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As penas







Uma mulher de língua afiada foi acusada de espalhar um boato. Quando a levaram perante o rabi da aldeia, desculpou-se:

   — Não passou tudo de uma brincadeira e não tenho culpa de que as minhas palavras tenham sido espalhadas por outros.

   Contudo, a vítima exigia que fosse feita justiça, dizendo:

   — As tuas palavras destruíram o meu bom nome!

   A mulher retorquiu:

   — Retiro o que disse e, assim, anulo a minha culpa.

   Quando o rabi ouviu estas palavras, percebeu que a mulher não compreendia o alcance do crime que cometera. Disse-lhe então:

   — As tuas palavras só serão desculpadas depois de fazeres o seguinte: traz a minha almofada para o mercado, corta-a, e deixa que o vento leve as penas. Depois, apanha cada uma delas e trá-las de volta. Quando tiveres feito isso, serás absolvida do teu crime.

   A mulher concordou e pensou para consigo: "O velho rabi enlouqueceu de vez!" Mas, mal cortou a almofada, viu logo que as penas voaram para todos os cantos da praça. O vento levou-as para todos os lados, por sobre as árvores e para debaixo das carroças. A mulher bem que tentou apanhá-las mas, após muitos esforços, deu-se conta de que nunca as encontraria todas.

   Foi ter com o rabi com algumas penas na mão e confessou:

   — Não consegui apanhar as penas todas, tal como não consigo retirar tudo o que afirmei. A partir de agora, terei cuidado com o que digo, para não prejudicar os outros, pois não há forma de controlar as palavras, tal como não há forma de controlar o voo das penas.

   E, a partir desse dia, a mulher só falava de forma bondosa de todos quantos encontrava.




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