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O Livro da Escrita







Antes que o homem soubesse escrever, n
ão havia História.
É claro, como é que a gente pode saber o que acontecia, se ninguém escrevia contando?
Mas a gente sabe que, h
á quarenta mil anos, o homem não só existia, como pensava e tinha até qualidades de artista, pois ele pintava nas paredes das cavernas touros e bisões, renas e cavalos.
Eram lindas pinturas, e por isso sabemos que quem as pintava era um homem de verdade e n
ão um animal qualquer.
Essas pinturas, no in
ício, eram feitas no fundo das cavernas, e não na entrada, onde os homens viviam. Isso nos faz pensar que essas figuras tinham um significado mágico.
Mais tarde come
çaram a aparecer desenhos que comunicavam alguma coisa. Eram uma tentativa de escrita, embora fossem muito simples.
Quando o homem desenhava um boi, queria dizer boi; Quando desenhava um jarro, queria dizer jarro; Quando desenhava um jarro,queria dizer jarro.
Era a história pictográfica.
Com o tempo, a escrita foi mudando. As pessoas precisavam escrever coisas mais complicadas.
Então quando desenhavam um boi, nem sempre queriam representar um boi. Podia estar representando  uma boiada, o gado ou simplesmente a carne.
Quando desenhavam um jarro, podiam  estar representando mais do que um jarro: podiam estar representando a quantidade de líquido que podia caber num jarro.
E quando desenhavam o sol, podiam estar representando o dia, a luz ou até mesmo o calor.
Este tipo de escrita já permitia contar uma pequena história ou mandar uma mensagem simples.
Era a escrita ideográfica.
As pessoas passaram a escrever cada vez mais. Por isso foram simplificando progressivamente os símbolos.
E foram “combinando” entre si como desenhar cada símbolo de maneira que o que uns escreviam fosse compreendido por todos.
Com o tempo, os símbolos se simplificaram tanto que  apenas lembravam o objeto que representavam no início.
O tipo de escrita que cada povo inventou dependeu do material usado para escrever.
Os babilônios tiveram a primeira escrita bem codificada.
Usavam lajotas de barro mole para escrever e um pequeno bastão de madeira ou ferro.
Como era difícil fazer linhas curvas no barro, passaram a fazer “marcas” calcadas na argila, com um estilete de ponta triangular, a cunha. Cada conjunto demarcas significava uma palavra.
Esta escrita foi chamada de “cuineforme”
Os babilônios desenvolveram uma escrita adequada ao uso das lajotas de barro. Seus vizinhos,os egípcios, criaram uma escrita que podiam ser gravada na pedra.
Escrever sobre a pedra é trabalhoso. Mas os documentos escritos  na pedra duram para sempre,o que era próprio da cultura egípcia,que dava muito importância à durabilidade de tudo.
Cada figura da escrita egípcia representava uma palavra.Essas figuras são os hierógrafos. Foram usadas nos monumentos.
Mais tarde os egípcios inventaram o papiro, que permitiu uma escrita mais rápida, que acabou influindo na significação dos hierógrafos, dando origem a escrita hierática e,mais tarde, demótica.
E assim, os egípcios deixaram três mil anos de história documentadas.
No Egito a atividade de escrever tinha muito prestígio. Havia profissionais treinados para isso – os escribas,que eram muito importantes na corte.
A civilização egípcia durou muitos séculos e a escrita foi sempre evoluindo.
Na verdade,os egípcios chegaram a inventar uma escrita fonética,quer dizer, uma escrita que cada som tem um símbolo ou uma letra.
Mas eles não souberam tirar grande vantagem dessa escrita, que era a simplificação misturando a escrita hieroglítica com a fonética.
A escrita fonética permite que se reproduzam todos os nos de todas as línguas com poucos sinais.
Os fenícios devem ter conhecido a escrita fonética através dos egípcios. Adaptaram o alfabeto fonético egípcio à língua fenícia e criaram o alfabeto de 24 letras, que usaram com muita habilidade.
Eles habitavam a região que hoje é a costa do Líbano.
Ainda hoje alguns povos usam escritas pictográficas e ideográficas.
Os chineses ainda escrevem assim:
Homem + arvore = descanso
2 árvores = bosque
3 árvores = floresta
Os japoneses usam quatro escritas diferentes que aparecem ao mesmo tempo até nos jornais:uma escrita ideofráfica, herdada dos chineses; um sistema silábico para os sons que não existem na escrita chinesa;um alfabeto romano, que serve para resolver os problemas restantes.
Os gregos adotaram o alfabeto fenício, mas inventaram novas letras para os sons que não existiam em fenício e abandonaram as letras cujos sons não existiam em grego.
Criaram uma porção de formas de escrever,  já que havia muitos Estados  gregos e muitas formas diferentes de falar.
Todos sabem o quanto os gregos se preocupavam com a beleza. Assim eles foram modelando as letras, de maneira a torná-las mais harmoniosas.
Estabeleceram a regra de escrever da esquerda para a direita, ao contrário das outras línguas  semíticas. E introduziram o uso das vogais.
Os romanos herdaram o alfabeto grego. E, como os gregos, tiveram de fazer adaptações introduzindo novas letras e eliminando as que não serviam para sua língua.
A forma das letras também foi se modificando, de acordo com as necessidades de sua civilização.Foi assim que as letras ganharam uma base, um pezinho especial, que permitia o alinhamento das palavras, especialmente nas grandes inscrições dos monumentos.
Ainda se usam essas bases em alguns tipos de letras, e são chamadas  “serifas”.
Hoje, todas as sociedades civilizadas possuem uma escrita. O mundo moderno precisa da escrita até para as coisas mais simples: a compreensão de placas, as instruções para o manejo das maquinas, as bulas de remédios.
Precisa da escrita para desenvolver teorias que levam ao desenvolvimento tecnol
ógico, para a explanação de sistemas filosóficos, para a discussão dos estudos religiosos.
E a escrita, que foi na Antiguidade privil
égio de sacerdotes e nobres, é hoje necessidade e direito de todos.
Desde a declara
ção de um sentimento até a conclusão de um grande negocio, a escrita tem servido à comunicação entre os homens.
E hoje, quando o homem começa a conquistar o espaço, ele envia, de suas poderosas naves, mensagens simples, na tentativa de comunicar a outros seres,que por ventura povoem outros planetas, nossa existência e onde nos encontramos.
Porque é natural do homem comunicar-se, estender a notícia de sua existência não só sobre a Terra, mas até pontos mais longínquos do universo.

Ruth Rocha e Otavio Roth

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