O MATUTO






Eu  já um cabra taludo
De barba e tudo mais
Frouxo que nem um fole
Tinha medo de muié
Que mais parecia um mané
Num parece ser verdade
Mais já quase ficando careca
Nunca tinha usado cueca
Nem prumode ir pra cidade
Só adespois que comecei a namorar Benedita
Comprei uns quinze metros de chita
E mandei a véia Lora
Desmanchar tudim em cirolas
Não prumode arrancar tocos
É que o namorado
As vezes precisa andar armado
E a cueca esconde um pouco
Num Domingo demanhãzinha
Bem cedim
Fui à casa da namorada
Lá no meio do caminho
Tive então que  parar
Prumode passar um telegrama
Corri pra detrás de uma moita de rama
Lá perto do matagal
E pra cueca não se sujar
Tive então que pendurar
Numa gaia de pau
Adespois que terminei o serviço
Novamente me vesti
E por não ser acostumado
Da cueca me esqueci
Amontei no meu jegue apressado
E quando cheguei lá
Benedita e sua mãe Expedita
Me mandaram eu entrar
Aí eu entrei
E por desaforo
Me deram um tamborete de couro
Daqueles do assento de couro
Só que o danado tava furado
Homem que só deu tempo eu me sentar
Pros documentos descer
No buraco do danado
Tô eu lá sentado
Na maior tranqüilidade
Sem tá sabendo de nada
Daqui a pouco ouço a véia dizer
Valei meu são Gonçalo
Arrepare o papo do galo
Pendurado na cadeira
A véia chamou a fia e disse
Corre minha fia
Vai conversar com o rapaz
Que prumode ele se entreter
Que eu vou aqui por detrás
Ver o que posso fazer
Benedita veio
Com umas conversas bonitas
Umas prosas
Uns arrodeios
Patrão!
Fio nessa hora que senti um repuxão tão grande
Que fui na lua e vortei
Benedita me alisava
Me acariciava
E a véia puxava
Despois de muito xodó
Chamego e sofrimento
Eu ouço a véia dizer
Aqui no papo deste galo
Eu não tô vendo nadinha
A não ser dois ovinhos de rolinha
Galo comendo ovo não pode ser
Vou Ter que mostrar pro povo
A véia foi na cozinha
Passou a mão numa peixeira
Aí eu tive que dar um pinote
Pulei por cima dum pote
Saí numa carreira tão danada
Que não olhei nem pra trás
Desse dia pra cá
Nunca mais me esqueci
Do diabo da muié
E de uma coisa não esqueço jamais
Pra sentar numa cadeira
Mesmo as calças tando inteiras
Eu passo a mão atrás.

(Autor desconhecido)

RESPOSTA DA MÃE A FILHA QUE NÃO SABIA DA LUA DE MEL






Fia eu Tõ ti mandano

Esta piquinina iscrita

Pruque a sua cartinha

Vei me dexà munto afrita.


Eu pensava qui você

Tava numa vida linda

Mas nem a lua de mel

Vocês num tivero ainda.


Se deite mais quando ele

Pegar dizer qui li ama

Você pá  Vê Cuma é bom

Drumi cum home na cama.


Fia é bom quando a gente

No home da gente si incosta

Quji dá um gosto mie

Qui os gosto qui a gente gosta.


No dia queu mi casei

O teu pai doido, bebeu

Si é de mi levar pá cama

Quem levou ele foi  eu.


O teu pai pego no sono

E eu fiquei na ispera

Já doidinha pá saber

Lua de mel como era.


Quando teu pai se acordou

Dixe a eu  a casa é sua

E si abufelemo na cama

E fumo caçar a lua.


Cacemo a lua, cacemo

Inté ela aparicê

E aí pacemo três dia

Sem si  alembrar de cume.



Foi três dia cum três noite

Nois dois naquele papé

Pá ninguém vê Cuma era

A nossa lua de me.


Dispois teu pai dixe a eu

Vamos dexá pá dispois

Qui nós num acaba a lua

Nem ela acaba nós dois.


Minha fia acabe logo

Cum  esse medo da muzenga

Qui homi num qué muié

Pá viver só com arenga.


Quando ele ti dé um chero

Lasque dez nele taambem.

Qui assim é que o home sabe

Quando a muié li que bem.


Quando ele chamá pá cama

Voce diga qui já ia

Quele pensa qui você

Pensô no qui ele quiria.


Destá qui ele insina

Cuma é qui a gente faz

E quando tive três fios

VocÊ ê ta doida pur mais.


Se ele quiser dá um beijo

Daqueles beijo da rua,

Faça a vontade dele

Deixe quele faz a sua.


Si ele quiser  um abraço

Agarre ele e si afoite

Qui as vez puruma besteira

Um casal perde uma noite.


Quando ele fô si banhá

Peça pá tu ir cum ele

  ele pensá qui tu

Gosta de ta perto dele.


A lua é dele e é tua

Laigue di sê ismuricida

Qui im três noite de lua

Si faz amor pruma vida.


Quando si passá três noite

Voce cum isposo seu

Você vai si arrependê

Das noite qui já perdeu.


Faça Cuma to dizeno

Druma cum ele sem medo

Qui tu vai chorá cum pena

Pruque num caso mais cedo.


Si ajeite cum seu marido

Pá sê um casal correto

Curta a lua de me

Que cum um ano cumpreto

Eu vô aí na tua casa

Pá abençoá os meus neto.




(Hernandes Pereira)


Observação: A carta matuta para sua mãe está neste endereço:
http://eixodoleitorcrateus.blogspot.com.br/search?q=carta+matuta