Uma barata atrevida entrou, por uma janela, na
casa muito limpa de uma senhora. Vendo a intrusa andando apressada pela
cozinha, a senhora muniu-se de uma
vassoura e passou a perseguir a barata dando vassouradas a fim de colocar para
fora o asqueroso inseto.
Mas a bichinha, rápida como ela só, conseguiu
escapar e foi se esconder na área de serviço numa saliência da máquina de lavar.
Exausta e sem ver
onde a barata se escondeu, a mulher pendurou a vassoura com o firme propósito
de, no dia seguinte, continuar com a perseguição.
Anoiteceu. A barata continuava lá no seu
esconderijo bem quietinha, porém o seu estômago roncava de tanta fome. O medo a
fazia aguentar. Pensava:
– Seu sair agora a mulher me pega… o melhor é
esperar…
E quando o silêncio se fez na casa, ela foi
saindo devagar, silenciosamente. Caminhou um pouquinho. Olhou ao seu redor. Não
havia ninguém. Avançou mais um pouco e, de repente, ouviu aquele barulho de
cerdas duras raspando o chão: chap, chap, chap.
Olhou assustada e viu que era a vassoura,
pendurada num prego, que fazia movimentos para atingi-la. Sabendo que a
vassoura não podia sair dali sem ajuda, a barata partiu para a cozinha a
procura de comida.
Subiu pelo pé da mesa e chegou até o cesto de
pães coberto com uma toalhinha branca. Infiltrou-se por baixo da toalhinha e
roeu, roeu cada pão com gosto. Era um sabor indescritível.
Satisfeita, ela desceu pelo mesmo lugar que
subiu. Andou, no escuro, pela casa toda deixando o seu cheiro e as fezes, em
forma de bolinhas, por todos os lugares. Voltou para a área de serviço e
parando diante da vassoura disse:
– Sofreste tanto para me expulsar e aqui estou eu de
barriga cheia, enquanto tu, escrava, estás aí pendurada. Nada podes fazer. – e pondo
as patinhas na cintura ela fez caretas para a vassoura cantando:
– nhã, nhã, nhã, nhã…
A vassoura ficou nervosa, rebolava, rebolava,
mas do prego ela não saía.
– Mas que barata atrevida… e eu sem poder
fazer nada…
E antes que amanhecesse e a dona da casa se
levantasse e desse de cara com ela, a barata subiu pela parede da área de
serviço, na direção de uma fresta do vitrô e, antes de sair e ainda rindo da
vassoura, despediu-se:
– Adeus! Espero que a tua dor de cabeça sare
logo… foram tantas as pancadas para me atingir… nhã, nhã, nhã, nhã…
E saiu descendo pela parede exterior do prédio
rumo ao seu ninho num lugar que só ela sabe.
Maria Hilda de Jesus Alão
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