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O peixinho e o sonho



Gostava do avô, gostava muito. Onde estava um, estava o outro.
Juntos, apostavam corrida, brincavam de esconde-esconde, mas a diversão favorita dos dois era brincar no lixão do rio.
Tico e Vovô Tonico se divertiam tentando adivinhar para que serviam aquelas coisas que as pessoas jogavam no rio.
No brinca-brinca, Tico começou a notar que o lixão era todo colorido. Tinha latas de cerveja vermelhas, tênis amarelos, sacolas azuis e o rio... o rio era cinza, com plantas e pedras escuras. Tico não entendia.
- Vô, por que o mundo dos homens é colorido e o nosso não?
- Como?
- Vô, o lixão é todo colorido, olhe! Agora, no nosso mundo tudo parece uma coisa só.
- É, mas o nosso rio já foi diferente, Tico.
Vovô Tonico contou como era o rio antigamente. Tinhas as águas limpas e as pedras eram coloridas. Falou sobre o dia e a noite, a beleza do sol e a delicadeza da lua. Contou histórias incríveis sobre a dança das nuvens e que os peixes até podiam ser vistos sob as águas transparentes.
Tico se encantou. Como seria bom conhecer um rio assim.
- Vô, ainda existem rios assim?
- Sim. Outro dia mesmo li num jornal, que peguei no lixão, alguma coisa sobre uma tal de reserva... reserva ecológica. Isso mesmo. Lá ainda existem rios e lagos assim.
- Vô, vamos mudar pra lá!
- Como? Eu não sei o caminho e além do mais já estou velho. Não vai dar certo.
Tico ficou triste. Naquela noite, não conseguia dormir. Era como se um montão de formiguinhas estivesse picando suas nadadeiras. De repente saiu em disparada e foi para o lixão.
Pegou uma lata de cerveja, um vidro de geleia, um patim, arames, tubos, molas e mais uma porção de coisas.
Tico juntou tudo, construiu um AQUAMÓVEL e não pensou duas vezes, partiu...


(Regina Siguemoto)

Pipoca, o peixinho encrenqueiro




Era uma vez um peixinho que se chamava Pipoca. Ele tinha esse nome porque aonde ele ia estourava uma confusão. Sabe por que? Ele era muito fofoqueiro. Vivia inventando umas “mentirinhas” a respeito dos outros peixinhos.

No recife, onde ele e os outros peixinhos moravam, era um lugar muito bonito. A água era t
ão limpinha que lá de baixo dava pra ver o céu. Tinha muitos corais, plantinhas e muita comida pra alimentar todos os peixinhos. Era o local preferido da maioria dos peixes.

Pipoca n
ão gostava, ele ficava com raiva e vivia reclamando:

- Esse lugar está muito cheio. N
ão dá nem para nadar. Porque todo mundo tem que vir pra cá?

Splash, um peixinho que passava na hora, ouviu Pipoca reclamar e disse:

- Pipoca, aqui é seguro, n
ão tem pescadores, tem muita comida pra todos, não tem poluição, por isso a maioria dos peixes vive aqui.

Pipoca respondeu:

- Ah n
ão dá, ta muito cheio, procurem outro lugar.

- N
ão Pipoca, como diz o ditado – “os incomodados que se retirem”, o mar é nosso também. Procure você outro lugar para morar.

Pipoca ficou vermelho de raiva e pensou:

È assim né, procurar outro lugar. Eu cheguei aqui primeiro, então esse lugar é meu! Já sei o que vou fazer para esvaziar o recife. Vou inventar umas mentirinhas e logo todos os peixes vão se zangar uns com os outros e vão embora.


E assim ele começou…

Procurou o camar
ão e disse:

- Sabe camar
ão, estou muito triste.

- Por que, disse o camar
ão.

- O baiacu falou que você é muito feio, tem uns bigodes enormes e parece uma pimenta, de t
ão vermelho.

- O camar
ão ficou muito irritado e foi tirar satisfação com o baiacu.

- Pipoca foi correndo até o baiacu para provocá-lo também.

