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A Loura







- Pai, conta aquela história outra vez.
- Que história tu quer que eu conte Severino?
- Aquela que te deixou com a boca torta.
- Cê sabe que não gosto de falar destas cousas.
- Ah pai! Conta vai, eu adoro ela.
- Tá bem filho, já que tu insistes.

"Um dia eu tava saindo da roça e resolvi ir até a tendinha de seu Raimundo.
Ficava longe mas valia a pena, pois só lá que tinha uma cachaça
amarelinha que vinha de Goiás, uma delícia.
A cana tava tão boa que esqueci da hora.
Faltavam trinta minutos pra meia-noite quando resolvi voltar pra casa.


-     O Reginaldo, cê vai embora a essa hora?
Dorme aqui mesmo, é muito chão até sua casa.
Diz que anda aparecendo por aí, sempre à meia-noite,
umas assombrações.

- O seu Raimundo, olha pra mim, vê se um cabra macho como eu tem
medo de assombração.

- Bem, cê que sabe.

- Passe bem seu Raimundo, já vou indo.
E lá fui eu pela estrada de terra batida.
Já fazia quase meia hora que eu ia andando. De repente comecei a
escutar passos que pareciam estar me seguindo.
Parei, olhei para trás, mas não vi nada.
Continuei andando e novamente escutei os passos.
Parei outra vez, olhei e não tinha nada.
Comecei a ficar nervoso e a andar rápido. Escutei os passos atrás de mim aumentarem a velocidade.
Parei então de súbito e me virei rápido.
Um arrepio me correu a espinha de cima a baixo com o que vi.

- E o que viu?

- A mulher mais linda do mundo, nuazinha como veio ao mundo.

- Uma mulher?
- Sim, eu pensava que as histórias eram tudo mentiras. Mas lá estava ela sorrindo para mim.

- Ela quem?

- A loura sem cabeça. Eu parei petrificado, queria fugir mas minhas pernas pareciam chumbadas no barro.

Aí ela veio andando em minha direção, me olhando.
De repente a loura sem cabeça me agarrou e me deu um beijo na boca.

- Mas se ela não tinha cabeça, como te beijou?

- Isso eu não sei porque desmaiei na gostosura daqueles lábios. Acordei no dia seguinte com a boca torta.

             


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