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Os Três Irmãos e o Pote de Ouro







Uma vez, há muito tempo atrás, vivia um camponês que tinha três filhos. Entre camponeses, ter três filhos teria sido uma bênção, não fosse o facto de estes três filhos terem pouco tempo para o trabalho do campo. Os três eram fortes, saudáveis e, apesar da sua preguiça, bons rapazes. O seu único defeito era detestarem trabalhar, o que numa quinta constituía um defeito considerável.

   Quando eram novos, costumavam sentar-se debaixo de uma árvore e ficar a ver as folhas mudarem de cor. Quando cresceram um pouco mais, ficavam a ver as raparigas passarem junto à quinta, mas eram muito preguiçosos para saírem ao seu encontro. Quando se tornaram rapazes, conversavam infinitamente sobre nada e, às vezes, quando estavam com vontade, talvez fossem à pesca. No entanto, se apanhavam muitos peixes, eram capazes de os deixar para trás porque lhes dava muito trabalho levarem-nos todos para casa.

   Os vizinhos meneavam a cabeça quando os viam deitar-se debaixo das árvores no quintal.

   — Porque não ajudam o vosso pai na quinta? — perguntavam.

   — O pai gosta do seu trabalho e, ao trabalhar, sustenta-nos. Porque haveríamos de lhe negar esse prazer?

   Os irmãos riam-se e acabavam por adormecer.

   O pai fazia os possíveis para os pôr a trabalhar, mas em vão. Os anos passaram e, por fim, o velho homem, gasto e cansado, encontrou-se no leito de morte.

   — Meus filhos, o fim dos meus trabalhos aproxima-se. Em breve vos deixarei, mas temo pelo vosso futuro.

   Pela primeira vez, os três rapazes acordaram da sua apatia e trocaram entre si olhares preocupados. O mais velho ajoelhou-se ao lado do pai e pediu:

   — Pai, dá-nos os teus conselhos e a tua bênção. O que devemos fazer?

   O pai olhou para os filhos e disse devagar:

   — Meus filhos, quando eu e a vossa mãe éramos novos, poupámos com muito afinco. Sabíamos que os tempos difíceis acabariam por vir e trazer o lobo à nossa porta. Fizemos os possíveis por deitar uma moeda de ouro todos os meses num pequeno pote que enterrámos no quintal. À medida que o tempo passou, e que vocês foram nascendo, deixámos de conseguir pôr dinheiro de lado e depressa esquecemos o pote com ouro. Não me lembro onde, mas algures no quintal, ou no campo junto à casa, está enterrado um pote com ouro. Espero que o encontreis e que ele vos salve a todos.

   E, com estas palavras, o velho exalou o último suspiro.

   Os três filhos choraram pelo pai e a dor manteve a memória viva nos seus corações por muito tempo. Mas em breve começaram a ter fome, e a pouca comida e dinheiro que o pai tinha em casa desapareceu rapidamente.

   — O nosso pai falou de um pote com ouro — disse o irmão do meio. — Eu sugiro que comecemos a cavar em volta da casa e que tentemos encontrar o ouro para conseguirmos sobreviver.

   Os outros dois concordaram.

   Pela primeira vez nas suas vidas, os três irmãos começaram a trabalhar. Começaram a trabalhar com pás e foram cavando a terra cada vez mais. No final do primeiro dia, as mãos estavam cheias de bolhas e as costas doíam-lhes. No sítio onde devia haver músculos havia dor, mas não encontraram ouro algum.

   Recomeçaram novamente no dia seguinte. Cavaram durante toda a semana até o quintal ficar revolteado e a terra ficar fértil e escura mas, mesmo assim, não encontraram ouro. Cavaram ainda mais fundo e não encontraram nada. Em seguida, começaram a cavar o campo junto à casa. Quando encontravam rochas grandes e pedras, rolavam-nas para o lado, para construírem muros com elas. Em breve o campo estava cavado, fértil e escuro como o quintal, mas, mesmo assim, não encontraram ouro algum.

   Os irmãos olharam à sua volta e por fim, o mais velho disse:

   — É uma pena perdermos todo este trabalho. Vamos plantar aqui uma vinha e tentar deitar mãos ao negócio.

   Assim, os três irmãos plantaram uma vinha e começaram também a cultivar uma pequena horta. As uvas cresceram bem e eles prosperaram.

   Certo dia, sentaram-se no alpendre após um árduo dia de trabalho na vinha, a beber café e a contemplar o seu trabalho. As videiras estavam carregadas de uvas e a horta enchia-lhes a mesa e ainda lhes sobravam produtos para vender.

   Os anos passaram e eles casaram, constituíram família e ensinaram os seus filhos a amar e a gostar de trabalhar.

   Um dia, quando os três irmãos já tinham chegado à meia-idade e nas suas barbas começavam a aparecer alguns pelos brancos, sentaram-se no alpendre que dava para o campo.

   — Havia mesmo ouro na terra — disse o mais velho. — O nosso pai era um homem sábio.

  
— Muito sábio — assentiram os irmãos.

Dan Keding
Stories of Hope and Spirit
Little Rock, August House Publishers, 2004

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