- Sabe Baiacu, estou muito, muito triste.

- Por que Pipoca. O que está acontecendo?

-
É o Camarão.

- O que houve com o Camar
ão, ele é meu amigo.

- Amigo?! Se aquilo é amigo, você n
ão precisa de inimigo.

- Por que está dizendo isso Pipoca?

- Sabe como é, eu n
ão gosto de fofoca, mas não agüento ver uma injustiça.

- Diga logo, Pipoca.

-
È que o Camarão disse que você é espinhudo e quando infla, fica parecendo uma baleia de tão gordo.

- Ah é! Mas o Camar
ão parecia tão meu amigo, falando umas coisas dessas a meu respeito? Vou tirar satisfação com ele.

E foi…

Pipoca ficou rindo… Estou conseguindo.

Quando o Camar
ão e o Baiacu se encontraram foi a maior confusão!

Eles discutiram muito, pois já estavam zangados, e um n
ão deixava o outro falar. Foi a maior briga.

Pipoca ficava de longe, só rindo da confus
ão.

E assim foi… Pipoca foi inventando mentiras sobre os peixinhos do lugar e ia soltando seu veneno. Os peixes, ingênuos, acreditavam no que ele falava, acabavam brigando uns com os outros, brigavam e iam embora para outro lugar.

A confusão foi tão grande que o lugar foi ficando vazio, vazio. Splash tomou um susto, ele estava viajando por outras águas, quando voltou ao recife, ele estava vazio, só Pipoca estava lá.

Ele pensou… o que está acontecendo este lugar é t
ão movimentado, tão alegre, cheio de vida, está tão triste. Aí ele viu Pipoca nadando, nadando, todo alegre.

- Pipoca, onde est
ão os outros peixes? O que aconteceu? Os pescadores descobriram o nosso refúgio?

- Ah, n
ão sei não, os peixes resolveram se mudar pra outro lugar.

- Por que? Disse Splash.

- Ah n
ão sei! Eles arrumaram uma confusão, brigaram e cada um foi prá um lado.

- Porque só você ficou aqui Pipoca?

- Ora, aqui é a minha casa, meu lugar, é aqui que eu devo ficar.

- Por que os peixes brigaram, eram t
ão unidos, tão amigos?

- Umas fofocas que inventaram por aí, e eles acreditaram.

- Fofocas, que fofocas, quem inventou isso? E a seu respeito, ninguém disse nada?

Splash, come
çou a desconfiar de Pipoca.

- A meu respeito, bem, é, quer dizer, hum, eu n
ão sou bobo, não acredito em qualquer coisa.

- Ah é! E sobre aquela estória que você andava reclamando que o recife estava muito cheio?

- Splash, que era um peixinho muito inteligente, come
çou a apertar Pipoca com tantas perguntas, ele sabia que tinha alguma coisa errada.

- Pipoca, que tinha a língua solta, n
ão agüentou e disse:

- Ta bom, eu confesso fui eu que inventei as fofocas. Mas n
ão me arrependo, o recife ficou do jeito que eu queria, bem vazio e sossegado.

- Splash, responde:

- Ah é, ent
ão fique com o recife todo prá você, porque eu também vou para outro lugar, vou procurar os meus amigos, fique aí sozinho, do jeito que você queria.

- Vai mesmo, eu não preciso de ninguém, posso viver aqui sozinho, vai mesmo, tchau!

Só que Pipoca achou que poderia viver sozinho. Sem ninguém para brincar, estudar, conversar. Passava todos os dias ali sozinho, nadando de um lado para o outro. Sem nada para fazer.

- Que coisa chata, eu n
ão tenho ninguém para brincar, não tenho ninguém para conversar, eu estou me sentindo tão sozinho. Buá….Buá…

E come
çou a chorar, ele chorava tão alto que os outros peixinhos ficaram com muita pena dele. Apesar do que Pipoca tinha feito, eles mesmo assim o amavam e resolveram ver o que estava acontecendo.

- Splash, que era tipo um líder, perguntou:

- O que está acontecendo com você Pipoca, por que está chorando?

