Muito
longe daqui, numa pequena povoação, vivia antigamente um pobre padeiro. Esse
padeiro tinha um filho. Roberto era o seu nome , mas todos o conheciam por
Betinho. Direi que Betinho era um menino esperto, obediente e trabalhador.
Um dia, Betinho, depois de fazer sua tarefa (arrumar a casa e varrer o
quintal), foi dar um passeio por uma grande mata que havia perto de sua
casa.Ora, junto da estrada, havia um velho coqueiro. Notou Betinho que o
coqueiro estava cheio de formigas.
-Que pena -pensou
Betinho - essas formigas são bem capazes de matar esse coqueiro.
E, apanhando dois galhos secos, começou a bater nas formigas e tanto bateu,
tanto bateu, que elas fugiram. Quando Betinho havia acabado de salvar o
coqueiro, livrando-o das formigas, ouviu vozes no meio da mata. Que seria?
Betinho era curioso e resolveu espiar. Foi bem devagarinho, pé ante pé,
escondeu-se atrás de uma árvore e espiou. Era de assustar o mais valente.
Debaixo de uma grande figueira avistou Betinho uma mulher, muito velha, vestida
de preto com uma vassoura na mão. Compreendeu Betinho que a velha do vestido
preto era uma feiticeira. E diante dela estavam três bichos: um macaco, um
porco e um tatu. A feiticeira falava:
Lá, lá, lá,
Vamos começar.
Lá, lá, lá,
Vamos começar!
E, nisso, o macaco apontou para o lugar em que se achava o Betinho:
- Rum! Rum! Rum!
A feiticeira voltou-se e avistou o vulto de Betinho. E gritou furiosa:
- Vamos agarrar aquele menino!
Ao ouvir aquelas palavras, Betinho correu para a estrada e, mais que depressa,
subiu no coqueiro.A feiticeira chegou junto do coqueiro e gritou alto:
Desce coqueiro
que eu quero
pegar o filho do
padeiro!
O coqueiro foi diminuindo, diminuindo, mas quando a velha de preto ia agarrar o
Betinho, ele, tremendo de susto, implorou:
-Sobe coqueiro
que eu te livrei
do formigueiro!
O coqueiro, ao ouvir a voz do menino, cresceu, cresceu, cresceu e levou o
menino lá para cima. A feiticeira gritou:
-Desce
c oqueiro
que eu quero
pegar
o filho do padeiro.
O coqueiro foi diminuindo, diminuindo, até ficar deste tamanhinho. Mas quando a
feiticeira ia agarrar o Betinho, este, assustado gritou:
-Sobe coqueiro
Que eu
te livrei
do formigueiro!
O coqueiro, ao ouvir a voz do seu amigo, cresceu, cresceu, cresceu, ficou tão
alto, que o menino, lá em cima, parecia pequenininho.Vendo a feiticeira que não
conseguia agarrar o menino (pois o coqueiro descia e subia de novo) chamou o
macaco de disse-lhe:
-Vem macaco
Matreiro
sobe no coqueiro
e traz de lá de cima
o filho do padeiro.
O macaco resolveu subir no coqueiro, mas quando chegou no meio do coqueiro este
começou a tremer, a tremer tanto que o macaco caiu, de quatro no chão. A
feiticeira, furiosa, bateu com a vassoura no macaco e o macaco fugiu para o
mato. A feiticeira chamou, então, o tatu:
-Vem tatu
do salseiro
derruba
este coqueiro
e tira lá de cima
o filho do padeiro.
O tatu começou a cavar o chão para derrubar o coqueiro. De repente uma raiz do
coqueiro saiu de dentro da terra, bateu com tanta força no focinho do tatu, que
o tatu rolou tonto pelo chão no meio das pedras e depois, roncando de dor,
fugiu para o mato.Então a feiticeira chamou o porco:
-Vem porco
porqueiro
derruba
este coqueiro
e tira lá de cima
o filho do padeiro.
O porco quis roer o pé do coqueiro, mas o coqueiro tinha a casca tão grossa que
quebrou os dentes do porco. E o porco grunhindo de dor, fugiu para o mato.A
feiticeira, vendo que não conseguia agarrar o menino, começou a atirar pedras e
mais pedras. O coqueiro, porém, balançava de um lado para o outro, de modo que
a feiticeira não acertava no Betinho.
Mas Betinho, com aquele balanço, estava ficando tonto e já estava cansado.
Vendo que o coqueiro era seu amigo, disse baixinho:
-Coqueiro
coqueirinho
meu amiguinho
só de brincadeira
atira um coquinho na feiticeira.
Ora, o coqueiro largou, lá de cima, um côco e acertou bem no cocuruto da
feiticeira. O côco fez: "Pum!". E saltou para cima como uma bola! A
feiticeira soltou um grito e fugiu para o mato e nunca mais apareceu. Aí,
então, o coqueiro foi-se abaixando, abaixando, e Betinho saltou para o
chão.
E desse dia em diante, tornou-se Betinho amigo não só do coqueiro como de todas
as árvores, pois ele sabia bem que as árvores , boas, são úteis e protegem os
meninos.
Fonte: A Arte de Ler e Contar Histórias de Malba Tahan, Editora Conquista, 1961
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