Era uma vez um menino maluquinho
Ele tinha o olho maior que a barriga
tinha fogo no rabo
tinha vento nos pés
umas pernas enormes
(que davam para abraçar o mundo)
e macaquinhos no sótão
(embora nem soubesse o que
significava macaquinhos no sótão).
Ele era um menino impossível!
A melhor coisa do mundo
na casa do menino maluquinho
era quando ele voltava da escola
A pasta e os livros
chegavam sempre primeiro
voando na frente
Um dia no fim de ano
o menino maluquinho
chegou em casa com uma bomba:
"Mamãe, tou aí com uma bomba!"
"Meu neto é um subversivo!"
gritou o avô.
"Ele vai matar o gato!"
gritou a avó.
"Tira esse negócio daí!"
falou - de novo - a babá.
Mas aí o menino explicou:
"A bomba já explodiu, gente.
Lá no colégio."
"Esse menino é maluquinho!"
falou o pai, aliviado."
E foi conferir o boletim
Esse susto não era nada
tinha outros que ele pregava.
Às vezes
sem qualquer ordem
do papai e da mamãe
se trancava lá no quarto
e estudava e estudava
e voltava do colégio
com as provas terminadas
tinha dez no boletim
que não acabava mais
E ele dizia aos pais
cheio de
contentamento:
"Só tem um zerinho aí.
Num tal de
comportamento!"
A pipa que
o menino maluquinho soltava
era a mais maluca de todas
rabeava lá no céu
rodopiava adoidado
caía de ponta cabeça
dava tranco e cabeçada
e sua linha cortava
mais que o afiado cerol.
E a pipa
quem fazia
era mesmo o menininho
pois ele havia aprendido
a amarrar linha e taquara
a colar papel de seda
e fazer com polvilho
o grude para colar
a pipa triangular
como o papai
lhe ensinara
do jeito que havia
aprendido
com o pai
e o pai do pai
do papai.
Era preciso ver
o menino maluquinho
na casa da vovó!
Ele deitava
e rolava
pintava e bordava
e se empanturrava
de bolo e cocada
E ria
com a boca cheia
e dormia
cansado
no colo da vovó
suspirando de
alegria
E a vovó dizia:
"Esse meu neto
é tão maluquinho"
O menino maluquinho
tinha
dez namoradas!
Ele era
um namorado
formidável
que desenhava
corações
nos troncos
das árvores
e fazia versinhos
e fazia canções.
E se escalavrava
nos paralelepípedos
e rasgava os fundilhos
no arame da cerca
e tinha tanto esparadrapo
nas canelas
e nos cotovelos
e tanta bandagem
na volta das férias
que todo ano ganhava
dos colegas
no colégio
o apelido de Múmia
E chorava escondido
se tinha tristezas
O menino maluquinho
tinha lá os seus segredos
e nunca ninguém sabia
os segredos que ele tinha
(pois segredo é justo assim).
Tinha uns mais segredáveis
E outros que eram menos.
O menino maluquinho
jogava futebol.
E toda a turma
ficava esperando
ele chegar
pra começar o jogo.
É que o time
era cheio de craques
e ninguém queria
ficar no gol.
Só o menino maluquinho
que dizia sempre:
"Deixa comigo!"">
E ia rindo pro gol
para o jogo começar.
E o menino maluquinho
voava na bola
e caía de lado
e caía de frente
e caía de pernas pro ar
e caía de bunda no chão
E a torcida ria
e gostava de ver
a alegria daquele goleiro.
E todos diziam:
"Que goleiro maluquinho!"
E aí, o tempo passou.
E, como todo mundo,
o menino maluquinho cresceu.
Cresceu
e virou um cara legal!
Aliás,
virou o cara mais legal
do mundo!
Mas, um cara legal, mesmo!
E foi aí que todo mundo descobriu que ele
não tinha sido um menino maluquinho
ele tinha sido era um menino feliz!
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