- Eu me sinto t
ão só , eu não sabia que era tão ruim ficar sozinho, sem ninguém para brincar, conversar.

- Ah ent
ão você não queria o recife todo para você?

- Eu n
ão quero mais, o recife não é só meu, eu quero os meus amigos de volta.

- Ent
ão, peça desculpas a todos e diga que foi você que inventou todas aquelas mentiras.

E assim foi, Pipoca pediu perd
ão a todos e disse que nunca mais faria aquilo, ele tinha aprendido a lição.

Ninguém pode viver sozinho. Todos nós precisamos de alguém. Precisamos da mam
ãe, do papai, dos irmãos, do coleguinha, precisamos dos irmãos da nossa igreja. E principalmente precisamos de JESUS CRISTO. Pois sem ele é muito difícil viver.

https://www.jesusnosama.com.br/criancas/pipoca.htm

O passarinho e o peixinho




Era uma vez um peixinho que queria voar e um passarinho que queria nadar. Um dia se encontraram na beira do lago e ficaram comentando sobre suas vidas.
- "Chuva pra você não é problema, eu tenho que correr para um abrigo e proteger minhas asas dos pingos d´água senão ficam pesadas demais para voar".
- "Quando chove fica tudo embaçado aqui embaixo, não enxergo um palmo além do nariz e quando faz sol você pode voar até os mais altos prédios para ver o mundo lá das nuvens, enquanto eu fico aqui nadando entre os lixos que são jogados na minha casa"
- "Você ainda tem uma casa, e eu que durmo cada dia num galho de árvore! E por falar em lixo, você nem imagina o castigo que é respirar o monóxido de carbono dos automóveis. Aqui fora a vida é muito mais poluída e perigosa"
- "Mas você sempre pode voar para o campo onde o ar é puro, já eu não posso fugir para um rio limpinho. Ser passarinho tem suas vantagens, meu caro amigo"
- "Que nada, no campo sou alvo dos estilingues da molecada, se eu fosse um peixinho bastava dar um mergulho para fugir deles"
- "Os moleques me perseguem com outros truques. Um dia pensei que uma minhoca estava dando sopa mas era um anzol pontudo, consegui fugir mas fiquei com uma baita cicatriz na boca"
- "Certa vez também estava na cola de uma minhoca e fui abocanhado por um gato que me arrancou várias penas e com muito custo consegui escapar"
- "É verdade, isto nós dois temos em comum: gostamos de comer minhocas e os gatos gostam de nos comer, eu daria tudo para poder voar deles como você"
- "E eu daria tudo para poder nadar como você, gatos tem pavor de água"
Neste exato momento o passarinho e o peixinho viram uma minhoca apetitosa passeando tranquila na beiradinha do lago e a conversa deles mudou de enfoque diante de tamanha guloseima.
- "Olha só, porque você não dá um mergulho agora lá no fundo pra eu ficar observando cheio de inveja" sugeriu o passarinho.
- "Só se antes você voar bem alto para que eu poder apreciar seu magnífico vôo daqui" respondeu espertamente o peixinho.
Nesse vai e vem a minhoca foi parar pertinho de um gato malandro que estava ouvindo a converta toda na moita. O susto foi tão grande que o peixinho e o passarinho fugiram da cena num segundo. Moral da história: Minhoca não nada nem voa, em compensação gato não come!


http://mirovigatti.blogspot.com/2008/09/www.html

O pássaro que enganou o gato




Certo dia, um gato muito sabichão caminhava sobre o telhado de uma casa, quando avistou um canarinho assobiando, em um fio da rede elétrica.

“Ei! Belo pássaro cantor, já sabe da novidade?” Disse o bichano olhando para o alto.

“Que novidade?” Perguntou o passarinho, já desconfiado.

“Uma nova lei foi aprovada... Agora todos os bichos terão de ser amigos, não haverá mais rivalidade, nem presas, nem predadores e todos terão que viver em harmonia”.

“Sério?!!” Questionou o canário.

“Sim, e para comemorar, voe até aqui e venha-me dar um abraço, sejamos amigos!”.

