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Diogo e Diego discutem





Os esquilos Diogo e Diego moravam perto um do outro. Eram como irmãos gêmeos, embora Diogo tivesse uma cauda totalmente ruiva e a cauda de Diego tivesse alguns pelos brancos. Diogo tinha construído a sua casa no buraco de uma nogueira e Diego tinha escolhido uma aveleira. Cada um tinha decorado o ninho a seu gosto e gostavam ambos muito de cozinhar. Um dia, Diego levou um frasco de compota de avelãs a Diogo e este ofereceu-lhe licor de noz. Foi um comportamento gentil, não foi?
E, contudo, nenhum deles pensou nisso. Enquanto provava a compota, Diogo ia pensando: “Estas compotas de avelã têm um sabor delicioso de madeira recém cortada, de manteiga e de trigo.” E a inveja apoderou-se dele. Enquanto sorvia o seu licor de noz, Diego resmungava: “Realmente, há quem tenha tudo. Este licor de noz é verdadeiramente suculento! Quando penso que o Diogo pode bebê-lo todas as noites.” E o seu coração encheu-se de amargura.
A partir desse dia, cada um olhava o outro com inveja. Quando Diego pensava no ninho soberbo de Diogo, com uma cobertura mole de penas de avestruz, tinha vontade de amuar até ao raiar do sol. Quando Diogo pensava na cama de rede que Diego tinha fabricado, tinha vontade de lhe morder o nariz até fazer sangue.
Um dia, Diego cheirou um odor delicioso de Pinhão nº 5.
— Cheira tão bem em tua casa — disse, sem conseguir esconder o descontentamento.
— Foi uma prenda da minha tia — respondeu Diogo, que semicerrou os olhos para ver melhor o boné de Diego, feito de plumas de avestruz cosidas à mão. “Trá-lo de propósito para me fazer inveja”, pensou logo Diogo.
— Que boné! — exclamou, fazendo uma careta.
— Oh, é uma coisinha de nada — respondeu Diego, que era muito vaidoso. — Trata-se de uma prenda da minha tia costureira.
Nessa mesma noite, Diego pensou no guarda-comida de Diogo e Diogo pensou no guarda-roupa de Diego. Quanto mais o tempo passava, mais eles pensavam no que não tinham: uma coleção de conchas de noz, um bocado de vaso encontrado num campo, uma espiga de milho para decorar a casa… A menor quinquilharia punha-os verdes de inveja. Tudo o que um deles tinha, o outro também queria ter. Chegavam a brigar duramente para arrancar das mãos do outro uma casca de noz ou um pedacinho de castanha.
Um dia, quando Diego encontrou um trevo de quatro folhas, Diogo pôs-se a choramingar: o trevo era seu, fazia parte do seu território. E quando Diogo apanhou um ramo de papoulas, Diego bateu à porta do amigo para lhe pedir metade do ramo. Diego teve ciúmes do aniversário de Diogo e Diogo teve ciúmes da tosse convulsa de Diego. Diogo teve ciúmes da varicela de Diego e Diego teve ciúmes da constipação de Diogo.
Os ciúmes e a inveja davam-lhes dores de barriga. “Alguém me quer mal”, pensava Diego, “a floresta já não gosta tanto de mim, já não me dá tantas coisas como outrora”.
Acabaram por fazer tanta algazarra que todos os vizinhos do bosque (as rolas, as andorinhas, as pombas e os ratos) se reuniram para trocar impressões.
— Não estamos para aturar as vossas disputas!
— Falem mais baixo!
— Já ninguém se entende!
Toda esta barulheira acabou por chegar aos ouvidos da Grande Coruja, que se deslocou pessoalmente para avaliar a disputa.
Ouviu então as queixas dos dois esquilos.
— O ninho dele é mais macio do que o meu!
— O dele é maior do que o meu!
— Até teve a varicela!
— E ele teve a tosse convulsa!
— Pois, mas a varicela é melhor do que a tosse convulsa! Faz comichão, mas não dói tanto!
A Grande Coruja ria-se por detrás dos seus óculos.
— Daqui a pouco quem tem ciúmes de vocês sou eu. Vocês têm tantas coisas. E, no entanto, não estão contentes. Isso é pena!
A Grande Coruja continuou, olhando-os através dos seus óculos enormes:
— Se eu fosse Diego, gostaria de ser Diego. E se fosse Diogo, gostaria de ser Diogo. Se fosse a ti, Diego, teria orgulho em ter um amigo como o Diogo. E tu, Diogo, devias estar contente por teres um amigo que faz compota de avelãs tão bem! Vou ensinar-vos como uma pessoa aprende a gostar ainda mais de outra. Diego, tu vais dar compota de avelãs ao Diogo e vais fazer para ele um boné de plumas. Quanto a ti, Diogo, vais fazer licor de noz para o Diego e algumas almofadas para ele decorar o seu pequeno ninho. Sugiro ainda que, de vez em quando, troquem de casa. Terão assim a impressão de ir de férias.
E foi o que aconteceu. Diego fez um boné de plumas soberbo para o seu amigo Diogo usar no Inverno e Diogo fez pequenas almofadas cheias de lasquinhas de avelã trituradas para Diego. De vez em quando, durante o fim-de-semana, trocavam de casa, só para sentirem como as suas próprias casas eram confortáveis. Diogo e Diego tornaram-se os melhores amigos do mundo.



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