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A fada que tinha ideias - Capítulo 07 - As fadinhas brincam de modelagem






  Estava um pôr de sol muito bonito, com nuvens cor de ouro e cor de fogo boiando no céu.
  Clara Luz e as outras fadinhas brincavam de modelagem com as nuvens. Faziam elefantes, carneirinhos, camelos, pássaros e, às vezes, também, barcos e flores. Mas gostavam mais, mesmo, era de fazer bichos.
  Na terra as pessoas olhavam para o céu e diziam:
  - Olha lá aquela nuvem! Parece uma girafa!
  - E aquela outra parece um elefante!
  Ninguém sabia que eram as fadinhas brincando lá no céu.
  As mães, de vez em quando, vinham até a janela ver o que as meninas estavam fazendo. Viam que estavam brincando com modos e iam de novo para dentro.
  Uma das fadinhas estava modelando um cavalinho cor de foro. De repente veio o vento , bateu no cavalinho e ele saiu galopando pelo céu, com a crina voando.
  Todas bateram palmas de alegria:
  - Também quero que a minha girafa corra!
  - E o meu camelo também!
  Começaram todas a chamar o vento. Mas não adiantou. Ele já tinha ido embora e não ia voltar naquele dia.
  - Sei de uma mágica para fazer todos esses bichos correrem - disse Clara Luz.
  - Conte! Conte como é, Clara Luz!
  - Vocês vão ter que fazer tudo de novo. Não vale fazer de qualquer maneira. Tem que ser assim: vocês vão modelando e vão pensando: "vou fazer a melhor modelagem da minha vida".
  - E depois?
  - Depois acontece a mágica. É só isso.
  - Ah! É fácil.
  E as fadinhas correram para fazer aquela mágica. Foi uma trabalheira. Não era nada fácil como parecia no princípio. Mas de repente todas as fadinhas começaram a dizer para os seus trabalhos:
  - Gosto de você como se fosse meu filho!
  O interessante era que elas gostavam deles assim justamente porque tinham dado tanto trabalho. Parecia até maluquice, mas  não era maluquice, não: era mágica.
  De repente os bichos todos saíram galopando pelo céu.
  E o melhor é que estavam com voz: os cavalos relinchavam, os leões urravam, os pássaros cantavam.
  Ouvindo aquela barulheira, as mães vieram para a  janela, ver o que era:
  - Que horror! Vizinha! Vizinha! O céu virou jardim zoológico!
  - Não diga! Que perigo, meu Deus! E nossas filhas que estão lá fora, no meio das feras!
  Começaram todas a gritar pelas filhas:
  - Venham já para dentro!
  As filhas não queriam entrar:
  - Mas mamãe, logo agora, que a brincadeira está ficando boa!
  - Que boa o que, menina! Quer ser devorada por algum leão?
  - Mas mamãe, fui eu que fiz esse leão. Ele não morde.
  - Morde, sim senhora. Entre já, estou dizendo!
  As fadinhas foram entrando, emburradas:
  - Puxa, não posso fazer nada, que coisa!
  -  Mas minha filha, você não tem medo nem de leão?
  - Eu não, mamãe, Já disse que fui eu que fiz!
  As mães não queriam acreditar:
  - Minha filha disse que fez um leão - contou uma para a outra, na janela.
  - E a minha disse que fez um pássaro, que canta e tudo.
  - Não é possível. Elas ainda nem aprenderam a fazer tapete mágico direito!
  A outra pensou um pouco e depois decidiu:
  - Nossas filhas não sabem fazer leão, pronto.  Está acabado.
  As fadinhas, dentro de suas casas, estavam todas na maior choradeira:
  - Sei fazer leão, sim. Já disse que sei!
  - Não quero aprender a fabricar tapete mágico! Sei fazer coisa que vive e tem voz!
  As  mães tentavam convencer as filhas:
  - Mas querida, tapete mágico é muito útil.  Que diferença faz se tem voz ou não tem voz?
  - Faz muita diferença! Faz uma diferença enorme! - respondiam as fadinhas, soluçando.
  A mãe da que fizera uma girafa não sabia mais o que pensar:
  - Que será que essas meninas tem hoje, meu Deus? - perguntava ela, aflita, para as vizinhas. - Nunca vi ninguém chorar tanto, por causa de uma simples girafa!
  Ouvindo isso, a fadinha chorou mais ainda:
  - Minha girafa não é simples! Ninguém nesta casa entende a minha girafa. Sou muito infeliz!
  E foi se trancar no quarto, para chorar sozinha.
  Que luta para fazer as fadinhas se consolarem! Só depois que anoiteceu, a última filha acabou de chorar.
  As mães  se reuniram de novo na janela.
  - Eu acho que é tudo verdade mesmo -- disse uma delas. Nossas filhas sabem muito mais coisas do que nós pensamos.
  Todas ficaram caladas, refletindo sobre aquilo.
  - No nosso tempo - disse uma - aprendíamos a  fabricar tapete mágico e ficávamos muito contentes com isso.
  - É mesmo -- concordaram as outras.
  Mas uma das mães, que era muito sincera, interrompeu:
  - Eu não ficava nada contente em fabricar tapete mágico.
  Aí todas se lembraram:
  - Eu também não ficava nada contente!
  - Eu detestava tapete mágico!
  - Eu até hoje detesto desencantar princesa!
  - Eu, para falar a verdade, detesto todas as lições do Livro!
  Foi uma gritaria, as mães falavam todas ao mesmo tempo:
  - Eu daria tudo para aprender a fazer um leão,  nem que fosse dos pequenos!
  - Eu quero fazer um papagaio, mas tem que falar de verdade, senão não serve!
  Com o barulho que as mães fizeram, as filhas, que já estavam dormindo, acordaram e vieram ver o que era:
  - Que foi, mamãe? Por que você está gritando tanto?
  - É que eu quero aprender a fazer um leão! Estou louca para aprender a fazer um leão!  E quero que seja cor de ouro!
  Foi a vez das filhas consolarem as mães:
  - Está bem, mamãe. Não precisa se aborrecer. Amanhã eu ensino você a fazer, ouviu?
  - Tem que ser amanhã bem cedinho! - exigiram as mães, batendo o pé.
  - Não sei porque tanta pressa - espantaram-se as filhas.
  - Já perdi muito tempo! Quero que seja assim que o sol raiar!
  As filhas, que estavam com muito sono, prometeram ensinar assim que o sol aparecesse.
  Mas no dia seguinte as mães estavam muito encabuladas:
  - Que mau exemplo nos demos, ontem de noite!
  - É mesmo ! Se a Rainha soubesse que até falamos mal do Livro!
  - É melhor fingirmos que esquecemos toda a história.
  E foram cuidar do seu serviço, como se nada tivesse havido. As filhas compreenderam:
  - Coitada da mamãe. Está com vergonha de ter querido fazer um leão cor de ouro.
  E não falaram mais no assunto.



Fernanda Lopes de Almeida


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