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O segredo







A caixa do Faísca tinha um segredo que os outros guris queriam descobrir. Certas horas do dia, a praça ficava deserta. Os engraxates aproveitavam para brincar de pegador ou fazer estripulias. Faísca sentava-se à sombra de uma árvore e colava o ouvido na caixa. Se alguém se aproximava para perguntar o que ele estava ouvindo, Faísca ia embora. Os guris ficavam de longe, espiando o jeito do Faísca. Parecia que ele ouvia rádio.
O interessante é que Faísca gostava mesmo de música. Uma tarde, ficou muito tempo à porta de uma loja de cd’s, e por causa disso deixou de ganhar dinheiro. Quem sabe ele tinha um rádio escondido dentro da caixa? Só podia ser isto. Com certeza roubou um rádio portátil. Se não roubou, gastou o dinheiro que devia ter deixado em casa.
A curiosidade foi tanta que pensaram em tirar a caixa do Faísca. Mas quem se atrevia a fazer isso? Foram então dizer ao Gringo que o Faísca tinha um rádio escondido.
Gringo era um homem que trabalhava numa cadeira de engraxate. Todos sabiam que ele era mau e desonesto. Chegaram a se arrepender quando Gringo perguntou onde estava o Faísca. Tarde, no entanto, porque Faísca podia ser visto não muito longe dali, ouvindo colado à sua caixa, como se estivesse escutando música.
- Foge, Faísca!
Não adiantou o grito de um dos guris. Ele estava tão distraído que nem viu o perigo. Gringo tentou segurar a caixa. Faísca se defendeu como um gato brabo e deu-lhe pontapés. Gringo ficou irritado e deu um tapa no Faísca. A caixa caiu e se esparramaram as escovas e latas de graxa. Como não viu rádio nenhum, Gringo tratou de ir embora o quanto antes.
Faísca não costumava chorar, mas agora tinha o rosto lavado de lágrimas. Apanhou humildemente suas coisas e meteu-as dentro da caixa.
O sol estava ameno, os passarinhos cantavam nas árvores, as crianças começavam a chegar para brincar nos balanços. Dentro em pouco, a praça estaria movimentada e Faísca teria muito trabalho. Já não tinha mais tempo para raiva ou tristeza, toda atenção era pouca para não perder freguês.
Antes de ir em direção a um senhor que estava lendo o jornal, Faísca levou a caixa no ouvido. E sorriu, pois o grilo cantou duas vezes para dizer que ainda estava lá dentro.

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