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A Casa Amarela







Cauã é um garoto de 11 anos que mora numa linda casinha amarela. Filho de seu Alceu e dona Bela, Cauã gosta muito de conversar, jogar bola e fazer desenhos. Ele desenha o rosto das pessoas e tudo o que ele acha bonito, pois é muito esperto e observador.
Mas nem sempre Cauã foi assim.
Quando ele era bem pequeno, não aprendeu a falar como as outras crianças. Quando sua mãe o chamava, ele não respondia e não brincava com a vizinha, a Bia.
Quando queria uma coisa, não sabia como pedir — chorava e apontava. Seu pai achava que ele nunca iria se comunicar, brincar com as outras crianças, ou aprender a ler. Por isso, seu Alceu, Cauã e dona Bela viviam aborrecidos na casinha amarela, sem brincar e quase sem conversar.
Até que, um dia, dona Bela e Cauã foram conhecer o doutor Luís, um médico otorrino, isto é, ele cuida do nosso ouvido, garganta e do nosso nariz. Ele era muito bacana e fez alguns exames... Finalmente, descobriu que o Cauã não podia escutar os sons do nosso dia-a-dia e da fala. Ele vive num mundo sem som, nasceu surdo, e, neste mundo de silêncio, muitas dificuldades precisam ser superadas.
O doutor Luís ainda explicou que, hoje em dia, a surdez pode ser descoberta bem cedo, assim que o bebê nasce, através do “teste da orelhinha”.
Cauã teve, sim, muitas dificuldades para superar. Quando começou ainda pequenino na escola, percebeu que a professora, tia Rosa, mexia a boca de maneira muito engraçada, e ele não conseguia aprender e falar as letrinhas que ela ensinava. Queria ficar apenas desenhando as coisas de que mais gostava. Seus desenhos eram sempre em branco-e-preto... Não havia cores.
Um dia, em comemoração ao mês das crianças, o mímico Sílvio foi fazer uma apresentação na escola, e só então Cauã começou a mostrar que podia compreender a linguagem dos gestos.
Ele até fez um desenho do mímico Sílvio, com seu nariz grande de palhaço. Isso chamou a atenção da professora Rosa.
A pedido da tia Rosa, ele e sua mãe foram visitar a fonoaudióloga Mônica, uma profissional que cuida da voz e ensina as pessoas com dificuldades a pronunciar os sons da fala. Ela pôde encontrar uma nova maneira de ensinar Cauã a se comunicar com as pessoas e começar a dar significado a todas as coisas que ele via, mas não entendia.
A fono Mônica atendia numa instituição onde ele conheceu outras crianças que também eram surdas. Algumas ficaram surdas bem pequeninas, após terem aprendido a falar. Tinha também aquelas que podiam escutar um pouco e usavam um aparelhinho no ouvido...
Outras, como Cauã, eram surdas desde que nasceram e faziam sinais, falavam com as mãozinhas e usavam a LIBRAS (língua brasileira de sinais) para se comunicar.
Cauã, que já estava com quase 6 anos, começou então a entender muitas coisas. O mundo passou a ter significado. A primeira coisa que a fono
Mônica fez foi colocar nomes escritos nos objetos da casa de Cauã, da sala da instituição e da escola.
Ele adorou aprender o seu nome e o nome dos colegas em sinais. Você sabia que os surdos criam um sinal que corresponde ao nome de cada amiguinho?
A fono Mônica foi para a escola e orientou a professora Rosa a aprender
LIBRAS, juntamente com os pais de Cauã. Assim, todos começaram a se entender e se comunicar melhor, e Cauã ficou muito mais feliz. Ele passou a aprender as letrinhas do alfabeto e os seus sinais; e fazia todas as lições que a professora ensinava.
A Marissol, que adora tocar o dó, ré, mi, fá, sol, é a professora de música da escola e teve uma grande ideia. Ensaiou um lindo coral.
Explicou para as crianças ouvintes, amigas de Cauã, que o ritmo vem do coração, e mostrou como ele poderia sentir a música através da vibração, tocando as mãozinhas na caixa de som, sentindo o tremer e o vibrar das ondas sonoras.
Na apresentação do coral, as crianças ouvintes cantavam e Cauã fazia a tradução das músicas em LIBRAS, cantando com as mãos, mostrando a todos que o ritmo nasce do coração e os sons e os movimentos podem nascer do silêncio.
As crianças gostaram tanto que também quiseram aprender a falar com as mãos. E Cauã as ensinou.
Hoje, Cauã tem muitos amigos: amigos surdos como Maria Inês, que fala LIBRAS com muita rapidez; o Maurício, que usa aparelho, sabe falar e gosta de desenhar; e também a dona Anita, que já é idosa e ficou surda há pouco tempo. Amigos ouvintes, ele também tem muuuitos...
Agora, ele sabe ler e escrever, frequenta a escola e a instituição em que trabalha a fonoaudióloga Mônica.
Nos finais de semana, joga futebol, adora fazer seus desenhos — que, aliás, estão cada dia mais bonitos e coloridos. Cauã entende as pessoas, o significado das coisas e o mundo.
E a casinha amarela? A casinha amarela está sempre cheia de gente; são os amigos de Cauã, que adoram sua companhia, e também de seu Alceu e dona Bela, que, muito tagarela e contente, faz cachorro-quente para todos.



Keyla Ferrari

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