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O Surrão






Há muito tempo houve uma viúva que vivia com sua única filha. Uma linda menina que tinha também uma maravilhosa voz.

“Com minha mãezinha feliz
Assim eu sempre serei
Amor maior do que esse
Na vida nunca terei”

Certo dia, a viúva foi com sua filha lavar roupas no rio, junto com as outras lavadeiras.

O sol estava alto. Fazia muito calor e a menina, cantarolando, se afastou da mãe e das lavadeiras para se banhar.

“Com minha mãezinha feliz
Assim eu sempre serei
Amor maior do que esse
Na vida nunca terei.”

Antes de entrar na água, a menina se lembrou do brinco de ouro que ela havia ganhado de seu falecido pai e, para que não o perdesse, ela o colocou sobre uma pedra e desceu às águas do rio.

Acontece que um homem, que trazia em suas costas um grande saco e em suas mãos uma bengala, estava a espreita entre as árvores e ficou encantado com a voz da pequenina e vendo os brincos sobre a pedra teve uma ideia.

A menina viu que a tarde estava chegando e achou melhor voltar para junto de sua mãe. Saiu tão apressada que se esqueceu dos brincos, mas antes de alcançar as lavadeiras, ela se lembrou e volto para pegá-los.

Quando alcançou a pedra... Onde estavam os brincos? A menina procurou, procurou...
Procurou muito, até que o homem, todo sujo e esfarrapado, saiu de trás de uma árvore dizendo:

- Procura por seus brincos, encantadora menina?

- Sim, procuro sim! O senhor os viu?

- Eles estão aqui... No fundo do meu surrão... – o homem abriu o saco -... e se os quiser de volta, terá de vir apanhar.

A menina, sem pensar, saltou no saco para apanhar os brincos e quando ela entrou o homem amarrou a boca do saco bem amarrada.

A viúva, mãe da menina, terminou de lavar sua roupa e foi procurar por sua filha. Olhou o rio, onde a menina costumava se banhar. Chamou, chamou, mas a filha não respondeu.
A viúva não desistiu, andou por toda a margem do rio chamando por sua filha. Sem resposta, ela continuou a procurar por toda a cidade e continuou procurando e procurando...

O homem do saco, em suas andanças pelo mundo sempre parava nas praças e coretos e juntava multidões, dizendo:

- Vejam todos. Vejam todos o meu surrão mágico. Apreciem a voz maravilhosa que ele tem.

Depois se dirigia ao saco, ameaçando com sua bengala:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar
Com a força do bordão”

E a menina, lá dentro do surrão, se punha a cantar:

“No meu surrão viverei
No meu surrão morrerei
Por causa dos brincos de ouro
Que lá no rio deixei”

E a cada cidade que houvesse uma praça, um coreto, o homem repetia:

- Vejam todos. Vejam todos o meu surrão mágico. Apreciem a voz maravilhosa que ele tem.

Depois se dirigia ao saco, ameaçando com sua bengala:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar
Com a força do bordão”

E a menina, lá dentro do surrão, se punha a cantar:

“No meu surrão viverei
No meu surrão morrerei
Por causa dos brincos de ouro
Que lá no rio deixei”

E o homem andou pelo mundo com seu mágico surrão cantor, enquanto a viúva andava pelo mundo em busca de sua filha.

Certo dia, a viúva certa de que já havia procurado por todos os lugares, resolveu voltar para casa, pensando:

- Quem sabe minha filha já voltou para casa e eu não estou lá para cuidar dela!

Quando a pobre viúva chegou em sua casa, não encontrou a filha, mas, enquanto ela foi a cozinha, virou a botija e se serviu de um copo d’água, alguém bateu em sua porta.

Já cansada da vida, foi vagarosamente atender.

Ao abrir, se deparou com um homem muito sujo e maltrapilho que lhe pediu:

- Minha senhora, sou um artista do mundo e tenho fome. Poderia me arrumar um prato de sopa? Em troca eu faria meu surrão lhe cantar uma linda canção, com sua voz mágica e maravilhosa.

A viúva achou que tal pudesse alegrar um pouco o seu coração ferido, então o homem gritou:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar
Com a força do bordão”

E a menina, lá dentro do surrão, se punha a cantar:

“No meu surrão viverei
No meu surrão morrerei
Por causa dos brincos de ouro
Que lá no rio deixei”

A viúva, imediatamente, reconheceu a voz de sua filha perdida e, muito audaciosa, disse ao homem:

- Ah moço, eu lhe faria a sopa, mas acabou minha farinha e até eu ir ao armazém o fogo apaga e não terei como prepará-la para o senhor...

- Não seja por isso minha senhora. Dê-me o dinheiro e lhe trago a farinha.

A viúva deu o dinheiro ao homem e lhe indicou o armazém que ficava longe, longe. Quase deixando a cidade.

Quando viu que o homem estava longe, abriu o saco e, encolhidinha no fundo do saco, estava sua filha perdida.

A mulher pegou a menina no colo e lhe deu um abraço apertado. Depois:

- Vamos filha. Temos de nos apressar...

As duas foram até o quarto, pegaram o penico cheio, que estava embaixo da cama e derramou dentro do saco. Depois foram até o galinheiro e encheram o saco de toda a caca de galinha que encontraram. Depois, no chiqueiro, pegaram toda a sujeira dos porcos e também colocaram no surrão. Saíram também pela vizinhança, recolhendo toda a sorte de sujeiras, como cocô, catarro de tosse...

Quando o homem estava chegando, a viúva escondeu a filha embaixo da cama e foi atendê-lo.

Preparou a sopa e o homem, depois de estar de barriga cheia, sugeriu que queria passar a noite naquela casa, mas a viúva disse que não ficaria bem e que ele não poderia ficar, e o convenceu a partir bem rápido.

Depois que o malvado se foi, ela tirou sua filha de debaixo da cama e vendo como ele estava magrinha e enfraquecida, preparou-lhe uma gostosa refeição e depois foram dormir juntinhas, bem feliz da vida.

Quanto ao homem, como sempre, parou na próxima cidade e novamente juntou o povo dizendo:

- Vejam todos. Vejam todos o meu surrão mágico. Apreciem a voz maravilhosa que ele tem.

Depois se dirigiu ao saco, ameaçando com sua bengala:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar com a força do bordão”...

Mas nada de o surrão cantar, e ele insistia:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar com a força do bordão”...

Mas nada de o surrão cantar, e ele insistia outra vez:

“Canta, canta meu surrão
Se não eu vou lhe dar com a força do bordão”...

Até que ele perdeu a paciência e começou a bater no surrão. Bateu, bateu, bateu, até que...

Bum!!!!

O surrão estourou, jogando toda a porcaria em cima do homem. A história se espalhou e ninguém mais quis saber de suas armações e o homem nunca soube o que havia acontecido com a menina.



3 comentários:

  1. Telma,
    Adoro essa história. Minha bisavó a contava para mim quando eu era criança, mas eu nunca soube o autor dela. Você saberia me informar?

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    1. É um conto popular. Não sei o autor.
      Obrigada por nos visitar...
      Telma e Beth

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    2. Foi uma professora que me repassou...

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