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A Última Folhinha Verde





Há muito tempo atrás, no Hemisfério Norte, havia um rei que estava de cama, muito doente ... morrendo lentamente.
Porém, mais forte do que a doença que lhe consumia, era o profundo desânimo que lhe tocava a alma. O rei havia desistido de viver.
Sua filha vinha vê-lo todos os dias e tentava animá-lo, relembrando dos bons momentos da vida.
Mas em vão, ela não reagia. O rei havia desistido e viver.
Passava os dias inteiros na cama, olhando para a janela à sua frente e observando uma grande árvore que ia lentamente perdendo suas folhas, porque o outono havia chegado.

Em uma manhã, quando a filha tentava animá-lo, o rei lhe disse:
- Sabe, filha, quando aquela árvore perder a última de suas folhas, terá chegado a minha hora de morrer...
- Que é isso pai? Que tolice! Por que amarrar o seu destino ao destino de uma árvore?
Mas o rei não a ouviu, tão absorto estava em sua melancolia.
A filha então compreendeu que existem momentos em que as palavras ficam muito pobres e não dão mais conta de acender uma luzinha no coração das pessoas.
Resolveu agir.

Assim que o pai adormeceu, a moça entrou no quarto com um pincel e um potinho de tinta verde. Subiu em um banquinho e pintou no vidro da janela, bem na direção da árvore que seu pai olhava, uma folhinha verde.
À medida em que o outono ia avançando e o inverno tomava seu lugar, as folhas da árvore desprenderam-se todas e saíram dançando ao vento...
O rei observava cuidadosamente todos os seus movimentos.
Observava, especialmente, uma certa folhinha verde muito teimosa e persistente, que não se movia do lugar e ficava agarrada a árvore, não importava o quão forte fosse o vento, quão inclemente fosse a chuva.
Até que a neve chegou e cobriu a árvore com um manto branco.
Mas, de sua cama, o rei havia atado o fio da vida àquela folhinha verde e continuava olhando-a fixamente.

E foi assim, agarrando-se à folhinha verde que o rei atravessou o inverno de sua doença e o inverno de sua alma.
Então, quando a primavera chegou e muitas novas folhinhas cobriam a árvore e aquela pequena folha verde ficou perdida entre tantas outras, o rei encontrou seu ânimo, sua vontade de viver e ficou de pé. Voltou à vida.
Mais tarde, enquanto limpava a folhinha pintada na janela a filha pensou:
- Espero que, algum dia, se o desânimo tomar conta do meu ser, alguém consiga oferecer uma folhinha verde, para que eu possa receber, através dela, a seiva da vida.


"A Última Folhinha Verde " - reescrita por Rosângela Alves

A Raposa e o Cavalo










Um fazendeiro tinha um cavalo que lhe havia servido muito fielmente, mas que agora estava velho demais para trabalhar. Por isso o fazendeiro não queria mais lhe dar de comer e disse:
- Não quero mais saber de você, caia fora do meu estábulo; não o receberei de volta até que esteja mais forte que um leão. E assim dizendo, abriu a porta e mandou-o embora.
O pobre cavalo ficou muito triste e errou para um lado e para o outro pela floresta á procura de um pequeno abrigo contra o vento frio e a chuva. Foi então que uma raposa o encontrou.
- Qual é o problema meu amigo? disse ela. Por que está de cabeça baixa e parece tão solitário e triste
- Ah!, replicou o cavalo, - justiça e avareza nunca convivem numa casa. Meu amo esqueceu de tudo que fiz por ele durante tantos anos, e como mão posso mais trabalhar, mandou-me embora dizendo que a menos que eu fique mais forte do que um leão, ele não me receberá de volta. Que chance posso ter de que isso aconteça? Ele sabe que nenhuma, se não, não teria falado assim.

A raposa, porém, o encorajou dizendo:
- Eu vou ajudá-lo; deite-se ali e fique esticado como se estivesse morto. O cavalo fez como lhe disse e a raposa foi diretamente até o leão que vivia numa caverna perto dali e lhe disse:
- Perto daqui tem um cavalo morto; venha comigo e poderá fazer uma ótima refeição de sua carcaça.
 O leão ficou muito contente e partiu imediatamente, mas quando chegou junto do cavalo, a raposa disse:
- Você não poderá comê-lo confortavelmente aqui; vou lhe dizer o que fazer – Eu o amarrarei a sua calda e então poderá arrastá-lo até a sua cova e poderá comê-lo mais à vontade.
O conselho agradou o leão que se deitou calmamente para a raposa amarrá-lo ao cavalo. Mas a raposa deu um jeito de amarrar as pernas do leão uma nas outras e prendê-lo com tanta firmeza que nem usando toda sua força ele conseguiu se libertar. Feito o serviço, a raposa deu um tapa no lombo do cavalo dizendo:
-  Eia! Pangaré! Eia!.
 Este então se levantou e saiu arrastando o leão atrás de si. A fera começou a rugir e bufar até todos os pássaros do bosque fugirem de medo, mas o cavalo deixou-o berrar e seguiu seu caminho pelos campos para a casa de seu amo.
- Ei-lo aqui, amo, peguei o melhor deles.
- Você vai ficar no estábulo e será bem cuidado
E assim o pobre cavalo velho teve fartura de comida e viveu – até morrer.



