O Dono da Bola
Caloca é um amigo legal. Mas nem sempre ele foi assim,não.Antigamente
ele era o menino mais enjoado de toda a rua.E não se chamava Caloca.O nome dele
era Carlos Alberto.
E
sabem por que ele era assim tão enjoado? Eu não tenho certeza , mas acho que
porque ele é o dono da bola.
Caloca
morava na casa mais bonita da nossa rua. Os brinquedos que Caloca tinha , vocês
não podem imaginar. Caloca só não tinha amigos.Porque ele brigava com todo o
mundo.Não deixava ninguém brincar com os brinquedos dele.Mas futebol ele tinha
que jogar com a gente, porque futebol não se pode jogar sozinho.
O
nosso time estava cheio de amigos .O que nós não tínhamos era bola de
futebol.Só bola de meia, mas não é a mesma coisa. Bom mesmo é bola como a de
Caloca.
Mas,
toda a vez que a gente ia jogar bola com Caloca, acontecia à mesma coisa, só o
juiz marcar qualquer falta do Caloca que ele gritava logo:
-Assim
eu não jogo mais ! Dá aqui minha bola!
-Ah,
Caloca, não vá embora, tenha espírito esportivo, jogo é jogo...
-Espírito
esportivo, nada! Berrava Caloca. -E não me chame de Caloca, meu nome é Carlos
Alberto!
E,
assim, Carlos Alberto acabava como todo que era jogo.
Todas
as vezes que o Carlos Alberto fazia isso, ele acabava voltando e dando um
jeitinho de entrar no time de novo. Mas, daquela vez, nós estávamos por aqui
com ele. A primeira vez que ele veio ver os treinos , ninguém ligou.
Um
dia , nós ouvimos dizer que o Carlos Alberto estava jogando no time do “ Faz –
de –Conta”, que é um time lá da rua de cima.Mas foi por pouco tempo.A primeira
vez que ele quis carregar a bola no melhor do jogo, como fazia conosco, se deu
muito mal... O time do “Faz –de –Conta”correu atrás dele e ele só
não apanhou porque se escondeu na casa do Batata.
Aí
o Carlos Alberto resolveu jogar a bola sozinho. A gente passava pela casa dele
e via.Ele batia bola com a parede. Acho que a parede era o único
amigo que ele tinha. Mas eu acho que jogar com a parede não deve ser muito
divertido que depois de três dias , o Carlos Alberto não aguentou mais,
apareceu lá no campinho, mas não houve acerto...
E
Carlos Alberto continuou sozinho. Mas eu acho que ele já não estava aguentando
de estar sempre sozinho.
Na
quarta- feira, mais ou menos no terceiro treino, lá veio ele com a bola debaixo
do braço.
-Oi
,turma, que tal jogar com uma bola de verdade?
Nós
estávamos loucos para jogar com a bola dele. Mas não podíamos dar o braço a
torcer.
-
Olha, Carlos Alberto, você apareça em outra hora. Agora nós precisamos
treinar-disse Catapimba.
-Mas
eu quero dar a bola ao time. De verdade!
Nós
todos estávamos espantados:
-E
você nunca mais pode levar embora?
-
E o que você quer em troca?
-Eu
só quero jogar com vocês...
-Viva
o Carlos Alberto!
-Viva!
Então
o Carlos Alberto gritou:
-Ei,
pessoal, não me chamem de Carlos Alberto! Podem me chamar de Caloca!
(Rocha, Ruth In: Marcelo, Marmelo, Martelo e outras histórias.Rio de
Janeiro: Salamandra,1976)
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