Era uma vez um homem pobre que tinha uma
única filha.
Essa jovem era surpreendentemente sábia;
parecia possuir uma compreensão muito acima do que seria de se esperar na sua
idade e frequentemente dizia coisas que espantavam a seu próprio pai.
Um dia, quando estava sem um centavo,
esse homem foi visitar o czar, para pedir ajuda.
O czar ficou atônito ao ver a forma
refinada com que o homem falava, e perguntou-lhe onde havia aprendido aquelas
frases.
– Com minha filha – respondeu o homem.
– Sim, mas onde a sua filha aprendeu? –
perguntou o czar.
– Deus e nossa pobreza a tornaram sábia
– foi a resposta.
– Aqui está algum dinheiro para as suas
necessidades imediatas – disse o czar, – e trinta ovos, para que você peça à
sua filha, em meu nome, para que os ponha a chocar para mim. Se ela o fizer com
êxito darei a vocês ricos presentes. Caso ela não o consiga, você será
torturado.
O homem voltou para casa e deu os ovos
para sua filha, que os examinou, pesando um ou dois em suas mãos, e assim ela
se deu conta de que eram ovos cozidos. Disse ao pai:
– Pai, espere até amanhã. Talvez eu
descubra o que se pode fazer.
No dia seguinte ela acordou bem cedo e,
tendo pensado uma solução, ferveu algumas sementes. Colocou-as dentro de uma
pequena bolsa e deu-a a seu pai, dizendo:
– Vá com o arado e os bois, pai, e
comece a arar ao lado do caminho por onde o czar passa quando está indo à
igreja.
No momento que o czar puser sua cabeça
para fora da janela da carruagem você deve gritar: ‘Vamos, bravos bois, arem a
terra para que estas sementes cozidas cresçam bastante’!
O pai fez o que sua filha havia dito, e,
conforme a previsão dela, o czar olhou o homem trabalhando pela janela da carruagem.
Quando escutou o que ele gritava, disse:
– Homem estúpido, como você pode esperar
que sementes cozidas produzam algo?
O homem, prevenido pela sua filha,
gritou:
– Da mesma forma como ovos cozidos
produzem pintos!
O czar então seguiu o seu caminho, sabendo
que a jovem havia sido mais esperta do que ele.
Porém as coisas não terminariam assim…
No dia seguinte o czar enviou fio de
linho enrolado e embaraçado à casa do homem. O mensageiro disse:
– Este linho deve ser usado para fazer
velas para o barco do meu senhor, e isto deve ser feito até amanhã. Caso
contrário você será executado.
Chorando o homem entrou em casa, mas sua
filha lhe disse:
– Não tenha medo pai, pensarei em uma
solução.
Na manhã seguinte ela se dirigiu a seu
pai e entregou-lhe um pedaço de madeira, dizendo:
– Diga ao czar que se ele puder fazer
todos os instrumentos necessários para fiar e tecer deste pedaço de madeira, eu
farei o tecido para as velas com este linho.
O homem fez conforme a sua filha havia
indicado, e o czar ficou ainda mais impressionado com a resposta da jovem. No
entanto ele pôs uma pequena taça na mão do homem e disse:
– Vá, leve esta taça para sua filha e
peça-lhe para esvaziar o mar com ela, porque assim poderei aumentar meus
domínios com novas pastagens.
– O homem voltou para casa e deu a taça
à filha, dizendo-lhe que o governante havia pedido novamente algo impossível de
ser feito.
– Vá se deitar – disse ela. – Pensarei
em algo, concentrando minha mente nisto toda a noite.
Ao amanhecer chamou o pai e disse:
– Diga ao czar que se ele puder represar
todos os rios do mundo com este pedaço de estopa, então esvaziarei o mar para
ele.
O pai voltou ao palácio e contou a czar
o que a sua filha dissera.o czar reconhecendo que ela era mais sábia do que
ele, pediu que ela fosse enviada à corte imediatamente. Quando ela se
apresentou, ele lhe perguntou:
– O que é que pode ser ouvido a uma
grande distância?
Sem vacilar, ela respondeu
imediatamente:
– Somente o trovão e a mentira podem ser
ouvidos desde os pontos mais distantes, ó czar.
Antonio, o czar segurou sua própria
barba, e virando-se para os cortesãos lhe perguntou:
– Quanto acham que vale a minha barba?
Todos começaram a calcular o que
pensavam que a barba valia, dando-lhe preços cada vez mais altos para adular
Sua Majestade. Então o czar perguntou à donzela:
– E você, minha criança, quanto você
acha que vale a minha barba?
Os cortesãos aguardavam atentos a
resposta:
– A barba de Vossa Majestade vale três
chuvas de verão.
O czar muito surpreendido, disse:
– Você respondeu corretamente. Eu me
casarei com você e farei de você minha esposa hoje mesmo.
E assim a jovem se tornou a czarina. Mas
assim que as bodas terminaram ela disse ao czar:
– tenho um pedido para fazer. Conceda-me
a graça, escrita com letra de sua própria mão, de que se você ou qualquer um da
sua corte desgostar-se comigo, e eu tiver que partir, me será permitido levar
comigo aquilo de que eu mais gostar.
Enquanto com a bela donzela, o czar
pediu uma pena e um pergaminho e imediatamente escreveu, selando o documento
com seu anel de rubi, tal como ela havia solicitado.
Os anos se passaram com muita felicidade
para ambos. Um dia porém o czar teve uma acalorada discussão com a czarina e,
irritado, ordenou:
– Vá embora! Desejo que deixe este
palácio para nunca mais voltar.
– Então irei embora amanhã – disse a
jovem czarina, obedientemente. – Permita-me somente passar a noite aqui para
preparar meu regresso a casa.
O czar concordou e, antes de deitar-se,
tornou a bebida de ervas que ela sempre preparava para ele. Assim que bebeu o
czar caiu adormecido. A czarina levou-o para à carruagem real, e partiram para
a cabana de seu pai.
Quando amanheceu o czar, que havia
dormido tranquilamente a noite inteira, despertou, olhando desconcertado ao seu
redor.
– Traição! – gritou. – Onde estou e de
quem sou prisioneiro?
– Meu, Vossa Majestade – respondeu a
czarina docemente. – O documento escrito por sua própria mão está aqui.
Lhe mostrou o pergaminho onde ele havia
escrito que se ela tivesse que sair do palácio poderia levar aquilo de que mais
gostasse.
Quando o leu, o czar riu de coração, e
declarou que seu afeto por ela ainda era o mesmo.
Ao que ela respondeu:
– Meu grande amor por você, ó czar, me
fez assim tão audaciosa. Mas, se arrisquei minha vida, isso demonstra o quanto
amo você.
E foi assim como eles se uniram
novamente e viveram felizes para o resto de suas vidas.
Extraído do livro: Histórias da Tradição
Sufi.
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