A Princesa do Castelo em Chamas







Era uma vez um homem que tinha tantos filhos quantos furos tem uma peneira. Todos os homens da aldeia já eram seus compadres. Ao nascer-lhe mais um filho, sentou-se na estrada para pedir ao primeiro transeunte que fosse padrinho da criança. Vinha então descendo a estrada um velho com um manto cor de cinza, ao qual ele fez o pedido, aceitou com prazer. Seguiram juntos o caminho, e o velho ajudou a batizar a criança. Deu, então, de presente ao pobre uma vaca e um bezerro nascido no mesmo dia em que seu afilhado. O bezerro tinha na testa uma estrela dourada e deveria pertencer ao menino.
Quando o menino cresceu, o bezerro se havia tornado um enorme touro, e juntos iam ambos todos os dias ao pasto. O touro sabia falar e, quando chegavam ao topo da montanha, dizia ao menino:
- Fica aqui e dorme. Enquanto isso, vou procurar meu pasto.
Assim que o pastor dormia, o touro corria como um raio até o grande pasto celeste e comia flores douradas de estrelas. Quando o sol se punha, ele voltava para acordar o menino, e iam, então para casa. Isto se repetiu todos os dias até o menino alcançar a idade de vinte anos. Um dia, disse-lhe o touro:
-Senta-te agora entre os meus chifres e eu te levarei até o Rei. Pede-lhe uma espada de ferro do tamanho de sete varas e dize-lhe que queres salvar sua filha.
Logo eles estavam no castelo real. O pastor desceu e foi ter com o Rei; este lhe perguntou o motivo de sua vinda. Após ouvir a resposta, deu-lhe com prazer a espada desejada, mas sem muita esperança de poder rever sua filha. Muitos jovens audaciosos tinham em vão ousado libertá-la. Ela fora raptada por um dragão de doze cabeças, que morava muito, muito longe. Ninguém podia chegar até lá, pois no caminho para seu castelo se encontrava uma serra imensamente alta, intransponível; e, mais além, um grande mar bravio. Adiante dele morava o dragão, em seu castelo de chamas. Mesmo se alguém conseguisse transpor a serra e o mar, ninguém lograria passar pelas chamas poderosas; e, mesmo tendo-as vencido, teria sido morto pelo dragão.
Quando o pastor obteve a espada, montou novamente entre os chifres do touro, e num instante eles se encontraram diante da serra imensa.
-Podemos voltar – disse ela ao touro, pois achava impossível transpô-la.
O touro respondeu-lhe:
-Espera apenas um instante!
E desceu o rapaz ao chão. Mas tinha feito isso, deu um impulso e moveu, com seus chifres poderosos, a serra inteira para o lado; e eles puderam seguir em frente.
O touro assentou o pastor novamente entre os chifres, e logo eles alcançaram o mar.
-Agora podemos voltar – disse o jovem -, pois ali ninguém consegue passar.
-Espera apenas um instante – retrucou-lhe o touro -, e segura te bem em meus chifres.
Então inclinou a cabeça até a água e bebeu o mar inteiro, e assim prosseguiram eles em chão seco, como sobre um gramada.
Logo chegaram ao Castelo de Chamas. Mas, já de longe, sentiram um calor tão imenso que era quase insuportável ao rapaz.
Para! – gritou ele ao touro -, não vás em frente, senão vamos morrer queimados.
O touro, porém, correu até bem perto e cuspiu de uma vez por sobre as chamas o mar que havia bebido, e elas rápido se apagaram. E logo uma fumaça enorme se elevou, enevoando todo o céu. Então, do vapor medonho, saltou o dragão de doze cabeças, enraivado.
-Agora é tua vez – disse o touro a seu amo. – Vê se consegues cortar todas as cabeças do monstro de um só golpe.
Ele juntou toda a sua força, tomou a espada poderosa com as mãos e golpeou tão rapidamente o monstro que todas as cabeças rolaram ao chão. O animal se contorceu e se debateu contra a terra com tal força que ela tremeu. O touro apanhou o corpo do dragão com seus chifres, arremessando-o ás nuvens; e nada mais se viu dele.
O touro disse ao pastor:
- Minha tarefa chegou ao fim. Vai até o castelo, e lá encontrarás a princesa. Leva-a de volta a seu pai.
Tendo dito isto, correu para o gramado celeste, e o rapaz nunca mais o viu.
O jovem se dirigiu ao castelo, onde encontrou a princesa, que se alegrou muito por estar livre do terrível dragão.
Regressaram ambos então ao país da princesa, onde se casaram; e uma enorme alegria invadiu todo o reino.




(Conto da Transilvania, Romenia)