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A fada que tinha ideias - Capítulo 08 - Visita à Dona Relâmpaga






 

   - Estou com vontade de organizar um teatro aqui no céu. Acham que é boa ideia? - perguntou Clara Luz a Vermelhinha e à Gota, alguns dias depois.
  - Quero ser a  artista principal! - gritou logo  Vermelhinha.
  - Não. Eu é que vou ser -- disse a Gota.
  - Então não entro - respondeu Vermelhinha.
  - Melhor. Não faz falta nenhuma.
  Já ia começar a briga das duas. Mas Clara Luz explicou à Gota:
  - Vai ser um balé só de estrelas cadentes.  Desta vez, você não vai poder entrar.
  Vermelhinha pôs a língua para a Gota:
  - Bem feito - sua amarelenta!
  - Cara de tomate amassado! - respondeu a Gota.
  Clara Luz interrompeu:
  - Você vai me ajudar a organizar a festa - disse ela para a Gota. - Preciso de uma ajudante.
  A Gota ficou louca para ajudar, mas se fez de rogada:
  - Não sei se vou poder. Ando muito ocupada.  Mas conte de uma vez como vai ser esse teatro.
  - Vai ser assim: eu faço uma mágica e todas as  estrelas cadentes vêm correndo para cá. Então eu ensaio o balé com elas. Aí peço a Dona Relâmpaga para vir, com o marido e os filhos, fazer a música.
  - Dona Relâmpaga não sabe música!
  - Não sabe agora, mas vou ensaiar e eles vão acabar sabendo. Todos naquela família tem uma voz muito bonita.
  - Bom, eu ajudo - disse a Gota. - Mas só desta vez. Outra festa que você der, quero ser a artista principal.
  Clara luz prometeu.
  - Então vamos já à casa de Dona Relâmpaga, convidá-la para cantar na festa - propôs a Gota.
  Foram. Dona Relâmpaga morava num lugar muito alto no céu, numa casa preta, cheia de corredores escuros.
  Vermelhinha e Clara Lua, que já eram amigas dela, não tiveram medo nenhum.
  Mas a Gota, quando viu aquele pretume de casa, não quis entrar:
  - Podem ir vocês duas. Eu estou com calor e vou ficar aqui fora, tomando fresco.
  - Há! Há! - riu Vermelhinha. - Você está é com medo.
  - Medo? Lembre-se que eu sou uma gota de chuva e já andei nas maiores tempestades.
  - Que mentira! Nunca vi você em tempestade nenhuma.
  Uma voz trovejou, lá dentro dos corredores:
  - Quem esta aí?
  A Gota quase morreu de susto. Era a voz do Senhor Relâmpago, que falava ainda mais grosso que Dona Relâmpaga.
  - Somos nós, Senhor Relâmpago. Podemos entrar? - perguntou Clara Luz.
  - Oh! As amiguinhas do meu filho! Entrem! Entrem!
  E o Senhor Relâmpago veio abrir a porta.
  Que barulheira fazia aquela porta, para abrir! Era um barulho de mil trovoadas.
  A Gota não estava com vontade nenhuma de entrar, mas entrou só para fazer pirraça a  Vermelhinha.
  Dona Relâmpaga veio lá de dentro, soltando faíscas de alegria:
  - Queridas! Que prazer! Vocês vão jantar conosco!
  Na casa de Dona Relâmpaga só se jantava fogo. Clara Luz sabia disso, de modo que disfarçou:
  Fica para outro dia, Dona Relâmpaga. Hoje não posso. Mamãe está me esperando. Vim só para fazer um convite.
  - Que bom! Adoro convites!
  - É para a senhora e toda a sua família cantarem na minha festa.
  O Senhor Relâmpago soltou uma grossa gargalhada:
  - Minha boa menina, eu não sou cantor, nem nunca fui. Eu só sei berrar.
  - Justamente. Eu tenho observado os seus berros e descobri que o senhor tem uma voz muito bonita.  Então resolvi fazer um teatro com o senhor e a sua família cantando.
  O Senhor Relâmpago quase caiu para trás, de tanto rir. O riso dele era tão forte que fazia a casa toda tremer.
  - Que ideia menina! Eu agora, depois de velho, virar artista de teatro!
  - Por que não, Senhor Relâmpago? E depois, o senhor não está tão velho assim. Acho o senhor ainda bem moço.
  - Minha filha, quando eu era moço descia à Terra e derrubava um carvalho de uma vez só. E ainda voltava a tempo de jantar, com a mulher e as crianças.
  - Pois é. Mas agora chega. Agora o senhor precisa aproveitar a sua bonita voz.
  O Senhor Relâmpaga rebolou-se de rir:
  - Que menina! Quando ela cisma com uma coisa!
  Dona Relâmpaga estava louca para cantar na festa:
  - Aceite, querido! Você precisa se distrair!
  - Até você, mulher? Não tem juízo na cabeça?
  Mas tanto Dona Relâmpaga e Clara Luz insistiram, que ele acabou aceitando:
  - Está bem, está bem, então vou. Mas não se queixem se eu estragar a festa. Já disse que não sei cantar.
  Clara Luz deu pulos de alegria:
  - Muito obrigada, Senhor Relâmpago! Vai ser a festa mais interessante que já houve aqui no céu. Então amanhã de tarde eu volto aqui, para ensaiarmos.
  Dona Relâmpaga foi levar as meninas até o portão:
  - Adeus, queridinhas! Vão direitinho para casa.
  - Que família  simpática! - comentou a Gota. - Hoje descobri que não se deve ter medo de ninguém só pelo barulho.


Fernanda Lopes de Almeida



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