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A fada que tinha ideias - Capítulo 09 - O teatro de Clara Luz







  - Mamãe, hoje ponha o seu vestido mais bonito, que vai haver uma surpresa - disse Clara Luz.
  - Surpresa? Aposto que você convidou algumas amiguinhas para virem brincar e tomar refresco de orvalho. Será isso?
  - Nada disso. Muito mais interessante.
  À noite, a Fada-Mãe pôs o seu vestido mais brilhante, para fazer a vontade de Clara Luz.
  - Mamãe, que beleza! Você até está parecendo a Fada das Sete Madrugadas!
  - Quem é essa? Não me lembro dela!
  - É uma fada que eu inventei.
  A Fada-Mãe começou a rir:
  - Fada não se inventa, minha filha. Fada existe ou não existe.
  - Pois eu inventei a Fada das Sete Madrugadas agorinha mesmo e aposto que ela já está existindo. Mas vamos logo, senão chegamos atrasadas.
  - Vamos onde, querida? A surpresa não é  aqui em casa mesmo?
  Clara Luz riu:
  - Não, mamãe. A surpresa é no céu inteiro.
  A Fada-Mãe ficou com um pouco de falta de ar:
  - Minha filha como é mesmo aquilo que você explica e que eu melhoro da falta de ar?
  Clara Luz explicou e a Fada-Mãe melhorou logo.
  Saíram. Todas as fadas, que tinham vindo para a festa, já estavam nas arquibancadas de nuvens que Clara Luz tinha feito.
  Era lindo vê-las, com seus vestidos dourados, prateados, azulados, sentadas nas nuvens, esperando a festa. As filhas não paravam de se remexer e de trocar de lugar.
  Assim que a Fada-Mãe se acomodou, ouviu-se uma forte trovoada. O Senhor Relâmpago, Dona Relâmpaga e os cinco filhos, entraram e cumprimentaram, como artistas de teatro.
  - Cuidado com essa família, que é muito perigosa! -  exclamaram algumas fadas, que não conheciam Dona Relâmpaga e não sabiam como ela era simpática.
  Mas o Senhor Relâmpago começou a cantar. Quem fizera a canção fora Clara Luz.
  Contava todas as viagens do Senhor Relâmpago, pelas montanhas, cidades e mares. E terminava assim:
 
  Derrubei carvalhos
  e queimei florestas.
  Quando eu era moço,
  não queria festas.
  Mas de incendiar,
  já estou enjoado.
  Quero festejar,
  que é mais engraçado!

  - Muito bem! Muito bem! Viva o Senhor Relâmpago! -  aplaudiram as fadas, que nunca tinham reparado que bela era a voz do Senhor Relâmpago.
  Ninguém mais estava com medo da família Relâmpago.
  Logo em seguida, o Senhor Relâmpago, Dona Relâmpaga e os cinco filhos começaram a cantar em coro.
  Era a hora do balé de estrelas cadentes.
  De todos os cantos do céu, começaram a surgir estrelas rodopiando.
  Só quem viu um balé de estrelas cadentes, com coro de relâmpagos, pode fazer ideia da beleza que é.
  As fadas choravam de emoção.
  Mas o ponto mais maravilhoso do bailado foi quando surgiu a Fada das Sete Madrugadas e começou a dançar com as estrelas.
  A família  Relâmpago cantou:

  Sete são as madrugadas,
  poderiam ser setenta.
  As coisas que a gente inventa
  são sempre bem inventadas.

  A Professora de horizontologia, que estava entre as fadas convidadas, começou a cantar também:
 
  Mora no oitavo horizonte
  um grande leão dourado.
  Isso não é muito longe:
  é mesmo aqui, ao meu lado.

  Na mesma hora o leão dourado apareceu, sacudindo a juba cor de ouro, e ajoelhou-se, para a Professora montar nele.
  Relampinho, entusiasmado, cantou sozinho:

  Passarinho de três asas
  não é nenhuma bobagem.
  Quem inventar um assim
  é pessoa de coragem.

  Aquele passarinho, que Clara Luz tinha feito com o bule, veio voando e pousou no ombro dela:
  - Sabe de uma coisa? Estou arrependido de ter querido só duas asas. Você não poderia fazer uma mágica e tornar a me pôr a terceira asa?
 - Eu não. Bem feito para você. Perdeu a ocasião de ser o único passarinho de três asas que já existiu.
  - Mas é que, naquele tempo, eu não sabia que isso é formidável.
  - Bom, vou fazer a mágica. Mas depois não se queixe, senão eu torno a transformar você em bule.
  Clara luz fez a mágica e o passarinho, contentíssimo, ficou por ali, esvoaçando. Dessa vez foi a Fada-Mãe quem se levantou e cantou:

  Não há mágica malfeita.
  Quando a filha põe três asas
  e é a mãe que endireita,
  a mãe é que está errada,
  pois só quem fez a invenção
  manda na coisa inventada.

  As fadinhas aplaudiram muito a mãe de Clara Luz. As fadas grandes ficaram na dúvida se batiam palmas ou não.
  - Então eu não posso consertar as mágicas erradas da minha filha, ora essa? - perguntou uma.
  - É claro que não. Mágica não se conserta - respondeu outra.
  E começou a aplaudir a mãe de Clara Luz.
  Aí as outras fadas se decidiram também. Foi uma salva de palmas. A Fada-Mãe, que estava linda com o seu vestido mais brilhante, agradecia sorridente. A Professora de Horizontologia passeava pelo céu, montada no leão dourado. A Fadas das Sete Madrugadas começou a fazer madrugadinhas pequenas, espalhadas pelos recantos do céu.
  As convidadas começaram a sair das arquibancadas para tomar parte na festa. Choviam estrelas cadentes por todos os lados.
  A família Relâmpago cantou:

  Não há nada mais bonito
  que inventar em liberdade
  e só tem a vida alegre
  quem sabe dessa verdade.

  De repente todos os bichos que as fadinhas tinham feito naquela tarde vieram galopando do horizonte.
  As fadas menores deram gritos de alegria. As mães ficaram sem saber o que fazer.
  Os bichos passaram galopando, mas não pararam. Estavam indo para o palácio da Rainha.



Fernanda Lopes de Almeida


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