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Apelido não tem cola






Quando eu era pequena, meus pais morreram e meus tios cuidaram de mim.
Então eu virei filha deles e eles viraram os meus pais.
Um dia, escorreguei da árvore e
 Acabei pendurada pelo pescoço entre dois galhos.
Meu tio que virou pai me salvou daquele sufoco.
Ah! Como é bom ter um pai que antes era tio.
Meu avô, que não era meu avô mas que virou porque é pai de meu tio que virou pai veio logo rindo e falando assim:
- Essa minha neta torta mais parece um macaquinho!
Ah! Então eu era torta?  Eu sabia que minhas pernas era um pouquinho tortas,  mas não sabia que eram tanto...
Fui correndo para o quarto, fiquei me olhando um tempão no espelho e juro que não me achei tão torta assim. Mas meu avô falou,  então eu devo ser.
Que horrível! Acabei chorando muito e escondendo minhas pernas debaixo do cobertor pra ninguém mais ver.
Aí escutei minha mãe me chamando:
- Lívia, Lívia, onde você está?
Ela acabou me pegando de nariz vermelho de tanto chorar. Quis logo saber o que tinha acontecido. Claro, contei tudinho.
Ela sorriu e disse que não era torta. Neta torta era o apelido dos netos adotivos e que meu avô torto, que também não era torto de verdade, gostava muito de mim.
Ah! Que alívio! Como é bom ter uma mãe que antes era tia.


Regina Otero e Regina Rennó

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