A Flauta do Tatu






A onça vivia falando que seu prato predileto era sopa de tatu. E ainda provocava:
- Você vai virar sopa! Você já é sopa! Você é sopa, tatu!
O tatu amolado inventou uma canção. Mas só cantava escondido na floresta:

“Vou fazer uma flauta com a canela
De uma onça que ainda é banguela.
Quer sopinha porque não tem dente.
É porque não tem dente”. (...)

Os amigos escutaram, contaram para ela... e ela foi ouvir. (...)
- O que é que você anda cantando aí?
- Eu? Eu ando cantando e dançando assim:

“Vou fazer uma flauta com a coxinha
Da peralta da galinha da vizinha.
Galinha não tem dente.
Galinha não tem dente”. (...)

Só que, enquanto cantava e rebolava, o tatu tinha dançado em direção a sua toca. E a essa altura já entrava para dentro do buraco.
A onça saltou, enfiou a pata e por sorte ainda conseguiu agarrar alguma coisa.
Mas o bicho começou a rir.
- Hi, Hi! A onça agarrou uma cobra e está crente que agarrou meu rabo.
A onça, com medo, largou o tatu e tratou de puxar a mão para fora.
O dabnado riu com gosto desta vez:
- Ô sua bobo! Era meu rabo mesmo. Hi! Hi! Hi!
- Pois agora eu não arredo daqui até você sair.
Foi o que a onça resolveu. E não arredou. Ficou assentada na frente do buraco, entra sai ano, sem comer nem beber. Até morrer.
Enquanto isso o tatu esburacou o mundo, saiu e entrou por todos os lugares da terra.
Quando os ossos da onça já estavam limpinhos, brilhantes do sol, voltou e fez a flauta com uma canela.
E até hoje, quando ele toca, os bichos da floresta cantam assim: Ô gente, como era mesmo?

“Vou fazer uma flauta com a canela
De uma onça que ainda é banguela.
Quer sopinha porque não tem dente.
É porque não tem dente”. (...)



Ângela Lago




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