceram fortes, floriram, deram frutos verdes que depois ficaram amarelos. Que frutos seriam aqueles? O homem experimentou. Eram feitos de gomos sumarentos e doces. O sabor era extraordinário. Dinheiro que era bom, nada. O homem pensou que talvez o dinheiro viesse depois que os frutos caíssem. E para apressar tal queda ele passou a colhê-los e a vendê-los na feira da cidade. Aos frutos ele deu o nome de laranja.

Foi um sucesso. Vendeu tudo. Ao chegar em casa ele contou o dinheiro que ganhou com o seu trabalho. Tinha muito mais do que trinta moedas. Ficou feliz. Continuou cultivando os trinta pés de dinheiro. Descobriu que os carocinhos daquela fruta geravam novas árvores e ele plantou mais pés de dinheiro e assim, no prazo de um ano, ele se tornou dono do maior laranjal daquela cidade. O seu casebre agora era uma casa bem construída, seus filhos já não passavam necessidade e o ajudavam no trabalho de cultivar os pés de dinheiro.

Foi num dia de sol escaldante que apareceu, vindo do nada, o cavaleiro montado no seu inconfundível cavalo branco. O homem, trabalhando a terra, o avistou e o saudou com alegria.

- Vejo que seguiu o meu conselho. O senhor tem milhares de pés de dinheiro. Estou feliz por isso. – disse o cavaleiro.
- Pode me dizer seu nome e o do deus de quem você é emissário, nobre cavaleiro? – perguntou o homem, agora bem falante.

- Eu sou Saturno, da mitologia romana. Sou o deus da agricultura e emissário de Júpiter, o deus de todos os deuses.

- Por que me escolheu? – perguntou o homem.

- Para mostrar que o ouro plantado, cultivado e colhido com as próprias mãos vale mais que trinta moedas conseguidas sem esforço. Sua vida estava dominada por Pênia, a deusa da pobreza. Agora ela é comandada por Poros, o deus da riqueza e Mercúrio, o deus do comércio.
E tirou do seu alforje as trinta moedas de ouro.

Comprimindo-as com as duas mãos o deus as transformou em pó dourado espalhando sobre a terra para que ela seja sempre fértil e nunca negue um pé de dinheiro à humanidade.


Maria Hilda de Jesus Alão

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