A
Cunceição minha véia
A fia do
véio Joaquim
Ela
nunca foi bonita,
Era a feiura sem fim
Mas acho
que só a mamãe
Era tão
boa pra mim.
A
Cunceição era dessas
Da boca
cuma gamela
Cangote
cuma de touro
E os
quadri junto as custela.
Mas se
eu vinha d’uma viagem
E pisava
no terreiro
Na porta
da nossa casa
Era o
que via primêra
Ela
vindo me abraçá
Cum seu
amô verdadeiro
Inté
lavava os meus pés
E
dispois butava chêro.
Passemo
assim muntos anos
Nós
vivia munto bem.
Ela era
munto feia!
Mas eu
era feio tombem!
Fumo
assim inté o capeta
Vim de
lá cum suas paiêta
Pra mexê
nosso xerém.
Um dia
eu fui a uma festa
Na casa
do Zé Romeu
Lá eu vi
uma cabôca
Qui
nunca mais me esqueceu...
Eu oiei
pros zóio dela
Ela oiou
pros zóio meu
Minhas
mão ficaro gelada
Meu
corpo todo tremeu...
Quem
nunca teve paixão
Diga que
nunca sofreu!
Nhô
moço, preste atenção,
Numa
coisa qui eu dei fé
Pode um
home ser valente
Cuma foi
o Josué,
Num tem
medo dôto hoje
Mas tem
medo da muié!
Só dá
dessas dezoiada
Adonde
ela num tive.
Entonce
num é preciso
Dizer o
qui se deu mais,
Num sei
qual o fuxiqueiro
Levado
do Satanás
Que vai
contá as muié
Tudo que
os home faz.
Só sei
que cheguei em casa
Meu
rancho num tava em paz.
A muié,
cuma uma doida,
Falando
em meus procedê
Chorava,
se lastimava,
Falava
inté em morrê
Eu
tombem, arripindido,
Sem tê
nada qui fazê
Só
pruquê num tinha jeito
Pra mode
mim defendê.
Ela
dizia: - Seu cabra!
Eu lhe
trato munto bem
E ocê,
lá pelas festas,
Faz da
sua muié ninguém!...
Vou lhe
dizer uma coisa:
Se ocê
num prometê
Qui num
faz mais u’a desta
Num vivo
mais cum ocê
Vou pra
casa dos meus pais
Nunca
mais você me vê!
Eu
iscuitava essas coisa
E ficava
arrependido
Mas num
podia disfazê
O que já
tinha fazido!
Inté que
eu dixe pra ela:
- Meu
bem, vou lhe prometê
Haja
festa adonde houve
Só vou
se levá você
E se eu
assim num cumpri
Pode aí
tudo fazê
Pode
inté me açoitá
Qui eu
num tenho o que dizê.
Ela cum
essas promessa
Se
tornou mais consolada
Mas num
falou mais cum eu
Sempre
entusiarmada
Butava o
almoço na mesa
E ia
cumê separada
E de
noite, foi drumi
Lá
noutro quarto, apartada!
Agora,
ói, meu senhô,
Cuma foi
meu sofrimento,
Passava
as noite acordado
Sem
madorná um momento
Sintindo
no coração
A dor do
arrependimento.
Qui muié
alpiniosa!
Me butou
nas agonia
Se eu
chegasse na cozinha
Ela pra
sala saía
Se eu
voltava pra sala
Ela ficá
num queria
Eu, já
quage sem juízo
Ia
drumi, num podia,
Cuma qui
dois intrigado
Passemo
assim oito dia!
Agora,
nhô moço, agora
Mim dê
licença qui eu diga
O qui
foi qui eu inventei
O que
foi qui eu pratiquei
Mode
acabar cum a intriga.
Toda
muié neste mundo
Tem medo
de assombração
Sabe o
quê qui eu me lembrei?
Foi de
inventá uma visão.
Garrei
logo a lamparina
E fui botá
lá na cunzinha
Mermo no
pé da parede
E
amarrei cum u’a linha.
Eu cá de
fora puxando
Ela
vinha se arrastando
E cum a
zuada qui fazia
A muié
de lá ouvindo
Mermo
estando drumindo
Ficá só
num arresistia.
Foi
mermo cuma eu pensei,
A
lamparina rolava
Ela
chamava por mim
Eu de cá
me levantava
Agarrava
a lamparina
E no
mermo canto botava.
Assim,
nas duas ou três vez
Ela cum
medo, a tremê,
Já
perguntava: - Neguim!
Eu vou
drumi mais ocê?...
- Num
sinhora! ...Num sinhora!
Eu de cá
arrespondia,
Era
dizendo num venha
Mas só
eu mermo sabia...
Ela
chorava cum medo
A
lamparina tinia,
Eu dava
tanto suspiro
Que inté
sem querê gemia...
Quando o
medo apertou mermo
Ela a
intriga esqueceu
Vei pelo
pé da parede
Sentou
na beira da rede
E passou
a noite mais eu!!!
Autor:
Alberto Porfírio
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