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O abismo de gerações





A orientadora andava muito preocupada com um dos alunos, o Marcelo. O rapazinho chegava para as aulas sempre de mau humor, sempre de cara amarrada. Aos poucos, porém, com o passar das aulas, Marcelo se descontraía, ia ficando alegre e brincalhão.
“Esse rapaz deve estar com problemas em casa...” – desconfiou a orientadora.
Pensou e chamou o Marcelo para uma conversa. O garoto foi logo falando:
– Eu não aguento mais o meu pai!
– Por que, Marcelo?
– Ele vive brigando comigo. Todo dia é a mesma coisa. Ele implica com as minhas roupas, me dá bronca por causa do meu cabelo e diz que as músicas que eu gosto não passam de porcaria. Assim não dá!
Com muita paciência, a orientadora perguntou:
– E você? Gosta das roupas que seu pai usa?
– Eu? Eu não!
– Você gosta do corte de cabelo dele?
– É claro que não!
– E o que você acha das músicas que ele gosta de ouvir?
– Acho chatas. Quadradérrimas!
A orientadora sorriu. Estava na pista certa.
– Marcelo, existe alguma coisa que seu pai goste e você também goste?
O garoto pensou um pouco. Ele também queria encontrar uma solução para o problema.
– Bom... ele gosta da mamãe e eu também gosto!
– Está ótimo, Marcelo. Mas, além da mamãe, não tem outra coisa que vocês dois gostem?
– Hum... Não sei... acho que não...
– Você gosta de futebol, Marcelo?
– Adoro!
– E seu pai?
– É fanático!
– Vocês dois torcem pelo mesmo time?
– É claro! Quando eu era pequeno, meu pai sempre me levava ao estádio!
– Então, Marcelo, vamos fazer o seguinte: quando você encontrar seu pai, não deixe a conversa cair para o lado de roupas, música, nem da moda dos cortes de cabelo. Fale sobre seu time, converse sobre futebol. Depois vá pensando em outras coisas que você e seu pai gostam. Você vai descobrir uma porção. Daí, procure sempre conversar com ele
sobre essas coisas e nunca sobre o que pode dar discussão. Depois me conte no que deu tudo isso.
Passaram-se duas semanas sem que a orientadora encontrasse o Marcelo. Ela resolveu dar tempo ao tempo e esperou que o garoto a procurasse.
Certo dia, Marcelo entrou pela sala de orientação adentro, com um sorriso que iluminava tudo em volta. Olhou para a orientadora e disse:
– Sabe? Meu pai é um cara genial!


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