Laurinha era uma menina muito perguntadeira.
Tudo ela queria saber.
Um dia a vovó, cansada de tanto responder
às perguntas de Laurinha, chamou a menina e perguntou:
Laurinha, quer ganhar um presente?
– Oba! Quero sim! E o que é?
– Uma caixa de chocolates recheados
com creme.
“Hum!” Laurinha lambeu os beiços e já
ficou com água na boca:
– E quando é que eu vou ganhar? – perguntou
para a vovó. – Agora?
A vovó balançou a cabeça:
– Não. Só se você souber a resposta
da seguinte pergunta: Qual é a maior boca do mundo?
Laurinha pensou, pensou, mas não achou
a resposta.
Até que teve uma ideia: foi perguntar
para a lagartixa Zelita, que mora no teto do terraço:
– Zelita, por acaso a sua boca é a maior
boca do mundo?
– Ah, Laurinha! – respondeu Zelita.
– Ela é grande, mas não é a maior, não!
Maior é a do sapo, que dá duas da minha!
Laurinha e Zelita foram procurar o sapo:
– Oi, amigo sapo! Será que a sua boca
é a maior boca do mundo?
– Não é não – respondeu o sapo. – Ela
é grande mas nem tanto. Maior que a minha é a do tubarão!
Laurinha, Zelita e o sapo correram para
o mar pra falar com o tubarão.
Levaram um susto enorme, quando ele
apareceu com aquela bocona, saindo debaixo d ́água:
– Oi, seu tubarão! – disse Laurinha.
– É só uma perguntinha: É verdade que sua boca é a maior do mundo?
– Bem... a minha boca é grandona... –
disse o tubarão – mas, a maior do mundo não é, não. Acho bom fazer a pergunta
pro hipopótamo.
Laurinha, Zelita, o sapo e o tubarão
foram correndo procurar o hipopótamo.
O hipopótamo levou um susto grande,
quando viu todo mundo olhando pra ele.
– Não se assuste , seu hipopótamo –
disse Laurinha.
– Nós só queremos fazer uma pergunta:
A sua boca é a maior do mundo?
– Em matéria de boca, eu não posso me
queixar – respondeu o hipopótamo.
– Mas eu acho que, em tamanho, ganha a
do jacaré.
A turma inteira, Laurinha, Zelita, o
sapo, o tubarão e, agora, o hipopótamo, foram procurar o jacaré.
Ele estava na beira do rio, tirando uma
soneca.
– Bom dia, jacaré! – disse Laurinha.
– É verdade que a sua boca é a maior do mundo?
Ele pensou um pouco e respondeu:
– Não, menina, não é não. Lá no mar
mora a baleia, que tem a boca maior que a minha!
De novo saíram todos, mais o jacaré,
correndo em direção ao mar pra procurar a baleia. Assim que chegaram, viram lá
longe o montão de água que ela esguichava pro alto.
– Dona baleia! Dona baleia! – gritou
a menina.
Enquanto isso, o jacaré cochichava pra
Zelita:
– Acho que eu acertei. Nunca vi boca
maior que essa na minha vida!
– Dona baleia, preciso muito saber uma
coisa: será que a sua boca é maior que a do jacaré, que é maior que a do
hipopótamo, que é maior que a do tubarão, que é maior que a do sapo, que é
maior que a da minha amiga Zelita? Será que ela é a maior boca do mundo?
– A minha boca é maior que a de todos
os animais... – respondeu a baleia.
Todos bateram palmas, contentes.
– Ei, esperem! – gritou a baleia.
– Mas não é a maior do mundo, não!
Laurinha já estava cansada, mas mesmo
assim resolveu perguntar:
– E por acaso a senhora sabe quem é
que tem a maior boca do mundo?
– Ah, minha filha! Eu sabia, só que
estou tão velha que esqueci! Mas eu sei de alguém que pode responder: na
esquina de sua rua mora um velhinho que sabe.
E lá se foi um grupo inteiro, assustando
todo mundo na rua, pois quem já viu uma menina andando por aí junto com uma
lagartixa, um sapo, um tubarão, um hipopótamo, um jacaré e uma baleia?
Enfim chegaram à casa do velhinho, que
se chamava seu Jacinto, e Laurinha foi logo dizendo:
– Ai, seu Jacinto, posso fazer uma pergunta
pro senhor?
– Se eu souber responder... – falou o
velhinho arregalando o olho cada vez que entrava mais um bicho na sua casa.
– Seu Jacinto, por favor, o senhor sabe
qual é a maior boca do mundo?
– Mas é claro que sei! – ele falou.
– Sabe? – perguntaram todos ao mesmo
tempo.
– Então nos diga logo!
– A maior boca do mundo – ele falou
bem calmo – não é boca de gente nem de bicho! A maior boca do mundo, que é
maior que a da Zelita, que é maior que a do sapo, que é maior que a do tubarão,
que é maior que a do hipopótamo, que é maior que a do jacaré e que é maior que
a da baleia... é a boca da noite. Ela engole a luz do dia quase todinha,
deixando só uns pinguinhos que são as estrelas.
Muito satisfeitos, eles agradeceram e
cada um voltou pra fazer as coisas que tinha que fazer.
Laurinha correu pra dar a resposta à
vovó.
À tardinha, Zelita foi pro teto do terraço
caçar seus mosquitinhos e Laurinha ficou no muro.
- Sabe, Zelita, quero ver a boca da
noite chegar. E, enquanto esperava, muito feliz da vida, ia comendo seus
gostosos chocolates com creme, presente da vovó.
GÓES, Lúcia Pimentel. A Maior Boca do
Mundo. São Paulo: Ática, 1984
Muito obrigada, por disponibilizar, maravilhosa leitura.
ResponderExcluirA história é muito linda
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