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Branca, a ratinha que não queria adormecer






Todas as noites, Branca, a pequena ratinha, dava voltas na cama, e olhava com inveja para a amiga Rosa, que dormia profundamente, a seu lado. Rosa, sorridente no seu sono, era a rainha da terra!
Branca detestava a noite, que era má e não lhe trazia sono. Toda a gente dormia sempre, exceto ela. A sua cabeça continuava às voltas, às voltas, como um pequeno hamster na sua roda.
Tentou de tudo para conseguir dormir: respirar tranquilamente, abraçar-se ao seu velhinho peluche cor-de-rosa, contar carneirinhos brancos, aranhas do teto, buracos de queijo, ninhadas de ratinhos. Mas nunca adormecia. Havia sempre alguma coisa nela que se mantinha bem alerta.
― O teu problema ― havia declarado o doutor Ratazana ― não é o coração, mas os ouvidos. Os teus ouvidos ouvem demasiado!
Branca tinha orelhas mágicas, que captavam tudo o que se passava do outro lado da casa e muito mais longe ainda. Um piar de ave, um esvoaçar de morcego, uma borboleta noturna perdida junto de uma lâmpada. Era como se todas as noites alguém aumentasse o volume do som! O pior é que ela ouvia tudo o que habitualmente os outros não escutam: os pais, a professora que dizia:
― Reviste bem a lição? Branca, aprende, aprende!
Ouvia mesmo o bebê da cunhada, que dormia na divisão ao lado. Mas ouvia também os malfeitores da noite a falarem entre eles. O gato Lúcifer com os seus grandes olhos verdes. Zorro, com patas e grandes garras... Todos os que queriam vir ao quarto dar-lhe uma patada ou fazer dela uma papa de rato! Então, dirigia-se, a tremer, ao quarto dos pais.
― Minha pequenina ― dizia a mãe ― a porta está fechada à chave! Olha!
E fechavam a porta diante dela, com um grande sorriso, para a tranquilizarem.
Mas a porta que estava aberta era a que estava dentro da sua cabeça, deixando passar todas os seus medos. Era assim que Branca vigiava sempre a casa, a cidade, e o mundo inteiro!
Era por isso que a ratinha gostava tanto de convidar uma amiguinha para casa, apenas para não estar só. Junto da amiga, a roda do pensamento deixava de girar.
As amiguinhas também gostavam de dormir em casa de Branca, que se mantinha sempre acordada, como uma mãe sempre vigilante.
― Eu sou a guarda do sono ― afirmava Branca, com orgulho.
Naquela noite, Branca e a amiga Rosa tinham rido imenso, comido alguns bombons e não tinham lavado os dentes. Depois, Branca bocejou, bocejou... até ver tudo à roda. Rosa estava zangada:
― Estás a ouvir-me, Branca? Vê lá, não adormeças! Não te esqueças de que és tu a guardar a casa! És a última a adormecer, tínhamos combinado! E, além disso, é melhor dormirmos juntas ― continuou Rosa. ― Se uma de nós tiver um pesadelo, a outra vai ter o mesmo pesadelo.
Os olhos de Branca brilhavam na noite. Se ao menos isso pudesse ser verdade! Se ao menos pudessem ser duas a apanhar o mesmo comboio da noite. Mas Branca sabia: para entrar na noite, estava-se sempre só.
Certo dia, no momento em que pensava, enfim, adormecer, às três ou quatro horas da manhã, de repente, ouviu:
― Tap-tap-tap...
Atordoada, viu dois enormes olhos amarelos e profundos, uma cabeça pequenina, e duas grandes asas que vieram pousar na secretária vermelha, precisamente à frente da sua cama. Era um mocho de olhos amarelos. Branca estava assustada e pensava: “Eu tinha razão para ter medo. Desta vez, vai-me levar para o ninho e vai comer-me viva.”
― És tu, Branca, a ratinha que não quer adormecer? Não me enganei na morada?
― Oh, não ― tremia Branca.
― Não tenhas medo de nada. Como sou o Rei da Noite, estou aqui para te ajudar.
Com o coração a bater, Branca olhava para os seus olhos amarelos a brilhar na noite.
― Ouvi dizer ― retomou o mocho ― que tinhas alguns problemas para dormir. É verdade?
― Sim, é ― suspirou Branca.
― Trata-se de mau funcionamento dos teus ouvidos, não é?
― Oiço demasiadas coisas. Os meus ouvidos são mágicos ― respondeu Branca, um pouco mais calma.
― Vamos ver essa magia ― disse o mocho, que tirou um pequeno instrumento luminoso da sua asa, como os que são utilizados pelos médicos dos ratos.
Examinando o ouvido de Branca, o mocho franziu o sobrolho. Branca podia, com um ligeiro movimento para a direita, ver o grande olho amarelo do mocho fechar. Fazia um pouquinho de medo, mas Branca tinha confiança nele.
― Hum, hum ― disso o mocho ― acho que os teus ouvidos são perfeitamente normais… Mas, o que vejo através dos teus ouvidos, do outro lado, é uma pequena luz, aí, no interior do cérebro. Uma pequena lampadazinha vigilante que nunca se apaga! Uma pequena lâmpada que se mantém acesa a ouvir tudo.
E abanou a cabeça, espantado:
― Como é que podes dormir com isso na cabeça? Eu não posso fazer nada por ti.
― Nada? ― perguntou Branca.
― Nada. Essa pequena luzinha está colocada fora do meu alcance. Está muito longe na tua cabeça. Mas tu podes fazer alguma coisa.
― Diz-me, diz-me depressa o que fazer ― pediu a ratinha.
― Aqui vai, então. Todas as noites, no momento em que te metes na tua caminha, apaga essa pequena luz no teu espírito. Ouve aquela pequena voz dentro de ti, que te diz: “Fecho tudo, não oiço mais nada. Estou sossegada. Vou pensar em coisas bonitas. Voar pelas nuvens, com os passarinhos. Ver as fadas das flores.”
Então, também os olhos amarelos do mocho se fecharam. Branca sentiu-se invadida por um imenso bem-estar como quando entramos numa banheira de água quentinha cheia de espuma. Sentiu todos os músculos do corpo a relaxar, uns após os outros. “Estou bem, bem...” E adormeceu rapidamente.
Depois deste dia, Branca deixou de estar acordada a ouvir coisas. Quando tem sono, diz:
― Boa noite.
E se uma amiga refila, ela repete: “Boa noite” e apaga a pequena luzinha interior, como se faz com a luz de cabeceira ou com o telemóvel. Nesse momento, sente-se sempre invadida por um imenso bem-estar.
É ela que decide quando acende e quando apaga a sua pequena luzinha...
Ela, e mais ninguém.


Sophie Carquain
Petites leçons de vie. Pour l’aider à s’affirmer
Paris, Ed. Albin Michel, 2008
(Tradução e adaptação)

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