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A menina que se enfeitava demais




Os pais de Aree davam-lhe tudo o que ela queria. Cumulavam-na de presentes.
— Aree, estas argolas de ouro haviam de ficar tão bem nas tuas orelhas delicadas. Temos de  comprar!
— Aree, aquela pulseira de prata havia de ficar tão bem no teu braço fino. Temos de  comprar!
— Aree, aquele anel de rubis havia de ficar tão bem nos teus dedos esguios. Temos de to comprar!
Sempre que viam um corte de seda especialmente bonito, exclamavam:
— Oh, Aree, que bem há-de ficar-te esta cor! Temos de te comprar esta seda!
O quarto de Aree estava cheio de guarda-joias e de arcas a abarrotar de tecidos. Um dia, Aree ouviu falar de um baile na aldeia que ficava para lá das montanhas.
— Eis uma excelente oportunidade para exibir as minhas roupas requintadas! Mas, que cor hei-de usar? Cor-de-rosa, fúcsia, escarlate? Azul celeste ou verde-claro? Talvez violeta… ou púrpura… ou magenta. Talvez amarelo-torrado… ou verde-esmeralda. Penso que vou usar cor-de-rosa.
Vestiu um vestido cor-de-rosa brilhante. Mas havia um outro vestido, cor de esmeralda.
— Este verde é tão elegante! Talvez possa usar os dois!
Vestiu o verde por cima do rosa.
— Assim, posso exibir dois dos meus vestidos de seda! Só que este fúcsia é o mais alegre de todos. Penso que o vou usar também.
Pôs o fúcsia por cima do verde e começou a voltear.
— Vou ser a moça mais bonita do baile!
Mas não se ficou por ali.
— Este amarelo-torrado é especialmente bonito. E vejam só este azul brilhante…Ninguém tem sedas tão caras como as minhas. Já agora, porque não usá-las todas? A azul clara…a violeta…esta púrpura com fios de ouro puro. Se usar todos os meus vestidos, vou ser, de certeza, a moça mais bonita do baile.
A vaidosa Aree vestiu tudo o que tinha no armário. Como as roupas eram pesadas, ficou sem conseguir mexer-se.
— São um pouco pesadas, mas vejam só! Sou a moça mais bela do baile!
E a escolha continuou:
— E que pulseira usar? A de ouro? Sim. A de prata? Claro. A de jade? É a minha favorita. E os anéis? O de rubis? O de safiras? O de esmeraldas? O de pérolas? O de opalas? Todos eles, sem dúvida alguma!
Aree pôs todas as joias que possuía. As amigas chegaram pouco tempo depois.
— Aree! Pareces…
Nem sabiam o que dizer. Aree saiu de casa aos tropeções, carregada de sedas, anéis, pulseiras e brincos. Mal podia andar. Mas sentia-se orgulhosa.
Vejam só as minhas belas roupas. Vejam só o meu ouro e as minhas joias. Vou de certeza ser… a moça mais bela do baile!
Parecia tão pateta que as amigas fizeram um esforço para não se rirem.
Partiram em direção à aldeia. Mas Aree não conseguia acompanhá-las. Cedo começou a bufar de irritação.
— Esperem por mim! Esperem por mim! Não consigo subir a colina!
As amigas vieram ajudá-la.
— Podíamos empurrar-te pela colina acima.
— Não me empurrem porque podem amarrotar os meus vestidos!
— Podíamos puxar-te pela colina acima.
— Não me puxem porque podem sujar as minhas roupas de seda.
As moças decidiram deixar Aree para trás. Esta cambaleou durante algum tempo sozinha até que as chamou de novo.
— Esperem por mim! Esperem por mim! Não consigo subir a colina!
As amigas voltaram para trás.
— O que vocês têm é inveja das minhas roupas requintadas. Se fizer o que me dizem, já não serei a moça mais bela do baile.
Aree recusou-se a tirar fosse o que fosse. As amigas deixaram-na ficar ali e foram ao baile sozinhas.
Durante o dia todo, Aree arrastou-se pela colina acima debaixo de um sol escaldante. Chegou ao cume à noitinha. Parou, demasiado exausta para dar mais um passo, enfiada naquelas roupas tão pesadas.
Quando as amigas regressaram do baile, Aree ainda estava demasiado cansada para  poder mexer-se. Foram buscar os pais dela e, quando estes chegaram, Aree já não se sentia vaidosa.
— Pai, mãe, vesti coisas a mais! Não preciso destas roupas todas!
— Tira então alguns desses vestidos e algumas dessas joias pesadas. Ensinámos-te a querer demasiado. Tens de aprender a contentar-te com menos.
Joia a joia, vestido a vestido, Aree despojou-se de todas as suas coisas. Da vez seguinte que foi a um baile, estava lindíssima no seu vestido simples.


Margaret Read MacDonald
The girl who wore too much
Arkansas, August House, 1998
(Tradução e adaptação)

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