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Família Desencontrada









O VERÃO é um senhor gordo, sentado na varanda,
suando em bicas e reclamando cerveja.

O OUTONO é um tio solteirão que mora lá em cima no
sótão e a toda hora protesta aos gritos: “que
barulho é este na escada?

O INVERNO é um vovozinho trêmulo, com a boina enterrada
até os olhos, a manta enrolada nos queixos e
sempre resmungando: “Eu não passo deste agosto
eu não passo deste agosto ...”

A PRIMAVERA, em contrapartida
--- é ela quem salva a honra da família! ---
é uma menininha pulando na corda e cabelos ao vento
pulando e cantando debaixo da chuva
curtindo o frescor da chuva que desce do céu
o cheiro de terra que sobe do chão
erguendo saias!
A alegria da chuva a cantar nas vidraças
sob as vaias do vento ...

Enquanto
--- desafiando o vento, a chuva, desafiando tudo ---
no meio da praça a menininha canta
a alegria da vida
a alegria da vida!

Mário Quintana. Família desencontrada. Poesia fora da estante. Editora Projeto. 1995

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