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Alexandre





Era uma vez um menino chamado Alexandre. Ele tinha um problema: quando estava a brincar, todas as crianças que andavam por perto, também queriam brincar com os seus brinquedos. Se o Alexandre estivesse a brincar com um carrinho, lá vinha a Mariana a chorar pelo carrinho. Se o Alexandre se interessava pela bola, a Mariana mudava logo de ideia. Cansava-se do carrinho e dizia que queria… adivinhem o quê?… A bola!
E o problema não era só com a Mariana. Quando o Alexandre lia um livro, o João interessava-se pelas figuras. Bastava que ele pagasse num daqueles brinquedos de montar, para que o Paulo chorasse de inveja. Um dia, o Alexandre estava a brincar no balanço, quando chegou um menino duas vezes maior do que ele.
— Levanta-te daí que eu quero andar de balanço! — disse o rapaz, que não era nada simpático.
Alexandre pensou contar à mãe, mas olhou à volta e não encontrou nem o pai, nem a mãe, nem a tia, nem a avó, nem o avô…
Sendo assim, recorreu à última arma que lhe restava: chorar. Chorou, chorou e chorou, até quase perder o fôlego. Mas adiantou de alguma coisa? O menino, comovido, cedeu o lugar no balanço e até se ofereceu para empurrar?
Qual nada! O menino ficou foi furioso e fez tais caretas, que o Alexandre saiu a correr num pinote.
O Alexandre ficou tão triste, que se sentou sozinho a fazer beicinho para uma margarida do jardim.
Qual não foi a sua surpresa quando, de trás da margarida, saiu um homenzinho verde.
— Olá, homenzinho verde!
Ele estava tão curioso, que até se esqueceu de fazer beicinho…
— Olá — respondeu o homenzinho verde. — Posso saber porque estás a chorar?
— É que tenho um problema muito sério…
— Hum… e que problema é? — perguntou o homenzinho verde.
— É que eu quero brincar…
— Isso não me parece um problema — analisou o homenzinho verde.
— E não é. O problema é que, todas as vezes que eu escolho um brinquedo, aparece outro menino interessado nesse brinquedo.
— Hum… isso é um problema sério — admitiu o homenzinho verde.
— Sabes o que eu queria? Que todas as pessoas desaparecessem para eu poder brincar sozinho com todos os brinquedos. Podes fazer isso?
O homenzinho verde pensou. Coçou o queixo umas tantas vezes, até que respondeu:
— Está bem, pode ser.
No momento seguinte, o Alexandre olhou em volta e não viu mais ninguém. Não ouviu conversas nem o ganido metálico das bicicletas em movimento. Silêncio. Meio desconfiado, aproximou-se dos brinquedos. Sentou-se no balanço e ficou à espera que aparecesse algum menino três vezes maior do que ele, interessado em balançar.
Mas, estranho… não apareceu nenhum menino maior e muito menos menor do que ele. O Alexandre aproveitou. Balançou até enjoar. Depois foi até ao escorregão e nem teve de se pôr na fila.
Para dizer a verdade, ele brincou com todos os brinquedos do parque.
Comeu chocolate e um algodão-doce do tamanho de uma melancia. E nem pagou porque, afinal de contas, não havia ninguém para lhe dar o troco.
Depois. Foi para casa e, como viu ninguém, pôs-se a brincar com tudo o que os pais o tinham proibido de mexer. Só ao fim de algum tempo percebeu que não havia ninguém nem em casa, nem na rua, ou no parque.
O Alexandre, então, pegou num jogo de dominó e tentou brincar. Mas tinha alguma graça, brincar sozinho? Não tinha, não. Isso é uma coisa que toda a gente que já jogou dominó sabe.
Tentou ainda outros brinquedos, mas era muito estranho brincar sozinho. Assim, lançou mão do seu último recurso: chorou, chorou e chorou, até que os seus olhos ficaram vermelhos.
Foi quando voltou a aparecer o homenzinho verde:
— Então? Já estás a chorar outra vez?
— É que não tenho ninguém com que jogar — respondeu o Alexandre.
— Mas é claro! Não querias que todas as pessoas desaparecessem?
— Mas não tem graça nenhuma brincar sozinho. Quer dizer… de vez em quando, tem, mas sempre, não. Podes fazer com que todas as pessoas voltem de novo?
— Sim, acho que pode ser feito — resmungou o homenzinho estalando os dedos.
No instante seguinte, o mundo ficou cheio de sons. O Alexandre podia ouvir os televisores ligados, as conversas, as crianças a brincar…
Sabem o que fez? Pegou no dominó e foi jogar com a Mariana.


Gian Danton
 in: Terra do Nunca, 29. Jan. 2006
Suplemento do Jornal de Notícias
(história adaptada)

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