“Tudo bem” disse o canário, ” Vou pousar próximo à casinha do Rex, aquele grande pastor alemão ali no quintal e então nos abraçaremos e comemoraremos os três juntos”.
Ouvindo isto, o felino saltou tentando agarrar o pássaro, que voou rapidamente e gargalhou do gato.

“Lei nova... ha, ha, ha, ha!!!

O gato saiu frustrado e resmungando, pois não contava com a astúcia do pequeno pássaro.


Autoria: Wallistein

O pássaro azul que não sabia voar







"Era uma vez um pássaro azul.
Era ainda muito pequeno e nunca tinha saído do ninho onde nascera.
Todos os dias, enquanto o pai ía buscar comida para ele, a mãe fazia-lhe companhia no ninho. Depois, a mãe saía e ele ficava a dormir uma soneca pertinho do pai.

Certo dia, o pai e a mãe disseram-lhe:
- “Está a chegar a altura de vires connosco procurar comida…já estás mais crescido, vais aprender a voar..”

Mas o passarinho azul espreitou para baixo e viu como era alto o ramo da árvore onde estava o ninho e teve medo. E se não conseguisse voar?...O melhor era dizer aos pais que não podia ir. E foi o que fez.

- Mas porque não?- perguntou o pai.
- Ah…é que dói-me um bocadinho a asa…não consigo mexê-la bem…
- Está bem, filho…então esperamos até que estejas melhor

Passaram-se mais uns dias e os pais voltaram a convidá-lo a ir com eles.
Mas o passarinho, que tinha medo mas não queria dizer nada, disse:
- Aaa…tchim…estou tão constipado…aatchiiim…
- Se calhar é melhor ficares no ninho, é mais quentinho – disse a Mãe

Mas os pais já tinham percebido que ele estava com medo e por isso dizia aquelas coisas, para ver se não era obrigado a voar. Então, no dia seguinte, a Mãe saiu e, passado um bocadinho, o pai disse que também tinha que sair.

- Então e eu, fico aqui sozinho, pai? – perguntou o passarinho azul.
- Pois, filho, a não ser que queiras vir comigo. Podíamos fazer uma surpresa à mãe.
- Uma surpresa?...eu gosto muito de surpresas, pai mas…é que eu tenho medo de cair…e se eu não conseguir voar?
- Oh, oh, oh…isso é natural…todos os pássaros têm medo quando voam pela primeira vez…é preciso que tenhas coragem e penses numa coisa que tu gostes muito…depois é só dar um saltinho e começar a bater as asas…se quiseres até podes fechar os olhos…
- Achas pai?
- Claro que sim…e além disso eu vou estar perto de ti e não te deixo cair…acredita…

Então, o passarinho azul encheu-se de coragem…deu uns passinhos em frente…fechou os olhos e pensou numa coisa que gostava mesmo muito. Então deu um saltinho, bateu as asas e, quando voltou a abrir os olhos, estava já a voar com o pai ao seu lado.

- Boa, filho, Parabéns! – disse o pai que estava muito orgulhoso e feliz com o seu filho.

Então voaram em conjunto até ao céu azul como as suas penas. Quando voltaram já a mãe os esperava no ninho e começou a esfregar as asas uma na outra como se estivesse a bater palmas. Também ela tinha ficado muito feliz com a surpresa de ver o seu filhote a voar…"

http://historiasdeimaginar.blogspot.com/2010/04/o-passaro-azul-que-nao-sabia-voar.html

