Quando
Olorum criou o universo, o céu e a terra viviam juntos e em perfeita harmonia:
as gotas de chuva se juntavam às águas das cachoeiras, o vento e a brisa eram
companheiros inseparáveis e propiciavam um belo espetáculo formando mosaicos de
folhas secas e gravetos, os homens compartilhavam a vida e não havia distinção
de credo e cor, pois todos faziam parte de uma única raça: a humana.
Um
dia, a terra achou que havia chegado a hora de ter um filho e deu à luz uma
bela jovem na aldeia Okulo a quem deu o nome de Mahura, que significa moça
trabalhadeira.
Mahura
cresceu depressa e logo desenvolveu suas aptidões: trabalhava incansavelmente e
com muita disciplina. Durante o dia, cuidava dos ciclos da natureza e, quando o
sol se punha, sentava-se ao chão perto de um enorme pilão que usava para
triturar raízes, sementes e cascas que serviriam para fazer a tintura colorida
que tingia a palha e o algodão que vestia a sua tribo. Só que o pilão que
Mahura usava era mágico e, quanto mais usado, mais crescia e, como a jovem era
alimentada pelo trabalho, mais vigor empreendia na sua labuta.
Tanto
o pilão cresceu que começou a machucar o céu que no início gemia baixinho; mas,
não conseguindo suportar as dores causadas pela mão-de-pilão de Mahura, passou
a reclamar.
-
Céu, sobe mais um pouquinho! - pedia a moça.
Com
isso, o céu foi se distanciando, distanciando, se tornando cada vez mais
inacessível até chegar a ponto das nuvens não poderem mais brincar livremente e
as gotas de chuva não conseguirem mais manter o solo úmido e fértil que foi
ficando fraco e pobre. As frutas não mais brotavam nas árvores como flores em
buquê e a tristeza tomou conta de tudo.
Também
Mahura ficou infeliz e resolveu pedir desculpas ao céu que estava tão
inatingível e não ouviu suas lamúrias. Então, a jovem resolveu ofertar um
presente, retirou uma pepita dourada do leito de um rio dando-lhe o nome de Sol
e, de uma caverna escura, retirou uma pedra redonda e reluzente à qual batizou
de lua.
Atirou
os presentes bem para o alto, um de cada lado do céu como um pedido de
desculpas que aceitou as oferendas, mas preferiu ficar lá em cima, pois era
mais seguro.
Assim
contaram, assim lhes contei: se dúvida tiverem do causo aqui narrado, olhem à
noite para o céu. As estrelas que virão brilhando nada mais são do que as
cicatrizes deixadas pelo pilão de Mahura.
Um
Conto da tradição Oral de Moçambique
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