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A Tagarela







             Cecília: simpática, alegre, inteligente. Mas como falava! Muito. O tempo todo.

             Sem parar. Cecília, pra resumir, falava pelos cotovelos...
             Deixava os pais tontos, de tantas coisas que tinha pra contar e pra perguntar. Cecília era um poço sem fundo.
             - Mãe, você sabe da última lá da escola? A Júlia falou pra Ana, que contou pra Helena, que...
           - Pai, o que é economia paralela? Eu li no jornal, mas não entendi direito. Tem alguma coisa com  duas retas paralelas? Por que isso eu sei o que é. É assim...
            Na escola, a professora ficava maluca. Cecília perguntava sem parar, respondia sem parar, contava o tempo todo, falava, falava, falava.... Era uma torneirinha constantemente aberta.
            As colegas a adoravam: era amiga, companheira, generosa... Mas como falava! Era difícil aguentar tanto falatório. Pra não magoar Cecília, resolveram: passaram a se revezar no recreio, pra lhe fazer companhia. (...)
            Sua companheira preferida era a fiel boneca Suzi. Essa nunca reclamava, nunca pedia silêncio, nunca se revezava com ninguém. Ficava calada, escutando sempre, paradona.  Não se mexia, nem piscava. Era uma ótima ouvinte.
             - Veja você, Suzi, o que me aprontaram na aula de Matemática. A professora pediu pra eu dizer a tabuada do 9. Aí eu disse. Aí eu sabia as outras tabuadas e fui falando, uma atrás da outra. Aí quando eu fui perguntar pra ela se estava tudo certo, ela nem estava prestando atenção. Aí eu comecei tudo de novo e ela ficou zangada e me mandou sentar. Só porque ela tinha pedido pra eu dizer a tabuada do 9 e...
            Era mais ou menos assim o dia a dia de Cecília. O tempo passando, as coisas acontecendo e Cecília tagarela, tagarelando.
            Um dia, porém, Cecília começou a ficar rouca. E ficou rouquinha da silva. Mas isso não a impedia de falar. E quanto mais falava, mais rouca ela ficava. A mãe pediu, implorou para que a filha se calasse um pouco. Claro, foi tudo em vão.
           O médico receitou montes de remédios, mas sem resultado. Então, resolveram consultar um especialista em cordas vocais. Após o exame, ele explicou que a garota tinha um problema numa das cordas vocais e deveria ser operada:
           - Operação simples – disse ele. É feita no consultório e a menina pode voltar para casa no mesmo dia. A única recomendação é a seguinte: ela não poderá falar, em hipótese alguma, durante uma semana. Depois disso o caso estará encerrado...         
           
 Alina Perlman




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