Era uma vez um casal que se chamava
Antonio e Maria. Tinham dois filhos e moravam felizes, numa cidadezinha do
interior. Naquele lugar, todos, ao nascerem, recebiam um saquinho de carinhos.
Cada vez que uma pessoa colocava a mão no saquinho, retirava de lá um carinho
quente. Esses carinhos quentes faziam as pessoas se sentirem aconchegantes e
cheias de amor umas pelas outras.
Todos ali sabiam que quando uma pessoa
não recebia carinhos quentes, corria um sério risco de pegar uma doença, que as
fazia murchar e morrer.
Era muito fácil receber carinhos quentes.
Bastava pedir a alguém.
A pessoa que dava o carinho quente,
colocava a mão na sacolinha, retirava de lá o carinho, que se expandia com uma
luz, que podia ser colocada no ombro, na cabeça, ou no colo de quem estava
recebendo o carinho quente.
Escondida numa caverna, uma bruxa má
estava muito chateada porque naquela cidade ninguém ficava doente, para comprar
os seus ungüentos. Além do mais, os carinhos quentes eram distribuídos a todos,
de graça e, por isso, o acesso era livre. Assim, eram todos felizes.
Então, a bruxa inventou um plano muito
malvado, que faria as pessoas comprarem os seus remédios. Vestiu seu disfarce
e, numa manhã, foi até a casa de Antonio, fingindo ser sua amiga. “Olha,
Antonio, veja os carinhos que Maria está dando aos filhos. Se ela continuar
assim, vai consumir todos os carinhos com as crianças e, com o tempo, não sobrará
nenhum carinho para você.”
Perplexo, Antonio perguntou:”Quer dizer,
então, que não é sempre que existe um carinho quente na sacola?”
“Claro que não”, respondeu a bruxa. “O
mais grave é a notícia que vou lhe dar em primeira mão, porque sou sua amiga:
todos os carinhos quentes estão acabando. Cada pessoa tem que economizar o seu
carinho e só usar quando for numa ocasião muito importante”.
Preocupado, Antonio começou a reparar
cada vez que Maria dava um carinho a alguém ou aos filhos. Começou a se queixar
para ela, alegando que ela dava mais carinho para os filhos e amigos do que
para ele. Aos poucos, Antonio reservou seus carinhos quentes, apenas para
Maria, e em doses homeopáticas. As crianças, percebendo a ausência de carinhos,
começaram, também, a economizar os seus. Dia após dia, todos foram ficando
mesquinhos.
Rapidamente, a história de que os
carinhos quentes iriam acabar, tomou conta da cidade. Todos passaram a guardar
seus carinhos. Assim, aos poucos, as pessoas foram ficando doentes e, cada vez
mais gente ia comprar os remédios da bruxa.
Assustada com o crescimento da clientela,
a bruxa começou a vender carinhos falsos, que imitavam perfeitamente os
carinhos quentes, mas não surtiam os mesmos efeitos. Enganadas, as pessoas não
morreriam, mas continuariam a comprar seus ungüentos e poções. A situação ficou
grave, porque, a cada dia, havia menos carinhos quentes, e esses ficaram
valiosíssimos. As pessoas, então, tentavam de tudo para conseguí-los.
Antes da chegada da bruxa, as pessoas se
juntavam nas calçadas, em grupos de três, cinco, até mais, para darem carinho
umas às outras. Agora, a situação estava tão grave que, se alguém desse um
carinho quente para outra pessoa, logo se sentia culpada.Assim, o comércio da
venda de carinhos quentes falsos começou a crescer. As pessoas, que não
conseguiam encontrar parceiros generosos, que lhes dessem carinhos quentes,
precisavam trabalhar para comprar carinhos falsificados.
Então, naquela cidade, se multiplicaram
as possibilidades de venda de carinhos. Até espinhos frios foram revestidos com
uma cobertura branquinha e estofados, para imitar os carinhos quentes. Ah!
Apareceram, também, os carinhos de plástico, que faziam as pessoas se sentirem
bem, por alguns instantes, mas logo ficavam mal.
Num belo dia, chegou àquela cidade, uma
mulher especial. Ela desconhecia a história do fim dos carinhos quentes e
distribuía carinho a todos e de graça, mesmo a quem não tivesse pedido. As
crianças gostavam muito daquela mulher e passaram a chamá-la de pessoa especial.
Aquela mulher dizia que, quanto mais carinhos as pessoas dessem às outras,
melhor elas se sentiriam. Era como uma recarga de novas energias, em forma de
carinhos quentes. Os adultos, preocupados, fizeram uma lei dizendo ser crime
distribuir carinhos quentes sem uma licença.
Mesmo assim, as crianças daquele lugar,
ainda hoje, teimam em trocar carinho com a pessoa especial.
Retirada do blog:
Proportoseguro.blogspot.com
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