Zeca
entendeu tudo na hora. Deu um grande abraço no
irmão. Trocaram um olhar, e meio que
combinaram tudo, sem dizer nenhuma palavra. Foram detrás do
prédio. Não acharam nenhum lugar de que gostassem. Caminharam um pouco mais e
chegaram num terreno baldio. Pararam perto duma árvore, cavaram a terra com as
pazinhas que tinham trazido. Enterraram o hamster no maior silêncio.
Cobriram
a cova com a terra. Com tristeza, com dor, Zeca fez uma cruz com dois paus de
madeira que encontrou pelo caminho e amarrou com elástico. Com uma caneta
escreveram: “Olhos vermelhos. Dez meses de idade. Saudades de Edu e Zeca.”
Voltaram
para casa chorando. Edu se apoiava em Zeca, que
caminhava devagarinho, sentindo que a ocasião não era pra
nenhuma estanabação. Deu o tempo que o Edu precisava. Não
disse nada, nem ouviu nada. Só silêncio e lágrimas rolando.
Em
casa, Edu se trancou no quarto. Não quis saber de mais nada. Nem de jantar,
muito menos de conversar ou ver tevê. Zeca até emprestou o seu videogame, mas
nem isso animou o Edu. Deitado na cama, olhos fechados, coberto até o
pescoço, porque estava sentindo frio, só pensava na falta que Olhos Vermelhos
ia fazer. Chorou até dormir. Dormiu de cansaço.
Edu
sofria, Zeca chamava o irmão pra ler suas revistinhas, mas Edu nem se
interessava... A mãe insistia pra que ele fosse dar umas voltas, brincar com os
amigos, jogar futebol, apostar corrida, pedalar na bicicleta. Ele só
queria ficar em casa. Pensando.
Resolveu
desenhar num caderno grosso tudo o que lembrava as aprontações e da carinha
marota de Olhos Vermelhos. Ficava horas nisso... Tinha perdido alguém
que adorava! E quem perde alguém tão querido não sai dando voltas
por aí, procurando um jogo de futebol ou tomando sorvete na esquina.
Os pais tinham que entender que perder o melhor amigo era duro. Muito
duro. Talvez mais tarde encontrasse alguma coisa que o consolasse. Agora, por
enquanto, nesse momento, não tinha nada, nadinha! Só um coração vazio.
(ABRAMOVICH,
FANNY.IN: OLHOS VERMELHOS .SÃO PAULO: MODERNA ,1995.)
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