O passarinho engaiolado - Rubem Alves





  Dentro de uma linda gaiola vivia um passarinho. De sua vida o mínimo que se poderia dizer era que era segura e tranqüila, como seguras e tranqüilas são as vidas das pessoas bem casadas e dos funcionários públicos.
Era monótona, é verdade. Mas a monotonia é o preço que se paga pela segurança. Não há muito o que fazer dentro dos limites de uma gaiola, seja ela feita com arames de ferro ou de deveres. Os sonhos aparecem, mas logo morrem, por não haver espaço para baterem suas asas. Só fica um grande buraco na alma, que cada um enche como pode. Assim, restava ao passarinho ficar pulando de um poleiro para outro, comer, beber, dormir e cantar. O seu canto era o aluguel que pagava ao seu dono pelo gozo da segurança da gaiola.
Bem se lembrava do dia em que, enganado pelo alpiste, entrou no alçapão. Alçapões são assim; têm sempre uma coisa apetitosa dentro. Do alçapão para a gaiola o caminho foi curto, através da Ponte dos
Suspiros.
Há aquele famoso poema do Guerra Junqueiro, sobre o melro, o pássaro das risadas de cristal. O velho cura, rancoroso, encontrara seu ninho e prendera os seus filhotes na gaiola. A mãe, desesperada com o destino dos filhos, e incapaz de abrir a portinha de ferro, lhes traz no bico um galho de veneno. Meus filhos, a existência é boa só quando é livre. A liberdade é a lei. Prende-se a asa, mas a alma voa... Ó filhos, voemos pelo azul!... Comei!
É certo que a mãe do passarinho nunca lera o poeta, pois o que ela disse ao seu filho foi: Finalmente minhas orações foram respondidas. Você esta seguro, pelo resto de sua vida. Nada há a temer. Não é preciso se preocupar. Acostuma-se. Cante bonito. Agora posso morrer em paz!
Do seu pequeno espaço ele olhava os outros passarinhos. Os bem-te-vis, atrás dos bichinhos; os sanhaços, entrando mamões adentro; os beija-flores, com seu mágico bater de asas; os urubus, nos seus vôos tranqüilos da fundura do céu; as rolinhas, arrulhando, fazendo amor; as pombas, voando como flechas. Ah! Os prudentes conselhos maternos não o tranqüilizavam. Ele queria ser como os outros pássaros, livres... Ah! Se aquela maldita porta se abrisse.
Pois não é que, para surpresa sua, um dia o seu dono a esqueceu aberta? Ele poderia agora realizar todos os seus sonhos. Estava livre, livre, livre!
Saiu. Voou para o galho mais próximo. Olhou para baixo. Puxa! Como era alto. Sentiu um pouco de tontura. Estava acostumado com o chão da gaiola, bem pertinho. Teve medo de cair. Agachou-se no galho, para ter mais firmeza. Viu uma outra árvore mais distante. Teve vontade de ir até lá. Perguntou-se se suas asas agüentariam. Elas não estavam acostumadas.
O melhor seria não abusar, logo no primeiro dia. Agarrou-se mais firmemente ainda. Neste momento um insetinho passou voando bem na frente do seu bico. Chegara a hora. Esticou o pescoço o mais que pôde, mas o insetinho não era bobo. Sumiu mostrando a língua.
— Ei, você! - era uma passarinha. - Vamos voar juntos até o quintal do vizinho. Há uma linda pimenteira, carregadinha de pimentas vermelhas. Deliciosas. Apenas é preciso prestar atenção no gato, que anda por lá... Só o nome gato lhe deu um arrepio. Disse para a passarinha que não gostava de pimentas. A passarinha procurou outro companheiro. Ele preferiu ficar com fome. Chegou o fim da tarde e, com ele a tristeza do crepúsculo. A noite se aproximava. Onde iria dormir? Lembrou-se do prego amigo, na parede da cozinha, onde a sua gaiola ficava dependurada. Teve saudades dele. Teria de dormir num galho de árvore, sem proteção. Gatos sobem em árvores? Eles enxergam no escuro? E era preciso não esquecer os gambás. E tinha de pensar nos meninos com seus estilingues, no dia seguinte.
Tremeu de medo. Nunca imaginara que a liberdade fosse tão complicada. Somente podem gozar a liberdade aqueles que têm coragem. Ele não tinha. Teve saudades da gaiola. Voltou. Felizmente a porta ainda estava aberta.
Neste momento chegou o dono. Vendo a porta aberta disse:
— Passarinho bobo. Não viu que a porta estava aberta. Deve estar meio cego. Pois passarinho de verdade não fica em gaiola. Gosta mesmo é de voar...