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O Camponês Ling e Suas Sete Máscaras









Era uma vez um camponês que tinha medo, muito medo. Tanto medo que saía pouco. Plantava e criava animais em sua própria terra, para não precisar sair muito. Como saía pouco, cada vez foi ficando com mais medo e pensou que uma forma de esconder o medo era usar uma máscara. Fez uma, mas achou que em certas ocasiões talvez fosse melhor fazer mais uma e assim fez duas, depois três, quatro, cinco, seis e sete. E mais não fez porque não tinha como colocá-las. Aí parou de fazer máscaras, usava uma sobre a outra. Estas máscaras pesavam, incomodavam, via pouco, ouvia pouco, perdeu a noção de calor e frio, desaprendendo a viver sem máscaras. Passou a sair menos ainda porque assim não tinha que responder perguntas, nem ver gente. Plantava, colhia, cuidava dos animais. Fazia grandes provisões para sair cada vez menos. Um dia percebeu que não tinha mais sal, mas para não ter que sair passou sem sal, a comida perdeu o sabor e um de seus poucos prazeres terminou. Apesar disto resistiu muito, comendo a comida sem sal até resolver que precisava ir à vila mais próxima para comprar sal. Mas, fazia tanto tempo que não saía, que não lembrava mais do caminho. Só conseguia lembrar vagamente que precisava encontrar uma trilha dentro do bosque. Adiou, adiou até que resolveu enfrentar o medo e foi. Entrou no bosque e havia várias trilhas, escolheu uma, andou muito, anoiteceu e o LING percebeu que não sabia mais chegar à vila. Então teve muito medo. Teve medo do escuro, do frio, dos animais e dos salteadores. Só que não tinha escolha, pois não sabia voltar, encolheu-se e dormiu. No meio da noite foi acordado, eram os salteadores. Queriam dinheiro. Não havia dinheiro. Tinha apenas alguns ovos que usaria para trocar pelo sal. Os salteadores irritados levaram os ovos, suas roupas, sapatos, as máscaras e também lhe deram uma surra.
O camponês LING machucado e com medo encolheu-se e chorou. Depois o cansaço foi maior que o medo e LING dormiu. Foi acordado por um forte calor e viu uma claridade que não sabia o que era, nem de onde vinha. Desta vez não teve medo, sentiu-se bem, espreguiçou-se, esquentou-se e dançou. Ficou alegre e lembrou que aquele calor e aquela luz eram do sol, e ficou espantado tentando entender como havia esquecido do Sol.
LING caminhou nu e feliz, descobrindo cores, cheiros, novas trilhas e muitas coisas com novos sabores para comer nestes caminhos. Riu e pulou feliz com as descobertas e esqueceu de que havia saído para buscar o sal. Quando chegou ao fim de uma das trilhas, ficou surpreso pois havia voltado ao começo do caminho, e estava perto da casa.
LING improvisou uma canção ao ver sua casa, deu comida aos animais, cuidou de suas plantas e colheu o que havia para ser colhido. Aí lembrou-se do sal e que afinal tudo tinha acontecido por causa dele. Zangado, LING começou a esbravejar, e a querer destruir tudo a sua volta. Na sua fúria virou uma tina em que há muito tempo havia colocado água do mar e para sua surpresa esparramou-se uma grande quantidade de poeira branca. LING provou uma pitada da poeira e descobriu que no fundo da tina, na qual não mexia há anos, havia se acumulado uma grande quantidade de sal...


(Fábula chinesa oriunda de tradição oral - Autor anônimo)

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