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- Alô?
- Alô, é daí que anunciaram um trombone nos classificados?
- É daqui, sim.
- Laura, é isso?
- É. Sou eu.
- E o trombone é seu?
- É
- Você toca trombone?
- É
- E como é?
- Bom, é de vara e...
- Não, não. Você.
- Eu?
- É. Como é que você é?
- O que que isso tem a ver com...
- Desculpe, mas é muito importante pra mim.
- Você quer comprar um trombone ou não quer?
- Olhe, não leve a mal. Mas eu preciso saber como você é.
- Bom, tenho trinta e dois anos. Sou clara, cabelos castanhos...
- E os olhos?
- Castanhos também. Um pouco cinzentos.
- São puxados, assim, pra cima?
- É. Um pouco.
- Escute. Eu vou dizer uma frase e você vai me dizer se ela significa alguma coisa para você. “Para que bichos de estimação, se tenho os teus pés?”
- ―Para que...
- “Bichos de estimação, se tenho os teus pés.” Pense bem.
- Não estou me lembrando...
- Pense bem. É muito importante.
- Não. Sinto muito. Não me lembro.
- Você tem um sinal na coxa esquerda?
- Como é que você sabe?
- Tem ou não tem?
- Tenho.
- Altura, um e cinqüenta, por aí.
- Por aí.
- É de Quarai?
- Sou!
- Come de tudo, menos miúdos.
- Exato.
- Gosta de azul, de caminhar na chuva e de J. Simmel.
- Vem cá, quem é que está falando?
- Ainda não posso dizer. Agora ouça. É muito importante. Você esteve em Foz do Iguaçu no verão de 70?
- Estive!
- Tem certeza?
- Claro. Fui com a minha tia.
- Uma que fraturou o braço?
- Isso mesmo! Quem é você?
- Tente se lembrar. “Para que bichos de estimação, se tenho os teus pés?”
- Não me lembro. Já tentei me lembrar, mas nunca ouvi essa frase antes.
- É pena...
- Por quê?
- Você não é a pessoa que estou procurando.
- Mas...
- Tchau.

Luís Fernando Veríssimo

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